Pesquisar
,

Terra, mar e ar: As linhas de defesa venezuelana em números

A Venezuela adquiriu até o final de 2017 da Rússia, sua aliada, cifras na casa de 3.9 bilhões de dólares em tecnologia militar.

por Fabiano Post | Revista Opera
(Foto: Xavier Granja Cedeño / Cancilleria Ecuador)

Segundo o último relatório anual do índice Global de Poderio Militar de 2018, do portal especializado Global Firepower, a Venezuela está  46º lugar em capacidade militar, em uma lista de 136 países.

Estados Unidos, Russia e China, aparecem respectivamente em 1º, 2º e 3º lugares. A título de curiosidade, o Brasil aparece em 14º lugar.

A Venezuela atualmente é alvo de uma espiral ascendente de ameaças de um enfrentamento belicoso orquestrado pelos EUA, que incita seus “aliados e capachos” a abraçar a sua nefasta cruzada sanguinária, embarcando em sua empreitada “humanitária” letal.

Ao que tudo indica, a Venezuela está bem equipada militarmente. Você pode questionar: como um país que é ranqueado na 46ª posição pode fazer frente a uma potência bélica que ostenta o primeiro lugar absoluto no quesito gastos orçamentários com armamento no planeta?

A resposta é a simples: a inferioridade bélica-numérica venezuelana é compensada de certa forma pela altíssima qualidade dos equipamentos militares comprados nos últimos anos. A Venezuela adquiriu até o final de 2017 da Rússia, sua aliada, e uma das principais fontes de aquisição de tecnologia militar, cifras na casa de 3.9 bilhões de dólares, segundo dados do instituto sueco SIPRI de Estudo Estratégicos.

Uma das maiores preocupações de Washington e do Pentágono são as divisões de mísseis antiaéreos S300, de fabricação russa, que apesar de não serem a última geração S400, têm potência e “competência” suficientes, por exemplo, para fazer tombar praticamente todos os eficientes mísseis tomahawk norte-americanos que por ventura tentarem cruzar o seu raio de ação. Além dos S300, os venezuelanos contam com um outro eficaz sistema russo, também antiaéreo, chamado Buk, armado com mísseis terra-ar, capaz de interceptar e destruir linhas de mísseis de cruzeiro, bombas inteligentes, aeronaves tripuladas ou não. Seria um grande perigo para a força aérea norte-americana. Isso é uma pequena parte do potencial bélico adquirido por Caracas nos últimos 20 anos.

A Global Firepower leva em consideração mais de 55 fatores para elaborar seu ranking, entre eles, gastos com defesa, poder das forças aéreas e marítima, volume de produção de recursos naturais e características logísticas dos países ranqueados, como aeroportos e portos ativos, extensão de vias terrestres e recursos humanos, etc.

Fatores como potencial nuclear, e o caráter político e militar da liderança dos países ranqueados não são levados em consideração pelo portal.

Em uma nota final o GFP explica que os números levantados são baseados em dados disponíveis. Os dados apresentados podem não ser exatos, devido a relatórios limitados e falta de transparência de um nação. Em alguns casos as estimativas presentes podem utilizar dados de anos anteriores.

Vamos aos números de até 2018, segundo a GPF, das linhas de defesa de Maduro. Os números abaixo não contemplam todos os quadros da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB), como a Guarda Nacional e a Milícia Nacional Bolivariana, criada em 2005, que conta, hoje, com um poder de mobilização de aproximadamente 2 milhões de “combatentes” – civis com treinamento militar. Que podem vir a se tornar uma grande dor de cabeça – durante e depois – em uma possível guerra de uma potência invasora – como demonstra artigo de Euclides Vasconcelos.

As Forças Armadas da Venezuela – Armada Nacional, Aviação Militar e Exército Nacional – contam com um contigente total de 123 mil homens e mulheres, dos quais 115 mil estão em atividade e 8 mil são reservistas.

O Exército Nacional tem em sua força terrestre, entre veículos militares e artilharia, aproximadamente 696 tanques de combate; 700 veículos de combate blindados; 47 veículos de artilharia autopropulsada, entre eles o poderoso 2S19 MSTA-S russo de 42 toneladas, com seu canhão de 152 mm; 104 de artilharia rebocada; e 52 lançadores de foguetes. Estrategicamente alocados, podem se tornar um “paredão” fronteiriço quase intransponível.

A Armada Nacional venezuelana tem a sua disposição um total de 50 ativos navais. O valor “Total de Ativos Navais” inclui todas as embarcações possíveis disponíveis, incluindo auxiliares, que não são exibidas individualmente abaixo. São 3 fragatas; 4 corvetas; em seu arsenal subaquático, 2 submarinos tipo U-209/1300, de fabricação alemã; e 10 navios de patrulha. A partir dos anos 2000 a Armada iniciou um processo de modernização e investimentos pesado nos estaleiros nacionais – DIANCA.

A Aviação Militar conta com 280 aviões. Trinta e nove aeronaves de caça; o mesmo número de aeronaves de ataque – entre esses os espetaculares Sukhois russos, aproximadamente 30 a 40 aeronaves do tipo; 138 aeronaves de transporte; 98 aeronaves de treinamento; 104 helicópteros totais, 10 de ataque, dentre os quais, o Mil Mi-28, também de fabricação russa, um dos mais eficientes da categoria, concorrente direto do Apache norte-americano.

