No mês passado o presidente iraniano Hassan Rouhani disse que poderá voltar atrás e retomar a produção de urânio de baixo enriquecimento caso o imbroglio causado pelo novo pacote de sanções dos EUA não seja resolvido pelas potências que firmaram o acordo. Essa é a primeira fase da moratória de Teerã ao Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA) que terá uma segunda fase a partir de 7 de julho.
De acordo com Rouhani, as sanções, impostas por Washington um anos após a saída dos EUA do JCPOA, estão “estrangulando” as indústrias petrolíferas e bancárias iranianas, automaticamente a economia do país.
É evidente que, por parte das potências ocidentais, essa atitude do presidente iraniano não é vista com bons olhos. Rouhani fez questão de deixar claro que suas ações não significariam o fim do JCPOA, e que, ao contrário, estavam em consonância com o acordo.
Esse acontecimento é mais um de uma série longuíssima de entreveiros e tensões ao longo de mais de 50 anos de história do malquisto – aos olhos de seus desafetos internacionais – programa nuclear iraniano.
O programa nuclear persa tem sido objeto de profunda diligência, dedicação e superação por parte de Teerã, e de asco e especulações de toda natureza do imperialismo internacional.
Aqui é apresentado, de forma breve e resumida, parte desse longo e conturbado caminho trilhado pelos persas em superar desafios e barreiras para desenvolverem a capacidade rumo à independência nuclear benéfica e também na especulativa construção de uma arma atômica.
O JCPOA, uma ferramenta de estagnação
No ano de 2002 – mesmo ano do constrangimento causado pelo anúncio da descoberta de armas de destruição em massa no Iraque – os olhos do mundo se voltaram para o programa nuclear do Irã, quando o dissidente e exilado Conselho Nacional de Resistência do Irã, sediado em Paris, através de uma “investigação” de seu Comitê de Defesa e Estudos Estratégicos, revelaram dois sítio nucleares “clandestinos” e “secretos”, um na cidade de Natanz e outro na cidade de Arak, até então desconhecidos da AIEA. A partir desse momento, a Agência passou a monitorar de perto o programa iraniano. Logo ficou óbvio para o ocidente que o Irã possuía ou estava a caminho de possuir meios técnicos para produzir urânio enriquecido, a partir de sítios nucleares, para alimentar tanto reatores nucleares quanto armas.
Os locais eram formados por uma mina de urânio em Saghand, uma pequena vila no distrito rural de Rabatat, na província de Yazd; uma fábrica de “yellowcake” ou “bolo amarelo” – urânio livre de impurezas – perto de Ardakan; uma planta piloto de enriquecimento de urânio em Natanz e, no mesmo local, uma instalação de enriquecimento em escala comercial.
Os persas já trabalhavam em um reator nuclear de 1000 megawatts na cidade de Bushehr e, ao lado, na cidade de Arak, planejavam construir uma usina de água pesada e um reator de água pesada de 40 megawatts, quando vieram à tona as informações cruciais sobre os seus planos.
Apesar de o Irã advogar constantemente que seu programa nuclear é para fins pacíficos – o que é amplamente contestado pelas potências ocidentais -, que é legal e chancelado pelos membros do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) – acordo que monopoliza a tecnologia bélica nuclear,que reconhece a Republica Islâmica do Irã como um Estado não-nuclear, e o que por si só garante a todos os seus membros, incluindo os persas, o desenvolvimento de energia nuclear para fins benéficos -, nada disso parece ser o suficiente para Washington, que usa o programa nuclear iraniano como pretexto para insuflar os ânimos e aumentar as tensões no barril de pólvora que é o Oriente Médio.
Após ver seu programa nuclear expandir vertiginosamente durante 10 anos, e depois de muitos anos de esforços diplomáticos para impedir seu colapso, o Irã embarcou – a contra gosto – no restritivo e punitivo Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA-sigla em inglês) assinado em 14 de julho 2015 com seis grandes potências.
O alto custo de ter entrado no JCPOA e o receio de sofrer mais sanções enfraqueceu em muito o programa nuclear iraniano. O país viu ruir várias centrífugas enriquecedoras de urânio, embarcou toneladas de urânio de baixo enriquecimento para a Rússia, destruiu o núcleo de um reator de água pesada capaz de produzir plutônio, reconfigurando-o para produzir menos plutônio.
