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Eleições alemãs confirmam novamente o aumento da turbulência política no Ocidente

A crescente fragmentação da política alemã foi observada nos sete partidos que entram no Parlamento alemão recebendo mais de 5% dos votos.
por por John Ross* | Learning from China – Tradução de Gabriel Deslandes
(Foto: Sebastian Derungs / World Economic Forum)

O resultado das eleições alemãs de 24 de setembro foi dramático. Os 33% da União Democrata-Cristã e União Social-Cristã (CDU/CSU) consistiram na sua menor porcentagem de votos desde as primeiras eleições na Alemanha Ocidental, em 1949. O resultado do Partido Social-Democrata Alemão (SPD) foi ainda pior – 20,5%, a menor porcentagem de votos já registrada pelo SPD em qualquer eleição na Alemanha Ocidental ou na Alemanha reunificada. A extrema-direita da Alternativa para a Alemanha (AfD) recebeu 13,5% dos votos – o índice mais alto para um partido de extrema-direita na Alemanha desde a Segunda Guerra Mundial. O partido de esquerda radical Die Linke recebeu 9,2% dos votos.

A crescente fragmentação da política alemã foi observada nos sete partidos que entram no Parlamento alemão recebendo mais de 5% dos votos – complicando a questão de como formar um governo. Porém, o resultado das eleições alemãs também confirma fortemente uma tendência política mais geral – o grande enfraquecimento do “centro” político ocidental, sob o impacto da prolongada estagnação econômica nas economias ocidentais desde a crise financeira internacional.

Crescente turbulência política no Ocidente

Essa crescente instabilidade política nos países ocidentais começou em países em desenvolvimento em 2010 com o surgimento da “Primavera Árabe” e a desestabilização de uma série de países do Oriente Médio. Desde então, porém, espalhou-se para os países ocidentais avançados, sendo as eleições alemãs, portanto, simplesmente a mais recente ilustração dessa tendência:

  • Em 2012, a Frente Nacional da Marine Le Pen alcançou um avanço eleitoral na França que iniciou o surgimento de movimentos “populistas” nos países avançados, dos quais o sucesso do AfD na Alemanha é o último exemplo.
  • Em setembro de 2015, o esquerdista radical Jeremy Corbyn foi eleito líder do Partido Trabalhista do Reino Unido, e, em 2016, derrotou facilmente uma tentativa de substituí-lo. Em junho de 2016, o Reino Unido votou em um referendo pelo Brexit, levando também à renúncia do primeiro-ministro David Cameron. Em junho de 2017, o Partido Conservador perdeu sua maioria no parlamento em uma eleição geral, que registrou um forte aumento na votação para o Partido Trabalhista de Corbyn.
  • Em novembro de 2016, Trump foi eleito presidente dos EUA contra os desejos do establishment de partidos republicanos e democratas. Isso aconteceu em seguida a uma campanha primária dos candidatos presidenciais do Partido Democrata em que Bernie Sanders se tornou o primeiro socialista abertamente proclamado nos EUA a conseguir apoio popular em massa por quase um século. Desde então, as pesquisas de opinião colocaram Sanders como o mais popular político americano[1], com uma visão favorável de 54% dos eleitores e desfavorável de 36% – o único político dos EUA a ter uma classificação de aprovação positiva. Após a posse de Trump como presidente em janeiro de 2017, quase continuamente houve confrontos políticos graves na política dos EUA que tiveram lugar junto a inúmeras investigações do Congresso, tentativas claras de poderosas partes dos meios de comunicação (CNN, New York Times) de remover o presidente e as classificações de aprovação da Trump caindo mais rapidamente do que qualquer outro presidente dos EUA.
  • Em maio de 2017, Macron foi eleito presidente francês contra a oposição dos partidos políticos tradicionais de direita e esquerda, e derrotou por uma ampla margem os partidos franceses tradicionais nas eleições legislativas. No entanto, apenas alguns meses após sua eleição, a popularidade de Macron estava caindo ainda mais rapidamente do que seu predecessor do Partido Socialista, Hollande. No mesmo dia da eleição para o Parlamento alemão, o partido de Macron conquistou apenas 8% dos assentos nas eleições para a Câmara Alta do Parlamento francês.

Portanto, é claro que o resultado das novas eleições alemãs é apenas parte da crescente turbulência política e contínuo enfraquecimento do centro político nos países ocidentais.

A grande estagnação

As razões para esse enfraquecimento do centro político ocidental são claras. O crescimento econômico ocidental agora é realmente mais lento do que após 1929, durante a Grande Depressão, e, mesmo de acordo com as projeções do FMI, um pilar da ortodoxia econômica ocidental, essa tendência continuará[2]. O resultado inevitável é o lento aprofundamento da instabilidade política no Ocidente.

É importante ter uma sensação de proporção precisa. Somente nos países anglo-saxões – nos EUA e no Reino Unido – essa instabilidade política chegou ao ponto em que personagens que se opunham à economia dominante e às elites políticas foram eleitas ou suas políticas acabaram sendo adotadas – Trump nos EUA e Brexit no Reino Unido. Na Europa continental, as forças do “centro”, embora significativamente enfraquecidas pelos adversários da direita e da esquerda, conseguiram manter seu poder até agora. Na França, enquanto Macron esmagou os partidos políticos tradicionais na eleição presidencial, suas políticas pró-UE não se opunham à elite política francesa tradicional. Na Alemanha, enquanto o centro político foi corroído, Merkel permanecerá chanceler. Na Grã-Bretanha, enquanto os conservadores perderam a maioria no Parlamento, e o Partido Trabalhista de Corbyn teve um poderoso aumento de votos, a Theresa May permanece como primeira-ministra de um governo minoritário.

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No entanto, embora haja uma limitada reviravolta econômica ocidental neste ano, não há perspectiva, nem por parte da análise econômica, nem mesmo de acordo com as previsões do FMI[3], de uma grande reviravolta de médio prazo nas economias ocidentais. Portanto, a instabilidade política e a erosão do centro político nos países ocidentais continuarão e se aprofundarão.

Além das implicações para os cidadãos dos países ocidentais, também é claramente um processo de que a China deve estar ciente e levar em consideração em sua política externa. Em períodos anteriores da existência da República Popular da China, durante a fase Mao Tsé-Tung de 1949 a 1978 ou durante o período da reforma inaugurada por Deng Xiaoping de 1978 até a crise financeira internacional de 2008, a China lidou com economias ocidentais que cresciam rapidamente. Portanto, isso se refletiu politicamente no domínio das forças políticas do “centro” no Ocidente. Porém, a “Grande Estagnação” desde a crise financeira internacional, o “novo e medíocre” – parafraseando a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde – significa um enfraquecimento das forças políticas do centro ocidental das quais as eleições alemãs são o último exemplo.

Esta nova situação de crescimento lento nas economias ocidentais desde a crise financeira internacional é acompanhada por mudanças significativas e, até agora, profundas na configuração das forças políticas nos países ocidentais.


* John Ross é “Senior Fellow” do Instituto para Estudos Financeiros Chongyang, da Universidade de Renmin da China. Ele publica suas opiniões no website “Learning from China”. Este artigo representa sua análise pessoal, o que não implica o endosso pelo Instituto Chongyang.

Fonte:

[1] – http://www.learningfromchina.net/blog/poll-shows-a-socialist-is-now-the-most-popular-politician-in-the-united-states

[2] – http://www.learningfromchina.net/china-faces-slower-western-growth-than-in-the-great-depression.html

[3] – http://www.learningfromchina.net/growth-in-the-g7-great-stagnation-will-be-slower-than-in-the-great-depression.html

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