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Algo fede na República

Entre dedos que não disparam, novas opiniões de ex-ministros e mudanças de caminho na Lava Jato, algo fede no centro da República.

por Pedro Marin | Revista Opera
O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Justiça, Sergio Moro, durante a cerimônia de posse do novo procurador-geral da República, Augusto Aras, no Palácio do Planalto. (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

O ar ficou intolerável na semana passada. Não foram os efeitos de uma nova queimada; é que há algo que fede na República. Na quinta-feira (26), o ex-Procurador Geral da República Rodrigo Janot saiu adoçando manchetes ao declarar aos jornais que planejou matar Gilmar Mendes, ministro do STF. O caso é contado em livro biográfico que Janot está lançando – mas a gravidade do episódio, que motivou operação de busca e apreensão nas residências do ex-Procurador, não parece permitir que os gritos nas manchetes sejam só uma operação psicológica e midiática para vender livros.

No mesmo dia, Aloysio Nunes, o figurão do PSDB e ex-ministro de Temer que queria ver Dilma sangrar, declarou à Folha de São Paulo que a Operação Lava Jato manipulou o impeachment da ex-presidente, citando a famigerada gravação de Dilma e Lula, vazada pela operação, e a divulgação da delação de Palocci nas vésperas da eleição; “uma manipulação política da eleição presidencial”, segundo Nunes.

Os ventos do norte não movem moinhos; mas aparentemente há um moinho girando, com a força sabe-se-lá de onde, que vai triturando aquela Lava Jato que, diziam alguns, seria a verdadeira Soberana na República a partir de 2018. Sinal de que não é, nem será, veio da própria Lava Jato, também na sexta-feira: 15 procuradores, dentre eles Deltan Dallagnol, assinaram recomendação de progressão de regime, para que Lula possa passar ao regime semiaberto.

Na espiral do caos em que o Brasil foi jogado – espiral em que, lembremos, militares não só batem, como também apanham -, a Lava Jato parece chamar a atenção ao pêndulo, a um ponto de referência: Lula. Talvez seja um recado – lembrem-se do que se importa. Talvez, um incêndio no paiol – que a República exploda. Seja como for, Lula redigiu carta publicada hoje (30) em que diz que não barganhará sua liberdade. Talvez calcule, no presente dado pelo inimigo, um Cavalo de Troia. Não seria de espantar, já que até o STF de Gilmar virou alvo militar quando do habeas-corpus do ex-presidente.

A dúvida segue: que cheiro é esse? Parece suor, pólvora, coturno…

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