Quando escrevi, em julho do ano passado, que “a derrubada do presidente […] não é somente uma possibilidade, mas uma probabilidade tangível, que se concretizaria, sem dúvidas, caso alguma força política se empenhasse para tanto”, alguns me consideraram aventureiro e pueril.
Ontem (29), no oitavo dia de greve de caminhoneiros, o governo Temer recorreu ao Partido dos Trabalhadores para conseguir apoio no sentido de encerrar a crise política, que cada vez mais aperta a corda ao redor de seu pescoço, e para impedir a greve de petroleiros, iniciada nesta quarta-feira (30). Segundo relata a Piauí, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Marun, telefonou aos deputados Paulo Pimenta (PT-RS) e Carlos Zarattini (PT-SP), líder do partido na Câmara, demonstrando preocupação e solicitando esforços para mediar a greve de caminhoneiros, e para impedir a dos petroleiros. Os que viam ingenuidade na minha posição no passado devem ter se surpreendido.
De qualquer maneira, tanto Pimenta quanto Zarattini responderam com uma negativa, dizendo que não teriam razão nem meios para fazê-lo. À noite, segundo informa a Folha, dirigentes do PT se reuniram em São Paulo para discutir o cenário e as propostas do governo. Dentre vários outros, participaram da reunião o presidente da CUT, Vagner Freitas, o ex-ministro Celso Amorim e o ex-presidente do PT José Genoino. Os dois últimos eram os mais preocupados quanto à possibilidade de um golpe militar. O comando tirou uma posição correta: não colaborar com Temer. Por outro lado, decidiram apressar os preparativos para o lançamento da candidatura de Lula, e ajustaram o tom em relação à greve dos petroleiros para a moderação. “A greve dos petroleiros estava marcada com antecedência. Não tem como voltar atrás. Mas está restrita à área de produção. Não haverá corte de abastecimento”, disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).
Enquanto isso, na Câmara dos Deputados, parlamentares do PSDB cercaram o presidente da casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), argumentando que Temer perdeu as condições de governar. Maia disse que é “preciso tomar cuidado” e prometeu tentar “promover uma conversa entre os Poderes.” A matilha era formada por Antonio Imbassahy, Bruno Araújo, Silvio Torres, Lobbe Neto, Luiz Carlos Hauly, Marcus Pestana, Jutahy Junior e o líder do partido na Câmara, Nilson Leitão.
O xadrez da derrubada de Temer, portanto, se desenha. O presidente, à beira do precipício pelas condições impostas por uma semana de greve, foi forçado a dar mais um passo para a morte quando do anúncio da paralisação dos petroleiros. Tentou negociar com quem pudesse, tentou barrar a greve por meio da Justiça, mas segue nas cordas. O PSDB, sabendo disso, abriu o diálogo com o próximo na linha sucessória; Rodrigo Maia. O PT, por sua vez, negou-se a dar espaço para o presidente respirar, mas passou a moderar o tom, por medo da reação dos militares* em meio ao agravamento da crise.
Há ao menos dois anos venho insistindo que a demonstração da fraqueza e medo fazem o inimigo avançar sem restrições. Creio que o impeachment de Dilma Roussef tenha provado-o. Há um ano insisto que a simples demonstração de força pode fazer um governo cair. Creio que os caminhoneiros, na última semana, também o demonstraram. Insisto agora em um novo ponto: quem tomar a iniciativa terá vantagem estratégica sobre seus inimigos. Não é hora de pedir a mudança na política de preços da Petrobras, nem a renúncia de Pedro Parente, é hora de ordenar a saída de Temer abertamente.
*Este é um ponto a ser tratado em um artigo somente, mas é um contrassenso deixar de avançar sua agenda por medo dos militares. Se os militares são uma preocupação, em certa medida já têm poder; se querem tutelar a política brasileira, que o façam abertamente, ao menos, e que dêem a cara a tapa.