Para se compreender o que exatamente o JCPOA representa em termos de atraso para o programa nuclear iraniano, basta dizer que antes do acordo o Irã – se assim o desejasse, e não o fez – poderia ter de forma “ilícita” produzido o combustível para uma arma nuclear em poucos meses.
O desembarque da administração Trump do JCPOA, em 8 de maio de 2018, e aplicação de duras sanções ao Irã geraram desconfiança, mal estar e constrangimento internacional em torno do acordo nuclear, e um constrangimento ainda maior para os EUA, aos olhos do mundo, com a covarde decisão unilateral de Washington de abandonar “o barco” das negociações e partir para o ataque, como de costume.
O prelúdio
Sob o comando do xá Reza Pahlavi e ajuda dos Estados Unidos – unha e carne antes da revolução – e Europa, o Irã se lançou em um ambicioso plano de desenvolvimento nuclear. A título de curiosidade histórica, o embrião original do programa remonta ao ano de 1950, ainda que, naquele momento, andasse a passos muito lentos.
Entre os anos de 1974 e 1978 o Irã realizava pesquisa nuclear na Universidade de Teerã. Nesse período já estava em vigor o Tratado de Não Proliferação Nuclear, assinado em 1968 e que passa a vigorar em 1970, que por si só era um tremendo freio nas ambições de um futuro programa nuclear bélico do país.
Então, os trabalhos iniciais do programa se concentraram em um primeiro momento em um reator de pesquisas de 5 megawatts doado pelos EUA, cuja operação se iniciou em 1967.
De acordo com o então presidente da Organização de Energia Atômica do Irã (OEAI), Akbar Etemad, em meados dos anos 70 o Irã lançou um amplo programa de energia nuclear. O xá Pahlavi fixou a meta de produção de 23.000 megawatts de energia elétrica de uma série de usinas nucleares em vinte anos.
Para executar o ambicioso plano o Irã se lançou em uma série de contratos com fornecedores nucleares nos EUA e Europa. Com a Kraftwerk Union, subsidiária da Siemens da Alemanha Ocidental, fechou um acordo para construção de dos reatores de 1.200 megawatts em Bushehr. Negociou com a Framatome francesa mais dois reatores de 900 megawatts. Na década de 70 foram criados planos para um novo centro de pesquisa na cidade de Isfahan, e também planos para exploração de urânio e seu processamento. Em 1974 os persas teriam supostamente investido 1 bilhão de dólares em uma usina de enriquecimento de urânio francesa de propriedade do consórcio europeu Eurodif.
O evento da revolução iraniana em 1979 atrasou por alguns anos o programa nuclear. Em 1980 a guerra com o Iraque causou danos às instalações existentes. Dois reatores em construção na cidade de Bushehr foram danificados e a Siemens pulou fora da empreitada. É somente no final dos anos 80, na presidência de Akbar Hashemi Rafsanjani, que o programa nuclear iraniano é retomado.
No inicio dos anos 90, agora sem o apoio e aval estadunidense e europeu, “derrotados” pela revolução, entram em cena a Rússia, China e Paquistão. Dois protocolos de cooperação nuclear foram assinados com a China, um em 1985 e novamente em 1990; um protocolo foi assinado com a Rússia para concluir a construção do reator de Bushehr e para construção de uma mina de enriquecimento de urânio. A usina de enriquecimento de urânio nunca foi entregue por pressão norte americana.
Projetos como Bushehr serviram para que o Irã conseguisse equipamentos sensíveis para o desenvolvimento de seu programa nuclear, que não teriam sido vendidos aos persas de maneira espontânea por medo da pressuposta fabricação de uma bomba nuclear.
Durante toda a década de 90, Rússia e China foram grandes parceiros do programa nuclear iraniano apesar das constantes pressões imperialistas.
Fala-se que foi nesse período dos anos 90 que o Irã conseguiu no mercado negro, através da rede Khan do cientista paquistanês A. Q. Kahn, tecnologia para enriquecimento de urânio.
Foi andando nos trilhos e obviamente “cortando” alguns caminhos que o Irã obteve um enorme processo em seu programa nuclear durante os anos 90. Em 2003 o Irã já dominava a tecnologia de enriquecimento de urânio, material necessário para fabricação de uma bomba atômica.
