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[EDITORIAL] Eleições 2018: O solo em que pisamos e quem pisará em nós

Se no destino houver algum espaço para milagres, que se tente convocá-los alterando a variável. Mas a Revista Opera não confia o destino aos milagres.

O artigo a seguir reproduz a posição oficial da Revista Opera para as eleições de 2018. Foi escrito pelo editor-chefe do veículo, Pedro Marin, sob a edição do comitê editorial, nas figuras de André Ortega e Mariana Nogueira.

Desde o início das movimentações que levaram à derrubada da presidenta Dilma Rousseff fazemos um apelo público neste veículo sobre a insuficiência dos mecanismos institucionais, legais e “normais”. Dedicamos um livro para minuciar, ponto por ponto, os erros que o Partido dos Trabalhadores cometeu sob a égide da confiança nessa normalidade, bem como os acertos dos quais os golpistas podem se orgulhar na empreitada pelo poder. Insistimos, além do mais, que a perspectiva de disputar as eleições de 2018, fosse quem fosse o candidato do campo popular, seria seriamente comprometida. A estratégia acertada era recuar e dedicar-se à obtenção e organização de bases. Essas teses intitulamos “Golpe é Guerra.”

Em resumo, as lições que colhemos foram as seguintes: 1 – A única maneira de impedir o assalto ao poder é respondendo energicamente a esse assalto. Não adianta contar com a “inércia do normal”; a inércia trabalha contra você. A tendência natural daqueles que ocupam cargos nas instituições é não fazer nada, esperando para ver quem será o provável ganhador para apoiá-lo. Quando não se mobiliza contra o golpismo, o provável ganhador é o golpismo; e, com a força dos outrora indecisos, o provável se torna óbvio. 2 – A tendência natural daquele que concede uma vez é a de sempre ser obrigado a conceder mais, até que o que pode ser ofertado se esgote; é precisamente neste momento que haverá a aniquilação. 3 – A partir desse momento, quando a institucionalidade é quebrada, os inimigos operam em outro campo, com outras armas – e é somente neste campo, com essas armas, que se pode recuperar o poder.

O Brasil viveu um golpe.  O golpe rompeu o “pacto-espetáculo” da democracia que as elites cuidadosamente desenvolveram. Em última instância, ficou mais exposto o que é a política em última instância: guerra. No limiar estamos falando da possibilidade de eliminação física. No caso atual, diferente do golpe de 1964, a estrutura de legitimação democrática foi quase que imediatamente reconstituída. O corpo político saiu colando suas partes para continuar andando.

Só que agora se consolidou um novo fator: precisamente a ameaça das armas e exposição dessa natureza conflitiva fundamental. Generais passaram a se pronunciar, milícias voltaram às ruas, a legitimidade dos candidatos passou a ser questionada por gorilas antes mesmo de qualquer eleição. É a carta na manga (ou no coturno, como definimos em uma série de artigos) das elites, e com essa carta estão nos ameaçando continuamente, tutelando o processo político.

A situação concreta é a seguinte: Jair Bolsonaro lidera as pesquisas. Se for eleito, a carta não precisará necessariamente ser usada. Em segundo vem Fernando Haddad, depois Ciro Gomes. Vem a primeira questão: se Haddad ou Ciro forem para o segundo turno, podem vencer Bolsonaro? É possível, e provável. E cá vem a questão fundamental: se forem eleitos, poderão governar? A carta do golpe será jogada na lata de lixo, continuará nas mangas das elites, ou será usada?

Se o destino guarda as duas últimas alternativas, as eleições de 2018 serão no máximo bandeira – bandeira a ser pisoteada pelos gorilas. A primeira opção – da carta ser jogada no lixo – é um delírio. O “nosso” candidato, portanto, não é nenhum dos que se apresentam ao pleito; é o candidato que entende que as oligarquias brasileiras nos concedem abertamente a paz hospitalar das eleições, mas guardam por trás dos panos a guerra. Enquanto sustentam debates públicos entre os candidatos, mantêm em suas costas as pontas odiosas das facas. Nosso “candidato” é aquele que, acima de tudo, entende que somente levando essa via em consideração e tomando-lhes a faca é que se pode conquistar poder e alterar os rumos da Nação.

Mas se o leitor ainda é um sonhador – e quantos sonhos se tornaram esperanças perdidas nos últimos anos; audácias mentais que atrofiaram os corpos – ou mantém o voto como principio (e entre nós existe a posição de que as eleições são politicamente importante, mesmo que menos decisivas do que o sistema quer apresentar) indicamos o voto em Ciro Gomes. Ciro reproduz, um pouco diluído, uma postura mais altiva e combativa de caudilho populista. Ainda que também tenha um pouco do republicanismo liberal, sua postura é menos institucional, mais de bater de frente. Dilma Rousseff foi golpeada, Lula foi preso, e o Partido dos Trabalhadores não soube nem tentou reagir. Haddad, que em meio às chamas de junho em 2013 se manteve ao lado do conspirador Alckmin, criando a partir de sua inação em São Paulo um problema nacional, demonstra ser mais ingênuo que Dilma e Lula. Haverá de conceder por completo para governar – e mesmo assim provavelmente não governará. Se no destino houver algum espaço para milagres, que se tente convocá-los alterando a variável. Mas a Revista Opera não confia o destino aos milagres.

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