Pesquisar
,

A política econômica do desemprego

Ainda que medidas neoliberais sejam catastróficas para a economia e o emprego, fortalecem a “ordem” e o poder de barganha dos capitalistas.
por POEMA – Política Econômica da Maioria | www.poema.info
(Foto: José Cruz/Agência Brasil) |(Gráfico: POEMA)

Em seu artigo clássico “Aspectos políticos do pleno emprego” (1943)¹, o economista Michal Kalecki esclarece as verdadeiras razões pelas quais os capitalistas se opõem às políticas de pleno emprego.

Os capitalistas em geral são contra as políticas econômicas expansionistas porque isso diminuiria o seu poder enquanto classe, removendo o seu controle sobre o nível de emprego e a função “disciplinar” do desemprego, dando melhores condições de organização política para a classe trabalhadora e maior poder de barganha para arrancar dos capitalistas as suas reivindicações, podendo-se evoluir disso para a tentativa de controle do Estado.

Eis a grandiosa e gritantemente evidente “descoberta” de Marx em relação à “lei do desenvolvimento histórico”, “de que os homens, antes de mais nada, têm primeiro que comer, beber, abrigar-se e vestir-se, antes de poderem se entregar à política”².

Essa oposição se dá mesmo que seja consenso na ciência econômica que os gastos públicos em investimentos e subsídio ao consumo de massas, financiados por dívida pública de baixo custo e/ou taxação dos ricos, possa abolir as recessões e o desemprego, e mesmo que nessas circunstâncias os lucros dos capitalistas produtivos tendam a ser maiores do que nas situações de “livre mercado”.

Só há uma coisa que os capitalistas apreciam mais do que o lucro: a “ordem”, ou seja, a manutenção das condições de possibilidade da exploração capitalista do trabalho. E é claro que não faltam “especialistas econômicos” para defender “teoricamente” políticas econômicas supostamente “saudáveis”.

Esta formulação tem grande poder explicativo em relação à realidade brasileira dos últimos três anos. Os únicos resultados concretos das políticas econômicas liberais (cortes de gastos públicos, choque de preços administrados e juros altos) foram o desmoronamento do PIB, o desabamento da arrecadação, o aumento dos déficits que supostamente seriam reduzidos e a produção de desemprego em massa. Foi um enorme ajuste sim, não nas “contas públicas”, mas na composição e no rendimento médio do mercado de trabalho.

Tudo isso, naturalmente, teve efeito sobre o poder de barganha dos trabalhadores, o que pode ser observado no gráfico. Os trabalhadores se viram mais constrangidos a “trocar” a manutenção do poder de compra dos salários pela precária manutenção dos postos de trabalho, dado o medo do desemprego.

(Gráfico: POEMA)

Referências

1 – https://goo.gl/Gtb2H7
2 Friedrich Engels, Discurso diante do túmulo de Karl Marx, 17 de março de 1883: https://goo.gl/tNPkzq

Continue lendo

O candidato Pablo Marçal gesticula e olha diretamente para a câmera durante debate Folha/UOL. No seu paletó, há um adesivo com seu número: 28.
Marçal deve ir ao segundo turno, e debate na Globo é central para definir quem irá com ele
Um jovem chuta 'santinhos eleitorais' que cobrem as calçadas durante primeiro turno das eleições. Na foto, os santinhos voam, enquanto ao fundo uma caminhonete passa pela rua.
Frei Betto: eleições e a síndrome da gata borralheira
cadeirada datena marcal2
A cadeirada de Datena quebrou o personagem de Marçal

Leia também

sao paulo
Eleições em São Paulo: o xadrez e o carteado
rsz_pablo-marcal
Pablo Marçal: não se deve subestimar o candidato coach
1-CAPA
Dando de comer: como a China venceu a miséria e eleva o padrão de vida dos pobres
rsz_escrita
No papel: o futuro da escrita à mão na educação
bolivia
Bolívia e o golpismo como espetáculo
rsz_1jodi_dean
Jodi Dean: “a Palestina é o cerne da luta contra o imperialismo em todo o mundo”
forcas armadas
As Forças Armadas contra o Brasil negro [parte 1]
PT
O esforço de Lula é inútil: o sonho das classes dominantes é destruir o PT
ratzel_geopolitica
Ratzel e o embrião da geopolítica: os anos iniciais
almir guineto
78 anos de Almir Guineto, rei e herói do pagode popular