O Irã se viu obrigado a violar o seu acordo de inspeção com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para avançar em seu programa nuclear, bem como a fornecer informações sobre seu programa e “explicar” o seu propósito, sistematicamente.
Todos os dados fornecidos pelo Irã sobre seu programa nuclear foram publicados a partir de junho de 2003 nos relatórios da AIEA.
Na cola do combustível nuclear
Obter combustível nuclear é tarefa árdua independente de sua finalidade. Em seu caminho para criar seu próprio combustível nuclear para armas, o Irã percorreu dois caminhos: o enriquecimento de urânio e o reprocessamento de combustível gasto para recuperar o plutônio, que tanto podem alimentar uma bomba ou servir de combustível para um reator. Ambos são materiais físseis e instáveis que podem ser divididos quando atingidos por nêutrons.
A produção de urânio 235.
É igualmente difícil se obter urânio 235 (U-235) – forma físsil para se abastecer uma bomba – já que o urânio em sua forma natural contém somente 0,7% desse isótopo. Os persas dominaram passo a passo todo o árduo processo. Para se produzir a quantidade necessária de U-235, é necessária uma logística que se inicia na mina e termina na produção de combustível enriquecido de urânio.
Da extração a moagem
O “front end“- inicio e fim – do processo para se obter combustível nuclear é a extração do urânio da mina.
O Presidente iraniano Mohammad Khatami, em fevereiro de 2003, disse que seu governo pretendia extrair urânio da mina da cidade de Saghand, província de Yazd. A mina é parte fundamental do plano de Teerã de produzir combustível nuclear próprio.
O local é uma reserva combinada de dois locais distintos com produção de 1.580.000 toneladas de minério de urânio com teor de 553 g/tonelada. De acordo com a AIEA, Saghand tem capacidade de 50 toneladas de urânio por ano. Outra mina, a de Gchine, no sul do Irã, tem uma capacidade de produção anual de 21 toneladas de urânio/ano e começou a ser explorada em 2004.
Após ser extraído, o mineiro de urânio é processado em um concentrado chamado “yellowcake” ou “bolo amarelo” em tradução livre. Autoridades iranianas admitiram terem produzido “bolo amarelo” a partir de uma usina de moagem na cidade de Ardakan. A construção da usina foi aprovada em 1994 e construída por uma empresa iraniana em 1999. A usina tem capacidade de produção de 50 toneladas por ano, exatamente a mesma de sua mina associada em Saghand.
Não é oficial, mas acredita-se que a China tem sido a grande parceira do Irã na mina de Saghand. Especialistas do Instituto de Pesquisa de Geologia de Urânio da China conduziram intercâmbios científicos com cientistas iranianos, e Teerã admitiu a participação de especialistas chineses no trabalho de exploração da mina.
Obtendo o UF6
Após sua extração e transformação em “bolo amarelo” o urânio há de novamente se transformar, dessa feita, em hexafluoreto de urânio (UF6), um gás que serve de matéria prima para as centrífugas que tem a finalidade de enriquecer o urânio tanto para abastecerem reatores como armas nucleares.
Em 2000 o governo iraniano informou à AIEA a construção de uma fábrica de Conversão de Urânio (UCF – Uranium Conversion Facility) na cidade de Esfahan, e em 2003 o chefe da AEOI, Gholamreza Aghazadeh, em um discurso na entidade, informou que a instalação de conversão de Esfahan iria converter “yellowcake” em UF6.
O objetivo de Teerã era ter várias linhas de processo para transformar compostos de urânio. Além de obter 200 toneladas/ano de UF6 a partir de “yellowcake“; conversão de UF6 de baixo enriquecimento em 30 toneladas/ano de U02 enriquecido a 5% de U-235; conversão UF6 empobrecido em 170 toneladas/ano de tetracloreto de urânio (UF4); conversão de UF6 de baixo enriquecimento de urânio em 30 kg de urânio metálico de baixo enriquecimento a 19,7% de U-235; e por fim converter UF4 empobrecido em 50 toneladas/ano de urânio empobrecido.
