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Roger Waters e socialistas dizem não às posições de Bernie e Ocasio-Cortez sobre a Venezuela

Enquanto alguns líderes de esquerda descrevem Trump como o “policial mau”, eles mesmos passam a servir como os “bons policiais” do Império.
por Alexander Rubinstein | MintPress News – Tradução de Gabriel Deslandes

Enquanto socialistas se reuniram nos Estados Unidos contra o apoio do governo americano a um golpe de direita na Venezuela, congressistas supostamente socialistas – o senador Bernie Sanders (Vermont) e a representante Alexandria Ocasio-Cortez (Nova York) – fizeram afirmações bastante preocupantes para os críticos ao intervencionismo dos EUA, como Roger Waters e os ativistas nas ruas.

O baixista e compositor do Pink Floyd criticou o bilionário Richard Branson por organizar um concerto beneficente para a oposição venezuelana na vizinha Colômbia, conforme reportou o MintPress News. Agora, Waters, que afirma que “o socialismo é uma coisa boa” e apoiou Sanders em 2015, está se perguntando se o senador americano está “enganando” a todos nós. Sanders acabou de anunciar sua candidatura à presidência para 2020.

A expressão de choque de Waters foi feita em resposta ao tweet do senador, que exigiu que o presidente venezuelano Nicolás Maduro “permitisse a entrada de ajuda humanitária ao país”. Waters não se conteve, questionando se realmente Sanders é “o fantoche perfeito para o 1%”.

O governo venezuelano rejeitou a ajuda dos EUA como pretexto para mais intervenções e uma afronta à soberania de suas fronteiras. Elliott Abrams, que recentemente foi nomeado enviado especial dos EUA para a Venezuela, já esteve envolvido em uma conspiração para mandar US$ 27 milhões em armas disfarçadas de ajuda humanitária para os “contras” nicaraguenses. Enquanto isso, um avião comercial com ligações com a CIA transportou armas para o país, e a agência responsável pela sua entrega, a USAID, tem uma história de tortura de militantes de esquerda na América do Sul.

De forma incisiva, Waters alertou Sanders para não “conspirar” com os arquitetos das políticas golpistas dos EUA: os neoconservadores belicistas Elliott Abrams e John Bolton e o senador Marco Rubio (republicano da Flórida), um campeão da rica onda cor de rosa de direitistas emigrados em Miami.

Ben Becker, um dos organizadores do Partido para o Socialismo e Libertação, estava protestando em Nova York contra o golpe no sábado em que Sanders pediu a Maduro que cumprisse as demandas de Washington. Ele disse à MintPress:

“Houve ações em centenas de cidades em todo o mundo no fim de semana passado, apoiadas por um amplo espectro de organizações progressistas e antiguerra. Assisti a um protesto de muitas centenas em frente ao prédio de Trump em Wall Street, que é um alvo importante, dado o papel das empresas e bancos americanos no estrangulamento da economia da Venezuela. Eles estão salivando, em particular, com os lucros do petróleo que ganhariam com a mudança de regime, um objetivo do qual a administração Trump fala abertamente.”

[button color=”” size=”” type=”square” target=”_blank” link=”http://revistaopera.operamundi.uol.com.br/2019/02/10/venezuela-democracia-ou-ditadura/”]Leia também – Venezuela: Democracia ou Ditadura?[/button]

O conselheiro de política externa de Sanders, Matt Duss, chegou a ir além nos ataques ao governo Maduro, tuitando textualmente uma manchete das páginas da revista The Daily Beast: “Os socialistas devem assumir uma posição sobre a Venezuela: Trump não, Maduro não, guerra não”.

O artigo, escrito pelo jornalista e notório troll dos anti-intervencionistas sírios, Charlie Davis, distanciou-se da mudança de regime ao estilo Trump, liderada por Elliott Abrams, figura associada a “esquadrões da morte”. Porém, enquanto Davis retrata Abrams como o “policial mau”, líderes de esquerda como ele servem como os “bons policiais” do Império. Sim, Trump não “dá a mínima para a democracia”, mas ele também “não está necessariamente errado”, argumenta Davis antes de divagar condenando o suposto autoritarismo de Maduro.

https://twitter.com/OLAASM/status/1025905537337229313

Davis também pintou o governo à deriva do Equador, que colocou Julian Assange em confinamento solitário e emitiu um mandado de prisão contra seu ex-presidente socialista Rafael Correa, como uma “social-democracia”.

Apesar de tudo isso, Duss promoveu ainda mais a citação que Davis deu a seu chefe, tuitando o trecho:

“Nos EUA, essa posição foi repetida pelo senador Bernie Sanders, que divulgou uma declaração enfatizando a oposição a qualquer mudança de regime imposta à Venezuela pelo exterior, ao mesmo tempo em que os venezuelanos deveriam ter a oportunidade de mudar seu regime por conta própria, se for da escolha deles.”

Enquanto o senador Sanders parece apoiar um tipo supostamente “democrático” de mudança de regime na Venezuela, o jornalista Ben Norton, que passou as últimas duas semanas na Venezuela em meio à tentativa de golpe, diz que é a oposição que não é democrática. No Twitter, Norton acusou a oposição venezuelana de abandonar “toda a pretensão de querer a democracia e exigir um golpe e uma guerra”. Ele disse à MintPress:

“A mídia corporativa e o governo norte-americano ecoam tão obedientemente que a Venezuela é uma ‘ditadura’, mas minhas últimas semanas aqui em Caracas mostraram exatamente o contrário: a Venezuela continua sendo um país impressionantemente democrático – apesar da intervenção estrangeira ininterrupta, a sabotagem interna, a violência da oposição e as ameaças de guerra americanas e dos governos aliados dos EUA na América Latina.”

