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Irã: Sanções, ameaças e hostilidades, o imperialismo contra-ataca

O rompimento do Acordo Nuclear de 2015 por parte dos EUA foi a deixa para que o governo Trump retomasse uma série de sanções econômicas contra o Irã.
por Fabiano Post | Revista Opera
(Foto: Örlygur Hnefill)

De um lado uma nação acostumada a impor goela abaixo seus anseios imperialistas em nome de uma falsa liberdade e de uma falsa democracia. Do outro, um país tenaz e milenar, com um longo histórico de lutas, acostumado a não se envergar diante do inimigo.

O rompimento do acordo Nuclear de 2015, o chamado Plano de Ação Integral Conjunto (JCPOA – sigla em inglês – Joint Comprehensive Plan of Action), por parte dos EUA, em 8 de maio desse ano, foi a deixa – proposital, já que a ideia americana é criar um “novo acordo” onde Teerã abdique de quaisquer aspirações nucleares – para que o governo Trump retomasse uma série de sanções econômicas, como o congelamento de ativos iranianos, e ações hostis subsequentes contra o governo persa, “rasgando”, por assim dizer, o pouco que restava do Tratado da Amizade, de 1955.

Essa atitude por parte de Washington fez com que a República Islâmica do Irã entrasse com uma ação contra os Estados Unidos, no dia 16 de julho, na Corte Internacional de Justiça (CIJ) da ONU, em Haia, por “reintrodução unilateral de sanções”.

No último domingo, dia 22 de julho, o presidente iraniano alertou Trump sobre os perigos das ameaças e retaliações de Washington ao Irã. Hassan Rouhani disse para o norte-americano “não brincar com a cauda do Leão”; e em tom carregado afirmou que “os EUA deveriam conhecer a paz com o Irã, que é a mãe de toda a paz; a guerra contra o Irã é a mãe de todas as guerras.” A resposta de Trump (não poderia ser diferente, é claro) veio pelo Twitter: “Nunca ameace os Estados Unidos novamente”.

A troca de farpas é tão somente mais um capítulo no histórico de tensões entre Washington e Teerã, cuja linha temporal se inicia em 1953, com o golpe militar que colocou o Xá Mohammad Reza Pahlavi no poder, após a derrubada do então primeiro ministro Mohammad Mosaddegh, criando uma monarquia autocrática – com apoio norte-americano – derrubada 26 anos depois pela revolução Islâmica de 1979, que endossou o aiatolá Ruhollah Komeini, instaurando uma República Islâmica teocrática. Um duríssimo golpe para os EUA, que perdeu seu maior aliado e ao mesmo tempo ganhou seu maior inimigo na região.

O presidente Rouhani ameaçou bloquear o envio de petróleo pelo golfo pérsico, bloqueando o Estreito de Ormuz, caso sejam interrompidas as compras de petróleo iraniano como ameaçou Washington, que inclusive pressiona seus aliados a fazer o mesmo a partir de novembro. A tentativa de obstrução das exportações do petróleo iraniano pelos EUA fere a resolução 2231 do Conselho de Segurança da ONU, assegurado no acordo Nuclear de 2015.

Hassan afirmou que “os EUA não entendem que nada significa para o petróleo iraniano não ser exportado enquanto o petróleo da região é exportado”.

Em visita à Suíça, na segunda-feira (23), o presidente iraniano disse que “se vocês – norte-americanos – podem, façam-no e vejam o resultado”.

Tais atitudes hostis e unilaterais estadunidenses foram alvos de duras críticas do líder religioso iraniano, o aiatolá Khamenei, que considerou uma declaração de “guerra” a atual política de Trump. a declaração de Khamenei é apoiada pelo comandante da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), Mohammad-Ali Jafari, cujas declarações seguem o entendimento da hostilidade de Washington com Teerã; “faremos o inimigo entender que ou todos podem usar o Estreito de Ormuz ou ninguém.” Na sexta-feira (27), o general foi mais contundente, dizendo que “qualquer agressão ao Irã custaria muito caro”.

