O presidente norte-americano Donald Trump fez ontem (28) seu primeiro discurso ao Congresso desde que assumiu a presidência, há pouco mais de um mês. Ovacionado pelos ocupantes da ala direita da câmara ao entrar, Trump fez uma apresentação de seu trabalho nos últimos 38 dias, pedindo o apoio dos Democratas – além do dos Republicanos, que aplaudiam tão euforicamente cada frase do presidente – para seus projetos.
“É assim que faremos a América grande de novo”
No que se refere às propostas econômicas, Trump seguiu o tom de “trazer empregos de volta aos Estados Unidos”. Nesse sentido, prometeu uma reforma fiscal que reduza os impostos das empresas norte-americanas e da classe média, sinalizando para um aumento nas taxas de importação no país, para fazer frente, principalmente, à China.
O presidente prometeu também promover o investimento (público e privado) de um trilhão de dólares na infraestrutura do país.
“Renovação do espírito americano”
Trump abriu seu discurso lembrando do mês da história negra, comemorado em fevereiro nos Estados Unidos por conta do nascimento de Abraham Lincoln (12) e Frederick Douglass (14), dizendo que ainda há “trabalho que precisa ser feito” no que se refere aos direitos civis.
O mandatário manteve a promessa de construir um “grande muro” na fronteira dos Estados Unidos com o México, mas parece ter recuado em algumas de propostas em relação à imigração, ao dizer que irá propor um sistema similar aos de países como Canadá e Austrália, “baseado no mérito” dos imigrantes e na sua capacidade de se sustentar no país.
Donald Trump pediu também aos legisladores que se unam para revogar o programa de saúde conhecido como “ObamaCare”, originalmente criado para regular os preços dos planos de saúde. “A maneira de tornar o seguro de saúde disponível a todos é diminuir o custo do seguro de saúde, e isso é o que vamos fazer”, disse Trump.
“Estados Unidos pronto novamente para liderar”
Trump prometeu que irá “reconstruir o setor militar”, referindo-se à sua proposta de aumentar o investimento do Departamento de Defesa para 2017 em 54 bilhões de dólares, às custas de outros departamentos.
O presidente norte-americano tratou também da questão do financiamento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), dizendo que o dinheiro outros países que fazem parte da organização “já começou a entrar”. A necessidade de maior financiamento por parte de outros países para a organização havia sido levantada ainda durante as eleições, e foi uma das promessas do então candidato.
Há de se notar, no entanto, três momentos-chave do discurso de Trump, que representam com clareza diamantina a política norte-americana: o primeiro, quando tratou de sua proposta de aumentar o investimento militar do país – foi aclamado por todos, da esquerda à direita, dos Democratas aos Republicanos, com uma longa salva de palmas. O mesmo ocorreu quando Trump declarou que “apoia fortemente à OTAN”, uma aliança “que destronou o fascismo, a Guerra Fria e derrotou o comunismo”.
O presidente não teve tanta sorte, no entanto, ao tratar do Acordo de Associação Transpacífico; teve somente o apoio tímido de parte dos Republicanos ao lembrar que enterrou o acordo.
Estes três momentos devem nos recordar as palavras do presidente cubano Raúl Castro durante o 7º Congresso do Partido Comunista de Cuba. “Há Democratas e Republicanos. É como se em Cuba tivéssemos dois partidos: Fidel dirige um, e eu o outro.” Uma forma simples de explicar qual será o futuro dos Estados Unidos e sua política externa sob Trump.