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Em meio a instabilidade regional, Argentina e Uruguai se preparam para eleições

Na Argentina, eleição em primeiro turno de Alberto Fernandéz é quase certa. No Uruguai, Plebiscito pode ser derrotado e deve haver segundo turno.

por Pedro Marin | Revista Opera
(Foto: Frente de Todos)

Depois de Evo Morales conquistar seu quarto mandato na Bolívia, gerando acusações de fraude por parte da oposição e manifestações violentas, e em meio a uma dura revolta popular no Chile, Argentina e Uruguai passarão por eleições nesse domingo (27).

Argentina

Na Argentina, é quase certo que o advogado Alberto Fernandéz, de 60 anos, terá a maior parte dos votos dos 34,2 milhões de cidadãos habilitados a votar. Ele lidera a coalizão peronista Frente de Todos, que tem como candidata a vice a ex-presidente Cristina Kirchner, e se considera um “liberal de esquerda, um liberal progressista”, o inaugurador “do braço do liberalismo progressista peronista”, segundo suas palavras.

Nas eleições primárias – as Primarias Abiertas Simultáneas y Obligatorias (PASO) -, em agosto passado, Fernandéz teve 49,5% dos “votos afirmativos” (excluindo brancos e nulos), enquanto seu principal concorrente, o atual mandatário do país, Mauricio Macri, ficou com 32,9%. Pelas regras argentinas, se amanhã os resultados forem replicados, Fernandéz será eleito em primeiro turno; no país, ganha as eleições quem superar os 45% dos votos afirmativos, ou quem tiver mais de 40% deles e uma diferença de no mínimo 10% em relação ao segundo colocado.

E tudo aponta que isso ocorrerá. Nas pesquisas, o desempenho do peronista de centro-esquerda varia de 45,9% a 54,5%, enquanto o do neoliberal Macri varia de 26,6% a 38,5%. A média de todas as pesquisas informa uma diferença de 18% entre Fernandéz e Macri; 50,33% para o primeiro, 30% para o segundo.

As eleições na Argentina têm grande importância para a região, já que a eleição de Mauricio Macri havia sido apontada em todo o continente como uma “mudança de ares” na América Latina; um exemplo a ser seguido. Quatro anos depois, a ruína econômica argentina deixou claro a que veio a direita continental: em 2018, a inflação do país bateu o recorde de 27 anos (47,6%), sob seu governo foram criados 1,4 milhões de novos pobres (herdou um índice de pobreza de 29% de Kirchner e levou-o a 34,5%), e o preço do dólar explodiu frente ao peso (de 10 pesos para um dólar, em 2016, a 60 pesos por dólar, em 2019), em um país altamente dependente da importação em maquinários, transportes e químicos (os três totalizam 65% das importações argentinas).

Assim, não é de surpreender que Fernandéz, que promete “enterrar o neoliberalismo” no país, lidere como favorito. Ele se opõe às reformas trabalhistas e fala em correções salariais em acordos entre empresários e sindicatos para fazer frente à inflação.

Conseguiu, junto do movimento de Cristina Kirchner de não buscar a cabeça da chapa e aceitar a vice-presidência, neutralizar boa parte do discurso do medo anti-Kirchnerista que Macri buscaria, bem como afastou boa parte da rejeição que a ex-presidente enfrenta.

Além disso, é visto como mais “moderado” que a ex-mandatária; serviu como superintendente de Seguros do governo Menem e, quando o ministro da Economia Domingo Cavallo rompeu com Menem e criou seu próprio partido, o Ação pela República, Fernandéz também aderiu. Foi chefe de Gabinete durante o governo de Néstor Kirchner (2003-2007), e continuou servindo no mesmo cargo, a partir de 2008, no governo de Cristina. Mas durou pouco. Depois de uma greve patronal ter sido desencadeada em resposta a um pacote de taxação contra o agronegócio argentino – que acabou derrotado no Parlamento – Fernandéz renunciou e rachou com Kirchner.

Agora, na reta final da campanha, trata de tentar acalmar os ânimos do empresariado argentino, prometendo manter o “equilíbrio fiscal” e buscar o aumento das exportações do país para combater a crise. “Eu converso com todo mundo”, declarou ao canal TN. “Eles [da indústria e do agronegócio] não são meus inimigos. São sócios da Argentina”, completou o candidato, que garante que, apesar de considerar impossível pagar o FMI (Fundo Monetário Internacional), não haverá default (calote). Dado o tom duro adotado pelo candidato contra os empréstimos do FMI – que já somam, desde o ano passado, 44 bilhões de dólares – se eleito,, ele provavelmente buscará renegociar a dívida, ao mesmo tempo que promete, em seu plano de governo, tomar um sentido contrário daquelas medidas exigidas pelo Fundo. Será uma queda de braço.

Uruguai

No Uruguai, além de votar para presidente e legislativo, os quase 2,7 milhões de eleitores habilitados votarão também em um plebiscito sobre a segurança pública do país. O projeto “Viver Sem Medo”, do senador Jorge Larrañaga (Partido Nacional) é composto por quatro medidas:

1 – Criação de uma Guarda Nacional, composta por até 2 mil militares, que colaborarão com a polícia.

2 – Fim da progressão de pena para crimes considerados graves.

3 – Adoção de prisão perpétua para casos de homicídio qualificado e estupros.

4 – Possibilidade de operações de busca durante a noite, com autorização judicial.

Não é certo se a proposta será aprovada. Grandes manifestações contrárias foram realizadas nas últimas semanas, e o apoio à proposta – que era grande no início, de acordo com as pesquisas no país – parece ter diminuído. A maior parte das últimas pesquisas apontam para uma derrota das medidas propostas pelo senador.

Quanto aos candidatos, lidera Daniel Martínez, do Frente Amplio, com uma média de 32,29% nas pesquisas entre 4 de julho e 23 de outubro. Em segundo lugar, vem o direitista Lacalle Pou, do Partido Nacional, com uma média de 24,81%. Depois dele há Ernesto Talvi, do tradicional Partido Colorado, com uma média de 15,52%, e Guido Manini Ríos, do Cabildo Abierto, continuação do Movimiento Social Artiguista, fundado em 2019 e com forte componente conservador e militar.

Tudo aponta, portanto, para um segundo turno; e, pela primeira vez desde que assumiu o governo, há 15 anos, o Frente Amplio parece destinado à derrota.

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