Pesquisar
,

Relações China-Laos: Implicações estratégicas mais amplas

Esses dois países compartilham de relações muito próximas e fraternas, que estão destinadas a se fortalecerem após a conclusão da ferrovia China-Laos.

por Andrew Korybko | Global Research – Tradução de Gabriel Deslandes
(Foto: Lao News Agency)

O presidentes chinês Xi Jinping e o presidente laociano Bounnhang Vorachit assinaram um plano de ação para construir uma comunidade de futuro compartilhado após a última viagem de Vorachit a Pequim, para participar do recente Fórum da Iniciativa Um Cinturão, Uma Estrada (One Belt, One Road). Essas duas nações podem parecer um par estranho para o observador ignorante, que notaria instantaneamente as óbvias assimetrias em seus tamanhos geográficos e demográficos. Porém, esses dois países compartilham realmente de relações muito próximas e fraternas entre si, que estão destinadas a se fortalecerem após a conclusão da ferrovia China-Laos até o final deste ano, fazendo com que o acordo que seus dois líderes assinaram seja o mais relevante no próximo contexto estratégico.

O projeto acima mencionado não é isolado, mas é parte da grande malha ferroviária de alta velocidade entre Kunming e Cingapura, que forma a base regional dos investimentos da Iniciativa Um Cinturão, Uma Estrada da China na Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), e a chave para o sucesso dessa “Rota da Seda Marítima” da ASEAN não é outra senão o Laos.

Apesar de pequeno, o Laos tem uma enorme importância geoestratégica, uma vez que é adjacente a todos os Estados da Sub-Região do Grande Mekong (a ASEAN continental), e é por isso que os tomadores de decisão consideram que ele é “ligado por terra”, em vez de apenas “cercado por terra”. Além disso, o país está investindo pesadamente em represas ao longo do Rio Mekong para se tornar a “bateria do Sudeste Asiático” por meio de sua exportação planejada de hidroeletricidade para toda uma região que consome muita energia.

Ambas as visões interconectadas complementam com perfeição os sistemas de integração da China por meio da Iniciativa Um Cinturão, Uma Estrada (BRI), tornando o país, assim, o parceiro perfeito para a República Popular. Além disso, o Laos é também um país governado por comunistas, como a China, o que é mais uma convergência de interesses que esses dois países compartilham. De fato, seu modelo de governo e sua pequena população tornam mais provável que o Laos consiga distribuir de maneira justa a riqueza ligada à terra, hidroeletricidade e à Nova Rota da Seda que espera ganhar no futuro próximo.

Esse é um ponto muito importante porque o Laos ainda está lutando para se recuperar da devastação da época da Guerra do Vietnã, quando os Estados Unidos lançaram no país mais bombas do que durante toda a Segunda Guerra Mundial. Trata-se de um fato infame, mas pouco conhecido, a ponto de o ex-presidente Barack Obama até pedir desculpas durante sua histórica visita de 2016 ao país.

Sem o apoio chinês, o Laos teria dificuldade em se desenvolver e trazer seu povo para o século XXI. A geografia do país é muito variada e muito difícil de atravessar em algumas regiões, embora a Rota da Seda da ASEAN mude tudo isso por causa dos inúmeros túneis e pontes que estão sendo construídos ao longo de seu trajeto, que são, por conta própria, maravilhas da engenharia que contribuirão enormemente para conectar a população do Laos ao resto da região e ao mundo em geral, especialmente por meio de seus vizinhos chineses e tailandeses.

O exemplo das relações sino-laocianas é que a cooperação ganha-ganha ainda pode prevalecer, independentemente das assimetrias de tamanho entre os Estados. A China tem interesse em desenvolver o potencial de conectividade do Laos e ajudar a atingir sua meta de se tornar o núcleo terrestre da Sub-Região do Grande Mekong, pois fornece à República Popular um acesso terrestre confiável à Tailândia, que conta com a maior economia da ASEAN continental.

