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Privatização do petróleo: a França joga com marketing enquanto explora suas neocolônias

No setor de petróleo, a França, assim como outras nações centrais, jogam com marketing e seguem atuando na exploração das neocolônias

por Roberto Moraes* | Blog do Roberto Moraes
(Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

O hipercapitalismo pelo mundo, em meio aos discursos fragmentados e pós-modernos, segue cartilha muito próxima do período da colonização. Assim, a França quer parecer moderna e preocupada com o meio ambiente. Por isso, no início de julho, o governo francês anunciou que 2040 quer acabar com a venda de carros movido a diesel e gasolina.

No mês passado, a agência Reuters divulgou que a França também planeja acabar com toda a exploração e produção de petróleo em seu território e domínios ultramarinos.

Parece modernidade, mas também cheira a marketing bem ao nível da turma do seu presidente Macron. Porque eliminar produção em terras francesas não quer dizer muita coisa. Ou melhor; não quer dizer quase nada.

A França produz apenas 6 milhões de barris de petróleo por ano. Isso equivale a apenas 1% do seu atual consumo. Há ainda que lembrar que a petroleira Total tem ampliado os investimentos com ativo no Brasil, onde está inscrita para o próximo leilão de áreas da ANP.

A francesa Total é também parceira da Petrobras num total de 15 consórcios de exploração/produção de petróleo no Brasil, incluindo o ativo no megacampo de Libra, no Pré-sal, da Bacia de Santos e em ativos na Nigéria, Golfo do México, etc.

Se não bastasse, entre executivos do setor, é dado como quase certa que a francesa Total será a empresa que ficará com a poderosa BR-Distribuidora, mais uma subsidiária que está entre os vários ativos da Petrobras entregues de forma fatiada ao mercado das players globais. Ao contrário da Petrobras, que desmonta sua estrutura do poço ao posto, a Total é cada vez mais uma empresa integrada e que atua nos diferentes pontos desta forte cadeia produtiva.

Além disso, a Bloomberg informa que a China repete a decisão da França e do Reino Unido e também prepara cronograma para suspender venda de veículos movidos a combustível fóssil e estimular a produção de carros elétricos. O vice-ministro de indústria e informação tecnológica da China, Xin Guobin, porém, não prevê datas. Segundo a autoridade, a China está buscando cumprir o compromisso de limitar as emissões de carbono até 2030.

Da mesma forma que a França, grandes corporações petroleiras chinesas se espalham pelo mundo em projetos de exploração de petróleo, incluindo o Brasil e as parcerias com a Petrobras em vários consórcios, incluindo o campo-gigante de Libra, nas reservas do Pré-sal. Com a redução do porte da Petrobras e a enorme venda de ativos e a abertura da exploração de nossas reservas petrolíferas pela ANP, o Brasil tende a ser um fornecedor primário da commodity para os países centrais, que passam a se dar o luxo de dizer que pretendem abolir sua exploração e produção de carros movidos a carbono, daqui a três décadas.

Desta forma, no setor de petróleo, a França, assim como outras nações centrais, jogam com marketing e seguem atuando na exploração das neocolônias.

Ao contrário do desejo de todos, ainda teremos pela frente de três a quatro décadas em que o petróleo seguirá lubrificando o capitalismo global. O resto é o velho ditado do faça o que eu digo e não o que eu faço.

*58 anos, professor e engenheiro do IFF (ex-CEFET) em Campos dos Goytacazes, RJ. Pesquisador do NEED-IFF.

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