Os generais venezuelanos e suas respectivas divisões nas forças armadas já chancelaram seu apoio à nação e ao presidente e comandante em chefe da Força Armada Nacional Bolivariana, Nicolás Maduro Moros, contra as ingerências e agressões estadunidenses em território nacional.

Aparentemente, as peças estão se movendo no tabuleiro estratégico pela disputa ideológica, política, econômica e territorial na América Latina. A Venezuela selará nosso destino. O relógio da guerra parece avançar com cautela. A incisiva Russia e a moderada China já deixaram claro que não admitirão a tomada de um Estado soberano pela força. O que farão de fato para impedi-lo no âmbito político, diplomático e militar, caso necessário, é uma incógnita. Sob o olhar “zeloso” do Urso do leste e do Dragão asiático, é possível que Washington pondere e freie seu impulso selvagem por dominação na Venezuela. Nada parece ser tão eminentemente óbvio no caso venezuelano.

De qualquer modo, as FANB estão muito bem municiadas para uma possível intervenção bélica estadunidense. Maduro não blefou nem um pouco quando disse que as forças armadas venezuelanas estão muito bem preparadas. Os recentes Exercícios Militares Bicentenário de Angostura (2019) são prova disso. Os ianques que se preparem, não terão vida fácil em território bolivariano. Encontrarão pela frente sólida resistência humana e militar em nome da manutenção da soberania nacional do país. O terreno cáustico venezuelano poderá consumi-los de súbito. Correm o risco de sua empreitada de guerra se tornar uma ação político-militar vexatória, como já aconteceu no passado.

É importante salientar que é possível, caso seja necessário, que os russos ajudem – não irão se negar a isso – a Venezuela com mais armamentos. Vale lembrar que a União Européia impôs, em novembro de 2017, um embargo de armas à Venezuela.

Continue lendo

Mural anti-imperialista pintado na Embaixada dos EUA em Teerã após a crise dos reféns. (Foto: Phillip Maiwald (Nikopol) / Wikimedia Commons)
Sanções como guerra civilizacional: o custo humanitário da pressão econômica dos EUA
Em diferentes contextos, líderes de extrema direita promovem um modelo de governança que algema o Estado de suas funções redistributivas, enquanto abre caminho para que o cripto-corporativismo baseado em IA opere livremente – às vezes até promovendo seu uso como política oficial do Estado. (Foto: Santiago Sito ON/OFF / Flickr)
Por que a extrema direita precisa da violência
Entre 1954 e 1975, as forças armadas dos Estados Unidos lançaram 7,5 milhões de toneladas de bombas sobre o Vietnã, o Laos e o Camboja, mais do que as 2 milhões de toneladas de bombas lançadas durante a Segunda Guerra Mundial em todos os campos de batalha. No Vietnã, os EUA lançaram 4,6 milhões de toneladas de bombas, inclusive durante campanhas de bombardeios indiscriminados e violentos, como a Operação Rolling Thunder (1965-1968) e a Operação Linebacker (1972). (Foto: Thuan Pham / Pexels)
O Vietnã comemora 50 anos do fim do período colonial

Leia também

São Paulo (SP), 11/09/2024 - 27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo no Anhembi. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Ser pobre e leitor no Brasil: um manual prático para o livro barato
Brasília (DF), 12/02/2025 - O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, durante cerimônia que celebra um ano do programa Nova Indústria Brasil e do lançamento da Missão 6: Tecnologias de Interesse para a Soberania e Defesa Nacionais, no Palácio do Planalto. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O bestiário de José Múcio
O CEO da SpaceX, Elon Musk, durante reunião sobre exploração especial com oficiais da Força Aérea do Canadá, em 2019. (Foto: Defense Visual Information Distribution Service)
Fascista, futurista ou vigarista? As origens de Elon Musk
Três crianças empregadas como coolies em regime de escravidão moderna em Hong Kong, no final dos anos 1880. (Foto: Lai Afong / Wikimedia Commons)
Ratzel e o embrião da geopolítica: a “verdadeira China” e o futuro do mundo
Robert F. Williams recebe uma cópia do Livro Vermelho autografada por Mao Zedong, em 1 de outubro de 1966. (Foto: Meng Zhaorui / People's Literature Publishing House)
Ao centenário de Robert F. Williams, o negro armado
trump
O Brasil no labirinto de Trump
O presidente dos EUA, Donald Trump, com o ex-Conselheiro de Segurança Nacional e Secretário de Estado Henry Kissinger, em maio de 2017. (Foto: White House / Shealah Craighead)
Donald Trump e a inversão da estratégia de Kissinger
pera-5
O fantástico mundo de Jessé Souza: notas sobre uma caricatura do marxismo
Uma mulher rema no lago Erhai, na cidade de Dali, província de Yunnan, China, em novembro de 2004. (Foto: Greg / Flickr)
O lago Erhai: uma história da transformação ecológica da China
palestina_al_aqsa
Guerra e religião: a influência das profecias judaicas e islâmicas no conflito Israel-Palestina