O Irã concentrou seus esforços nos processos de conversão de “yellowcake” em UF6 e na produção de U02. No ano de 2004, entre maio e junho, os primeiro “testes quentes” na conversão de urânio forneceram cerca 30-35 kg de UF6. Desde o início da conversão foram produzidas cerca de 550 toneladas de UF6 natural, desses, cerca de 185 toneladas foram parar na Usina de Enriquecimento de combustível de Natanz. Foram também produzidos 13,8 toneladas de U02, das quais 13,3 toneladas foram encaminhadas para a Fábrica de Combustível em Esfahan. O Irã tem investido em pesquisa e desenvolvimento sobre a recuperação de urânio a partir da sucata produzida pelas atividade de conversão.
A planta de conversão iraniana recebeu um amplo suporte chinês. Após um acordo com Washington, em 1997, que impedia a cooperação e estabelecia a suspensão de todos projetos nucleares com o Irã, a China cancelou o projeto de construção de uma usina de conversão. Ao que tudo indica a China voltou atrás e forneceu um projeto de planta de conversão ao Irã. Os iranianos admitem que a planta foi adquirida de um fornecedor estrangeiro nos anos 90.
Em 1991 a China forneceu ao Irã compostos de urânio, que os persas não informaram a AIEA, que permitiram, mais tarde, testes laboratoriais dos processos a serem realizados na usina de conversão. O “presente” chinês aos iranianos era composto de 1000 kg de UF6, 400 kg de UF4 e algo em torno de 400 kg de U02 natural.
O beabá do Enriquecimento
Após ser extraído e convertido em uma forma gasosa, o isótopo U-235 deve ser separado do isótopo mais abundante, o U-238, através de um processo chamado de enriquecimento. Por serem quimicamente idênticos, esses isótopos devem ser separados explorando a pequena diferença em seus pesos. O urânio enriquecido entre 3% e 5% de U-235 é utilizado em reatores de usinas nucleares; já o urânio enriquecido a 90% ou mais de U-235 é utilizado para alimentar armas nucleares.
Entre as várias formas existentes para o enriquecimento de urânio, o Irã concentrou seus esforços nas técnicas de centrifugação de gás e também separação isotópica a laser.
Centrífugas
As centrífugas são máquinas rotacionais de altíssima velocidade onde o UF6 é jogado para haver a separação dos diferentes isótopos do urânio. O U-238 mais pesado é jogado para fora da centrifuga enquanto o U-235, mais leve, fica no interior. Esse processo é repetido inúmeras vezes dependendo do tipo de concentração que se deseja do U-235. Quanto maior a concentração, mais adequado para utilização em armas.
Em 1985, o Irã lança seu programa de centrifugação com instalações em Teerã controladas pela AEOI. Em 1987, foi lançado seu projeto de centrífugas, através de um fornecedor estrangeiro, bem como cerca de dois mil componentes também do exterior. Segundo um relatório da polícia malaia de 2004, o Irã recebeu dois containers com peças para centrifugas no valor de US $ 3 milhões; a transferência teria ocorrido entre 1994-95.
Em 1997 os esforços para o desenvolvimento de centrífugas são transferidos para a Kalaye Electric Company, em Teerã, para montar e testar centrífugas de enriquecimento de urânio entre 1997 e 2002. Em 2003 o Irã admite que havia usado 1,9 kg de UF6 para testar as instalações de Kalaye, entre 1998 e 2002, obtendo U-235 com um nível de enriquecimento de 1,2%.
Entre março e agosto de 2003 a Agência Internacional de Energia Atômica havia sido autorizada pela primeira vez a visitar Kalaye para coletar amostras ambientais. Foi justamente na visita de agosto que foram notadas modificações consideráveis nas instalações.
A partir de 2002, o programa de centrifugação é transferido para Natanz. Lá foi instalada uma usina piloto de mil centrífugas e um aparelho comercial destinado a abrigar cerca de 50 mil centrífugas. A ideia é que Natanz produzisse combustível nuclear para usinas de energia usando urânio enriquecido entre 3% a 5%.
Em junho 2003, pela primeira vez o Irã usou UF6 para testar uma centrífuga na usina piloto. Em agosto do mesmo ano, usou uma cascata de dez centrífugas com UF6. Em novembro de 2003, o trabalho de centrifugação na usina piloto é suspensa após um acordo entre Irã, Grã-Bretanha, França e Alemanha. Apesar disso, o Irã continuou a fabricar peças para centrífugas, montado-as em várias oficinas.