O Laos, enquanto isso, se beneficia dos bilhões de dólares em projetos de infraestrutura que a China está financiando e pode transformar a Rota da Seda da ASEAN no principal corredor de desenvolvimento do país, aproveitando seu papel insubstituível para facilitar o comércio sino-tailandês.

Como resultado, tanto a China quanto o Laos podem colher os benefícios de sua cooperação bilateral, apesar das diferenças gritantes em seus tamanhos geográficos e populacionais, provando que a Iniciativa Um Cinturão, Uma Estrada é o equalizador final entre os Estados e é pioneira de um novo modelo de relações internacionais.

Continue lendo

Mural anti-imperialista pintado na Embaixada dos EUA em Teerã após a crise dos reféns. (Foto: Phillip Maiwald (Nikopol) / Wikimedia Commons)
Sanções como guerra civilizacional: o custo humanitário da pressão econômica dos EUA
Em diferentes contextos, líderes de extrema direita promovem um modelo de governança que algema o Estado de suas funções redistributivas, enquanto abre caminho para que o cripto-corporativismo baseado em IA opere livremente – às vezes até promovendo seu uso como política oficial do Estado. (Foto: Santiago Sito ON/OFF / Flickr)
Por que a extrema direita precisa da violência
Entre 1954 e 1975, as forças armadas dos Estados Unidos lançaram 7,5 milhões de toneladas de bombas sobre o Vietnã, o Laos e o Camboja, mais do que as 2 milhões de toneladas de bombas lançadas durante a Segunda Guerra Mundial em todos os campos de batalha. No Vietnã, os EUA lançaram 4,6 milhões de toneladas de bombas, inclusive durante campanhas de bombardeios indiscriminados e violentos, como a Operação Rolling Thunder (1965-1968) e a Operação Linebacker (1972). (Foto: Thuan Pham / Pexels)
O Vietnã comemora 50 anos do fim do período colonial

Leia também

São Paulo (SP), 11/09/2024 - 27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo no Anhembi. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Ser pobre e leitor no Brasil: um manual prático para o livro barato
Brasília (DF), 12/02/2025 - O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, durante cerimônia que celebra um ano do programa Nova Indústria Brasil e do lançamento da Missão 6: Tecnologias de Interesse para a Soberania e Defesa Nacionais, no Palácio do Planalto. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O bestiário de José Múcio
O CEO da SpaceX, Elon Musk, durante reunião sobre exploração especial com oficiais da Força Aérea do Canadá, em 2019. (Foto: Defense Visual Information Distribution Service)
Fascista, futurista ou vigarista? As origens de Elon Musk
Três crianças empregadas como coolies em regime de escravidão moderna em Hong Kong, no final dos anos 1880. (Foto: Lai Afong / Wikimedia Commons)
Ratzel e o embrião da geopolítica: a “verdadeira China” e o futuro do mundo
Robert F. Williams recebe uma cópia do Livro Vermelho autografada por Mao Zedong, em 1 de outubro de 1966. (Foto: Meng Zhaorui / People's Literature Publishing House)
Ao centenário de Robert F. Williams, o negro armado
trump
O Brasil no labirinto de Trump
O presidente dos EUA, Donald Trump, com o ex-Conselheiro de Segurança Nacional e Secretário de Estado Henry Kissinger, em maio de 2017. (Foto: White House / Shealah Craighead)
Donald Trump e a inversão da estratégia de Kissinger
pera-5
O fantástico mundo de Jessé Souza: notas sobre uma caricatura do marxismo
Uma mulher rema no lago Erhai, na cidade de Dali, província de Yunnan, China, em novembro de 2004. (Foto: Greg / Flickr)
O lago Erhai: uma história da transformação ecológica da China
palestina_al_aqsa
Guerra e religião: a influência das profecias judaicas e islâmicas no conflito Israel-Palestina