Becker defendeu uma posição semelhante, dizendo à MintPress:

“A oposição tem um ‘presidente’ não eleito que se proclamou assim em um protesto, e agora se exilou na Colômbia para implorar a invasão de governos estrangeiros. Pressionaram todos os candidatos da oposição a não concorrer nas últimas eleições e exigiram que observadores internacionais não comparecessem para acompanhá-las. Enquanto isso, o governo chavista realizou 24 eleições nos últimos 20 anos.”

Becker pontuou ainda sobre o que ele caracterizou como um golpe cínico para provocar a mudança de regime:

“Como tanto a ONU quanto a Cruz Vermelha afirmaram, a ‘ajuda humanitária’ por definição tem que ser apolítica, neutra e solicitada pelo país receptor. Isso não foi ajuda humanitária – foi um truque projetado para fornecer as imagens para a intervenção. A Venezuela aceitou nesta semana dez vezes mais ajuda humanitária de verdade da Rússia, Cuba, China e da Organização Pan-Americana da Saúde. A posição do governo Maduro quanto a isso é completamente lógica: não aceitará a falsa ‘ajuda’ dos países que estão simultaneamente roubando os bens do governo, sancionando suas indústrias e confiscando suas contas bancárias – o que dificulta a importação de alimentos e remédios.”

Ele acrescentou que Sanders recebeu a reação de colegas democratas apenas por ter se recusado a reconhecer Juan Guaidó como presidente da Venezuela.

“A tática de Sanders há anos tem sido correr para a direita em questões de política externa, de modo a proteger seu programa interno de estilo New Deal. Ele sempre se distanciou de projetos socialistas reais que foram atacados e demonizados pelo Império americano para garantir à mídia corporativa que sua visão está mais próxima da Dinamarca ou da Suécia. Agora que Sanders é o principal alvo da retórica antissocialista de Trump e que ele é um potencial favorito para a nomeação do Partido Democrata, espero que vejamos mais posicionamentos dele.”

A millennial anti-Maduro

Durante uma transmissão ao vivo no Instagram, a deputada Alexandria Ocasio-Cortez atacou o governo de Maduro. “O que as pessoas não entendem é que isso é realmente uma questão de autoritarismo versus democracia de muitas maneiras diferentes”, disse ela. “Essa é realmente uma questão de fracasso da democracia.”

Como os vídeos do Instagram Live são excluídos automaticamente após 24 horas, o clipe no qual Cortez falou sobre a Venezuela foi revelado por uma conta de direita que a atacou por transmitir uma Live enquanto dava “aulas de culinária, dicas de namoro e até conselhos de design de interiores”.

Cortez disse que queria “empoderar e centralizar o povo da Venezuela e a vontade do público”.

“O que eu acredito, acima de tudo, é em uma verdadeira democracia; é a democracia como uma forma de governo; democracia no local de trabalho; democracia na nossa economia”, afirmou Cortez. Porém, foi exatamente isso que Norton viu lá, já que “viajou pelos barrios entrevistando venezuelanos comuns da classe trabalhadora”. Ele diz que ficou “impressionado com o espírito democrático e revolucionário que ainda permeia a comunidade, apesar das dificuldades econômicas que realmente existem, em grande parte causada por anos de sanções incapacitantes impostas pelos EUA, guerra econômica e um embargo de facto, junto à bem documentada especulação e acumulação promovida por capitalistas dentro do país”.

“O movimento chavista encorajou a democracia em muitos níveis, desde comunidades prósperas e conselhos locais a organizações feministas e os Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAP), programa alimentar comunitário”, acrescentou Norton.

“Em vez de aceitar toda a propaganda contra a Venezuela”, argumenta Becker, “as pessoas que se consideram socialistas democráticas deveriam realmente estudá-la por si mesmas”. Ele continuou:

“Os socialistas da Venezuela realizaram e venceram muitas eleições e usaram o processo eleitoral para realizar grandes redistribuições de riqueza em favor dos pobres e da classe trabalhadora, com missões de moradia, saúde e educação. Contudo, isso provocou uma enorme reação da oligarquia e dos maiores poderes financeiros e corporativos do mundo. A ‘classe bilionária’ não desiste do poder sem uma luta e tem muitas ferramentas à sua disposição – isso é verdade na Venezuela e nos Estados Unidos.”

Os tweets iniciais de sua colega Ilhan Omar foram muito mais claros, baseados em uma posição de princípios antiguerras e até mesmo apresentando o contexto acerca das raízes da crise econômica da Venezuela. Em contrapartida, Ocasio-Cortez segue a mesma estratégia que o senador Sanders, que acredita falsamente que você pode avançar em uma agenda progressista (e sua própria carreira) em casa dizendo o mínimo possível sobre política externa e condescendendo com a retórica do anticomunismo.

Há certas coisas que a classe dominante americana pode tolerar em termos de política interna, mas, na questão básica do Império dos EUA, todos se unem quando é hora de atacar. A mídia empresarial garante que ninguém saia da linha ou você é expulso como um pária.”

Importante, Cortez também bateu em Elliott Abrams pela esquerda, dizendo que ele “se declarou culpado de crimes” relacionados ao escândalo Irã-Contra. Ela acrescentou que Abrams é um “criminoso legítimo”, confessando-se culpado.

Embora não haja dúvida de que Abrams e os outros gângsteres, que dirigem projetos americanos de mudança do regime desde a Guerra Fria até hoje, não são inocentes, Cortez repetiu o tropear dos falcões criminosos: há pessoas que são “criminosos legítimos”, desde que se declarem culpados.

“Reportar a partir das bases na Venezuela me esclareceu o quanto meu país é autoritário: os EUA, a maior nação carcerária do mundo, poderiam aprender uma lição sobre a democracia dos venezuelanos”, disse Norton ao MintPress News.

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