As centrífugas de Natanz têm um desenho europeu antigo, semelhante à P1, sob controle da Khan Research Laboratories no Paquistão, roubada do programa Urenco da Europa Ocidental entre as décadas de 70 e 80. Aparentemente, o Irã melhorou o desenho paquistanês e alcançou “um modelo suficientemente eficaz para considerar o enriquecimento em escala industrial;” é o que diz um documento de 2003 apresentado pela França em uma reunião do Grupo de Fornecedores Nucleares.
As centrífugas de primeira geração iranianas são denominadas IR-1. Além delas, o país possui um programa para desenvolver modelos mais avançados. Em 1994 o Irã recebeu um projeto de P-2 de “fontes estrangeiras” segundo a AIEA, que concluiu ser “presente”da Líbia. As centrífugas P-2 usa um rotor de aço maraging de altíssima resistência. Em 2002 o Irã iniciou os testes mecânico dos rotores fabricados internamente compostos de carbono, já que não conseguiram fabricar os de aço maraging.
Todo investimento e experiência adquiridos foram recompensados. No final de 2007, o Irã começou a alimentar as 3.000 centrífugas IR-1 de Natanz com gás hexafluoreto de urânio. No final de 2008, já eram 5.000 centrífugas, número que pulou para mais de 15.000 em 2015, com fornecimento de gás hexafluoreto para 9 mil delas.
Já em 2013 começaram a operar as centrifugas mais modernas de Natanz, o modelo IR-2m. Em agosto de 2015, já eram cerca de 1.008 centrífugas IR-2m. Nesse mesmo período foram grandes os avanços na fabricação de gás de urânio em sua Unidade de Conversão de Urânio em Isfahan. Entre 2004 e 2011 o Irã produziu cerca de 371 toneladas desse material.
O objetivo era permitir que o país, até 2015, tivesse um estoque de 8,3 toneladas de urânio pouco enriquecido a 3,5% U-235, suficientes para abastecer até 7 armas atômicas. O JCPOA obrigou o Irã a manter seu estoque de urânio enriquecido, drasticamente baixo, em não mais de 300 kg. A maior parte de seu estoque foi enviado para Rússia em dezembro de 2015.
Os dez primeiros anos do JCPOA permitirão ao Irã manter somente 5.060 centrífugas IR-1 em Natanz. Não será permitido enriquecer urânio acima de 3,67% nos primeiros 15 anos. Todas as centrífugas além do número estabelecido pelo JCPOA foram desmanchadas e armazenadas em Nataz sob a supervisão da AIEA.
O JCPOA limita a pesquisa, desenvolvimento e testes em centrífugas mais avançadas – tipos IR-2m; IR-4; IR-5; IR-6; IR-7 e IR-8 – para os primeiros dez anos de acordo. Após quinze anos de acordo, o Irã poderá operar quaisquer tipos de centrífugas em suas instalações declaradas de enriquecimento de urânio.
Em busca do plutônio
O Irã também buscou a capacidade de produzir plutônio, um segundo material físsil que pode ser usado para alimentar armas nucleares. Mas como o plutônio existe naturalmente apenas em pequenas quantidades, ele deve ser fabricado em um reator nuclear. Isso é, bombardeando o combustível do reator U-238 com nêutrons lentos. Quando o U-238 captura um nêutron, é produzido o isótopo U-239, que decai em plutônio 239.
Em busca da bomba?
Entre 2011 e 2015, a AIEA informou regularmente que o Irã estava evitando perguntas relacionadas à investigação da Agência sobre os seus supostos esforços de armamento. Quando o JCPOA foi acordado em julho de 2015, o Irã e a AIEA também assinaram um acordo de “Road-Map” destinado a resolver todas as questões pendentes da AIEA relacionadas a esta investigação. Como parte de um acordo separado, a AIEA recebeu amostras ambientais da base militar Parchin, que era um local suspeito de experimentação de armas nucleares. As amostras foram coletadas por iranianos sob monitoramento da AIEA por câmeras de vídeo e câmeras fixas e rastreamento por GPS.
