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Eleições na Colômbia: América Latina na Encruzilhada

A Colômbia passa a ser governada pelo uribismo. Diferentemente dos anos 90, no entanto, as FARC agora não estão às portas de Bogotá, mas rendida.
por Pedro Marin | Revista Opera
(Foto: Centro Democrático)

Iván Duque é o novo presidente da Colômbia. Com 10,3 milhões de votos, o candidato uribista venceu o candidato de esquerda Gustavo Petro por 12 pontos percentuais.

Petro, o ex-guerrilheiro do M-19 que conquistou 8 milhões de votos, reconheceu a vitória de seu oponente de forma um tanto quanto incomum: “Se Duque governar com os que o ajudaram a ganhar, esse governo já está morto.” Em uma declaração ao seus eleitores, citou nominalmente o ex-presidente Álvaro Uribe: “Ao presidente eleito Duque corresponde uma decisão. Romper com as forças mais anacrônicas da Colômbia, como o senhor Álvaro Uribe e o senhor [Alejandro] Ordóñez […] se mantiver essa coalizão anacrônica, temos de fazer uma notificação democrática e respeitosa: os oito milhões de colombianos não permitirão que a Colômbia volte à guerra.”

Apesar da “notificação” de Petro, o novo presidente colombiano prometeu em seu discurso de vitória revisar o acordo, fazendo “correções” para que “as vítimas sejam o centro do processo e para garantirmos a verdade, a justiça, a reparação e a não repetição.” Duque é pupilo de Álvaro Uribe, que durante seus governos (2002-2010) aplicou uma política de segurança que multiplicou as operações militares no país e representou um duro golpe contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP).

Em uma dessas ironias típicas de nosso continente (ou mais típica ainda da Colômbia, já que se assume aqui um tom realista-mágico), Uribe foi também a ponta de lança contra os acordos de paz que Juan Manuel Santos, antigo Ministro da Defesa durante seu governo, assinou com as FARC. Uribe, um “agitador político dos valores democráticos”, como ele se definiu certa vez, manifestava um discurso um tanto radical para um “agitador democrata” quando das discussões pela paz, acusando os acordos de deixarem impunes os “terroristas das FARC”, “o maior cartel de drogas do mundo” que pretende “transformar a Colômbia na Venezuela.” Em 2017 prometia que, se seu partido tomasse a presidência mais uma vez, os acordos seriam revisados – e ao que tudo indica, Iván Duque honrará a promessa de seu mestre, que por sua vez liderará a maioria uribista no Senado a favor da revisão.

Mas os efeitos da eleição de Duque não serão sentidos somente na Colômbia. Se por um lado os uribistas criticavam duramente Juan Manuel Santos pela “impunidade aos terroristas castro-chavistas”, por outro comemoram a adesão do país à OTAN, formalizada em maio. Assim, inserida na OCDE e na OTAN, a Colômbia passa a ser governada pelo uribismo. Diferentemente dos anos 90, no entanto, as FARC agora não estão às portas de Bogotá, mas completamente desmobilizadas e rendidas. Tudo isso, somado às alterações políticas na região – Macri na Argentina, Temer no Brasil, Piñera no Chile, Moreno no Equador – consolidam o país como “Israel da América Latina”, como bem definiu a jornalista Maria Fernanda Barreto.

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