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Crônica: Não se faz Brasil sem Povo

Quem realmente ama o País não tenta se esconder em sua grandeza, usando da flâmula para, por detrás, entregar nossas riquezas e massacrar o povo do Brasil.
por Pedro Marin | Revista Opera
(Foto: Gustavo Lima / Câmara dos Deputados)

Meu avô foi um pracinha. Tendo sido um dos 3 mil homens que foram mobilizados para Fernando de Noronha em 1942, não chegou a embarcar para a Itália. Para a história há duas versões: uns dizem que padeceu de uma pneumonia que o impediu de embarcar; outros, que tinha conquistado especial simpatia de um comandante, que forjara a doença nos documentos oficiais para que não acabasse tombando na Itália.

De qualquer maneira, dos preparativos de guerra da década de quarenta, o Sr. André fez um ofício novo, nos anos 2000: de soldado raso virou Comandante do Regimento do Quarto Empoeirado da Avenida Anchieta, Número 913. Ali, em seu quartel, me propunha os exercícios de flexão de braço, abdominais e rastejamento. Me ensinava a dirigir jipes militares – em verdade, uma roda de plástico que na imaginação pueril da criança se tornava o volante do pulsante. E me ensinava, também, a cantar o Hino Nacional e prestar continência.

O Sr. André amava seu País. E, por extensão, amava seu povo – não o desprezava. Amou e desposou Dona Josefa, a migrante nordestina analfabeta que, certa feita, ao receber das mãos de um senhor um “abaixo-assinado” para pedir a remoção de uma favela que pobres começavam a construir nos arredores do bairro de Santana, em São Paulo, respondeu: “Se fosse um abaixo-assinado pra comprar tijolo, eu assinava.” E bateu a porta.

Hoje o sr. Ministro da Educação, Ricardo Veléz Rodríguez, enviou para todas as escolas do País uma carta em que solicitava que os diretores fizessem vídeos dos alunos cantando o Hino Nacional, em frente à bandeira. Ao final, usariam o bordão do governo: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.” Os vídeos seriam usados para a comunicação do governo Bolsonaro.

Do exemplo de meu avô e a avó aprendi a amar o País. Mas se o grande perigo em 1942 se expressava na Itália e na Alemanha, hoje reconheço-o em nosso solo, em banqueiros que lucram demais e na pobreza que aumenta. Acima de tudo, em um governo que faz uma chamada “reforma” da Previdência que puniria André e Josefa, se estivessem vivos, além de professores, e que entrega as riquezas nacionais aos estrangeiros.  O problema não é a bandeira, o hino ou a continência. É usá-los como símbolos para esconder a prática. Quem verdadeiramente ama o País não tenta se esconder em sua grandeza, usando da flâmula para, por detrás dela, entregar as riquezas da Nação e massacrar o povo do Brasil.

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