Por outro lado a ameaça, iraniana, de bloquear a remessa de petróleo pelo Estreito de Ormuz, para a Europa, desagradaria muito a Rússia e a China, que nesse caso também deixariam o JCPOA e uniriam forças com os Estados Unidos na aprovação de medidas punitivas contra o Irã no Conselho de Segurança.

A resposta americana não tardou, veio através do porta-voz do Comando Central dos EUA (USCENTCOM), Bill Urban, que disse que a Marinha dos EUA “está pronta para garantir a liberdade de navegação e o livre fluxo do comércio, sempre que a lei internacional permitir”.

Aparentemente existem algumas cartas na manga para se evitar a deflagração de um conflito bélico eminete entre as partes, segundo declarou o ex-diplomata iraniano Seyed Hossein Mousavian, em nota divulgada pela Reuters.

Trump, na cúpula da OTAN desse mês, declarou que Teerã “em algum dado momento vai ligar e pedir um acordo, e nós vamos fazer um acordo”.

Seyed acredita que Trump se equivoca, pois, “dificilmente os líderes iranianos aceitem a humilhação – e o golpe do orgulho nacional – de uma rendição completa a suas ameaças e pressões”. A fala do presidente iraniano Hassan Rhouani  sobre “a mãe de todas as guerras” endossa esse quadro, segundo Mousavian.

Uma outra opção apresentada pelo ex-diplomata seria o JCPOA continuar “sem os EUA”; já que o governo iraniano pretende continuar a implementação dos compromissos firmados com os outros signatários do acordo, com a condição de que o governo Trump não force os países remanescentes a seguirem Washington, quebrando o acordo.

Para Mousavian a consequência da “mão pesada” dos EUA é uma maior unidade nacional no Irã, com os diferentes grupos políticos do país deixando de lado as diferenças para formarem um bloco único contra a ameaça estrangeira. Essa unidade poderia beneficiar o país internamente na solução de problemas econômicos crônicos, como disse o presidente Rouhani, tais como corrupção, inflação, desemprego, privatização e contrabando.

Essas reformas livrariam o país de desequilibrios crônicos e da receita do petróleo que torna o Irã tão indefeso contra sanções. Junto com uma revisão do sistema bancário que restauraria a confiança internacional em suas instituições financeiras. Conseguindo uma melhora na economia será mais fácil a permanência do Irã no JCPOA.

Os países signatários remanescentes do acordo, Rússia, China, União Europeia, Reino Unido, França e Alemanha, estariam dispostos a fazerem algumas concessões ao Irã no campo político e de segurança, para compensar as perdas com a saída dos EUA.

O presidente iraniano tem dúvidas sobre o pacote de incentivos europeu para manutenção do acordo. Apesar disso, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Javad Zarif, tem trabalhado para que essa manutenção seja garantida.

“É crucial que essas nações continuem não apenas a manter o JCPO, mas a trabalhar com o Irã para administrar as crises regionais na Síria e no Iêmen – removendo assim a ligação de Trump de sua retirada do acordo nuclear, com o que ele chamou de ‘atividades desestabilizadoras do Irã’ e ‘atividade ameaçadora em todo Oriente Médio’”, disse Seyed Hossein Mousavian.

Mousavian defende que a parceria entre Irã, Europa, Rússia e China são “positivas e construtivas” para resolução diplomática de uma das maiores crises humanitárias do planeta, no Iêmen. Ele acredita que juntos esses países poderão “levar uma proposta de paz para o Conselho de Segurança da ONU”. Na mesma linha de raciocínio ele acredita na criação um plano conjunto de paz costurado pelo Irã, Rússia e Turquia.

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Em suas considerações finais à Reuters, Sayed é categórico dizendo que “o JCPOA é um modelo para resolução de crises através da diplomacia”. Para o ex-diplomata, garantir o acordo nuclear é o primeiro passo; seu fim significaria “matar a esperança de que as negociações possam resolver outras crises regionais”. Para ele o trabalho conjunto entre essas nações tem papel “decisivo  na facilitação da resolução pacífica de crises regionais, na derrota do terrorismo, no estabelecimento de um novo modelo para resolução de conflitos regionais – e talvez preservar o próprio acordo nuclear com o Irã”.

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