Em 2 de dezembro de 2015, a AIEA emitiu seu relatório final sobre os supostos esforços de armamento do Irã, concluindo que o Irã tinha um programa coordenado relacionado a armas nucleares até 2003 e que algumas atividades relacionadas a armas continuaram até 2009. O relatório da AIEA revelou que o Irã não forneceu novas informações ou informações significativas para a maioria das 12 questões pendentes na investigação da AIEA. Para muitas das perguntas da Agência, o Irã não ofereceu nenhuma nova informação, respondendo com negações sem explicação ou dando explicações contraditas por outras informações disponíveis para a Agência. No entanto, o Conselho de Governadores da AIEA votou por unanimidade para encerrar a investigação da Agência em 15 de dezembro de 2015.
O pente fino da AIEA
Sob a tutela do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), o Irã deve permitir que a AIEA inspecione seu material nuclear para que a Agência possa verificar seu uso pacífico. Isso inclui o que o TNP chama de “material fissionável de fonte ou especial” e todas as instalações onde esses materiais estão sendo usados, processados ou produzidos em qualquer lugar no território do Irã ou em qualquer lugar sob seu controle. O Irã também deve informar a AIEA sobre mudanças em seu inventário de materiais nucleares e enviar relatórios de mudança de estoque quando necessário. Finalmente, o Irã é obrigado a fornecer informações de projeto atualizadas sobre suas instalações nucleares e informações sobre instalações onde o material nuclear é mantido ou armazenado.
Em um relatório ao Conselho de Governadores da AIEA em junho de 2003, após quatro meses de inspeções da Agência no Irã, o então Diretor Geral da AIEA, Mohamed ElBaradei, concluiu que o Irã “não cumpriu suas obrigações sob o Acordo de Salvaguardas com relação ao relato de material nuclear”, o subsequente processamento e uso desse material e a declaração de instalações onde o material foi armazenado e processado. Após essa conclusão, a AIEA documentou vários casos em que o Irã violou seu acordo de salvaguardas ao não informar:
-A importação de quase 2.000 kg de compostos de urânio (1.000 kg de UF6, 400 kg de UF4 e 400 kg de UO2) em 1991, supostamente da China;
-O processamento de 1,9 kg de UF6 (importado em 1991) em centrífugas na Kalaye Electric Company, que produziu 1,2% de urânio enriquecido;
-A conversão de 9,43 kg do UF4 importado em 1991 para o UF6 em um laboratório no TNRC;
-A produção de metal de urânio em um laboratório no TNRC na década de 1990 usando 376,6 kg de UF4 importados em 1991;
-A produção de 2,5 kg de UF4 usando UO2 importado em 1991;
-A irradiação de vários gramas de UO2 no TRR e seu processamento subseqüente em um laboratório no TNRC;
-A irradiação de 3 kg de alvos de UO2 esgotados no TRR e subsequentes experimentos de separação de plutônio realizados em células quentes no TNRC, no qual cerca de 200 microgramas de plutônio foram produzidos;
-A importação de 50 kg de urânio natural em 1993;
-O processamento de 30 kg do metal de urânio importado em 1993 em duas séries de experimentos de enriquecimento AVLIS: primeiro entre 1999 e 2000 no TNRC usando 8 kg de urânio, e segundo no Lashkar Ab’ad entre outubro de 2002 e fevereiro de 2003 usando 22 kg de metal de urânio;
-Operações de enriquecimento a laser em escala piloto no TNRC e no Lashkar Ab’ad usando equipamentos importados e não fornecendo informações de projeto nesses locais;
-A transferência de equipamento nuclear e material usado em experimentos com laser para uma instalação de armazenamento de lixo em Karaj, e a falha em fornecer informações de projeto sobre este novo local;
-O uso de compostos de urânio importados em 1977 e isentos de inspeção (U3O8 e UO2 empobrecido) e yellowcake importados em 1982 em experimentos em dois laboratórios no Centro de Tecnologia Nuclear de Esfahan (Isfahan);
-O uso de UO2 empobrecido, que o Irã havia declarado originalmente como material perdido durante experimentos, para produzir UF4 em um laboratório no TNRC;
– Trabalho de pesquisa e desenvolvimento em uma centrífuga mais avançada, conhecida como P-2, que deveria ter sido divulgada à AIEA no relatório nuclear nuclear completo do Irã em outubro de 2003 para a Agência. Esta omissão violou as obrigações do Irã sob o Protocolo Adicional da AIEA, que o Irã concordou em honrar, até a ratificação no parlamento iraniano.