O ex-combatente brasileiro na guerra da Ucrânia, Rafael Lusvarghi, será libertado nas próximas horas em uma troca de prisioneiros entre o Estado ucraniano e as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, após quase um ano preso em Kiev.
Rafael Marques Lusvarghi, de 32 anos, serviu durante quase dois anos como combatente voluntário nas forças rebeldes do leste ucraniano, que lutam contra o governo do país desde a derrubada do presidente Viktor Yanukovich, em 2014.
De acordo com documentos obtidos com exclusividade pela Opera, após seu retorno ao Brasil, Rafael foi contatado pela empresa “Omega Consulting”, em agosto de 2016. A empresa, que tinha entre seus clientes o Diretório Máximo de Inteligência do Ministério da Defesa da Ucrânia, lhe ofereceu um emprego para segurança de um navio que sairia de Odessa, na Ucrânia, com destino a Galle, no Sri-Lanka.
Ainda naquele mês, após trocar algumas mensagens com a companhia, Rafael demonstrou preocupação com a ida à Ucrânia: “Já que estive no exército da República Popular de Donetsk, não teria problemas em aterrisar na Ucrânia? Seria possível embarcar em um porto fora da jurisdição ucraniana?”, questionou Rafael, que depois enviou uma mensagem à empresa sobre a anistia garantida pelos Acordos de Minsk. Ele havia lido os protocolos e, de acordo com fontes próximas do ex-combatente, enviado emails pedindo orientação para o Ministério de Relações Exteriores do Brasil.
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Alguns dias depois a empresa disse ter contatado a Organização de Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que supervisiona o conflito na Ucrânia e que teve participação nos Acordos de Minsk, por meio do escritório da companhia em Londres, e afirmou que a viagem aparentemente não apresentaria riscos a Rafael.
Rafael embarcou para a Turquia no dia 5 de outubro, de onde embarcou novamente até a Ucrânia, chegando no dia seguinte. Na terça-feira (4 de outubro), no entanto, a Procuradoria de Kiev já havia um mandado de prisão preventiva contra ele. Ele foi preso no aeroporto de Boryspil, em Kiev, no dia 6 de outubro de 2016.
Em janeiro deste ano, como noticiamos, Rafael foi julgado em um tribunal ucraniano e condenado a treze anos de prisão por participação em um grupo ou organização terrorista e participação em atividades ilegais em formação armada. Durante seu julgamento, foi publicamente reconhecido que a Omega Consulting trabalhou em nome da inteligência ucraniana para enganar Rafael e levá-lo à Ucrânia, como havíamos noticiado na ocasião de sua prisão, em outubro de 2016.
Em uma carta escrita em maio deste ano, também divulgada com exclusividade pela Revista Opera, Rafael denunciou as torturas que sofreu no país, e acusou as autoridades brasileiras de “não fazerem nada” pela sua libertação e bem-estar. O ex-combatente dizia ainda se sentir “completamente abandonado em um país estranho e hostil”, e que suspeitava “do envolvimento das autoridades brasileiras nesta trama.” Ele ressaltou ainda que sua prisão era completamente ilegal, já que os Acordos de Minsk, firmados entre as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, o governo ucraniano e a Rússia, estabelecem anistia àqueles combatentes que se retirarem voluntariamente do campo de batalha.
Em agosto, a sentença de treze anos contra o ex-combatente foi anulada, e seu caso voltou à primeira instância.