Enquanto o povo do Líbano passa por uma das piores crises econômicas da conflituosa história de sua nação, o governo de Donald Trump está se aproveitando do desastre para pressionar uma mudança de regime e enfraquecer grupos de resistência libaneses.
Uma grande explosão no dia 4 de agosto devastou a capital do Líbano, Beirute, matando mais de 150 pessoas, ferindo milhares, deixando centenas de milhares desabrigados e devastando uma parte considerável da cidade.
A explosão maciça também destruiu o porto mais importante do Líbano, onde estavam 80% dos alimentos que haviam sido importados para o país.
Mesmo antes do incidente apocalíptico, o Líbano estava passando por uma calamidade econômica que causou hiperinflação e destruiu a riqueza de grande parte do país, alimentando a escassez generalizada de alimentos e apagões de 20 horas.
A economia do Líbano está em estado de colapso total no momento. O valor de sua moeda nacional despencou 80% e mais da metade da população definha na pobreza.
Líderes políticos, ativistas, ONGs financiadas por governos ocidentais e a mídia corporativa internacional têm culpado os problemas do Líbano exclusivamente pela corrupção. E não há dúvida de que a desonestidade financeira generalizada e o roubo direto foram um fator-chave para levar o país a um ponto tão sombrio.
Porém, um elemento ainda mais importante que tem sido convenientemente deixado de fora deste quadro é o papel dos Estados Unidos e de seus aliados em Israel e na Arábia Saudita, que têm conduzido uma política conjunta de desestabilização, ou o que eles chamam de “pressão máxima”.
Washington sufocou o Líbano e seus vizinhos com uma guerra econômica agressiva, explicitamente destinada a paralisar o país e enfraquecer o Hezbollah, uma das forças de resistência mais poderosas e populares da região, que tem resistido com sucesso aos desígnios intervencionistas norte-americanos e israelenses, ajudou a derrotar o ISIS e a Al-Qaeda e até mesmo expulsou os militares israelenses após duas décadas de uma ocupação militar brutal no sul do Líbano.
O Hezbollah tem um braço político eleito democraticamente, com 12 cadeiras no parlamento do Líbano, que tem sido membro da coalizão governamental do país por uma década. Devido à presença de tal movimento de resistência no governo, Washington e Tel Aviv se recusaram a reconhecer a legitimidade da democracia libanesa, e buscaram desesperadamente a mudança de regime.
As sanções esmagadoras impostas por Washington à Síria e ao Irã não só devastaram as economias da região; produziram um efeito ricochete no Líbano, separando o país dos parceiros comerciais regionais.
Além disso, há uma guerra por procuração de nove anos apoiada pelo Ocidente contra o governo de Damasco, desestabilizando o vizinho do Líbano e desencadeando uma crise histórica de refugiados, colocando uma enorme pressão sobre Beirute.
Todos estes fatores causaram uma catástrofe no Líbano.
A administração de Trump promove uma campanha de “máxima pressão” sobre o Líbano
A resposta da administração de Trump à fatídica explosão de Beirute foi impor mais sanções.
O The Wall Street Journal noticiou em 12 de agosto que o governo norte-americano se preparava para impor novas sanções “contra proeminentes políticos e empresários libaneses, em um esforço para enfraquecer a influência do Hezbollah.”
O jornal observou que a explosão “acelerou os esforços de Washington para colocar na lista negra líderes libaneses alinhados com o Hezbollah.” Acrescentou que as autoridades norte-americanas vêem o caos pós-explosão como “uma oportunidade de provocar uma cisão entre o Hezbollah e seus aliados como parte de um esforço mais amplo para conter a força xiita apoiada por Teerã”.
As principais autoridades norte-americanas querem “girar os parafusos no Líbano”, noticiou o jornal. Citaram que um funcionário anônimo comentou: “Não vejo como você pode reagir a este tipo de evento com outra coisa senão a pressão máxima” – uma referência à campanha de “pressão máxima” da administração de Trump para forçar uma mudança de regime no Irã.
Oficiais superiores dos EUA comentaram sem rodeios que querem que o atual governo do Líbano seja substituído por um regime “tecnocrático” que afaste o Hezbollah.
Esta exigência confirmou uma reportagem de 2019 no The Grayzone da jornalista Rania Khalek, que detalhava como ONGs apoiadas pelo Ocidente no Líbano estavam explorando protestos anticorrupção para avançar com uma estratégia para remover o Hezbollah da coalizão governamental do país e instalar tecnocratas alinhados aos EUA e simpáticos ao FMI.
O The Wall Street Journal também reconheceu que os “programas de sanções existentes do governo Trump contra o Hezbollah” já “tiveram um custo econômico” para o Líbano.
Washington, portanto, deixou claro que não tem nenhum problema em aprofundar o abismo econômico no Líbano, e levar seu Estado até a beira do colapso, na esperança de neutralizar o Hezbollah.
A guerra sem tréguas de Washington contra o “Eixo de Resistência”
A crise no Líbano não pode ser compreendida fora do contexto mais amplo da estratégia global e obsessiva dos EUA, que visa esmagar o que é conhecido como “Eixo de Resistência”, ao qual o Hezbollah serve como ator-chave.
A guerra em curso de quase uma década contra a Síria se agiganta nesta situação. Quando o governo dos EUA e seus aliados em Israel, Arábia Saudita, Qatar e Turquia iniciaram uma guerra de mudança de regime contra a Síria em 2011 e 2012, o Hezbollah imediatamente reconheceu o conflito por procuração como um ataque a todas as forças de resistência na região, o que inevitavelmente engoliria também o Líbano.
Assim, enquanto Washington e as monarquias Wahhabi do Golfo despejaram bilhões de dólares em armamento e treinamento de grupos rebeldes jihadistas-salafistas na Síria, dando origem ao ISIS e alimentando a expansão da Al-Qaeda, o Hezbollah libanês ajudou a prevenir o colapso do Estado em Damasco, lutando contra representantes ocidentais que ameaçavam transformar o país em um estado falido, como aconteceu na Líbia após a guerra de mudança de regime da OTAN em 2011.
Alguns legisladores norte-americanos defenderam abertamente no Congresso que era “algo bom” que o ISIS e outros extremistas sunitas estivessem atacando “o Hezbollah e a ameaça xiita para nós“. E um think tank (organização de influência social e política) israelense financiado pelo governo dos EUA e pela OTAN até insistiu em 2016 que o ISIS não deveria ser derrotado, precisamente porque poderia “ser uma ferramenta útil para minar” o Hezbollah, a Síria e o Irã.
Enquanto isso, ao passo que Israel tratava militantes da Al-Qaeda em seus hospitais e oficiais israelenses diziam que preferiam que o ISIS permanecesse no poder, o Hezbollah desempenhou um papel fundamental na luta para derrotar o ISIS e a Al-Qaeda, tendo ambos percorrido da Síria ao Líbano, dominando cidades fronteiriças de maioria sunita, as quais posteriormente usariam como base para iniciar ataques contra povoados libaneses de maioria xiita e cristã.
O Hezbollah expulsou com sucesso esses grupos extremistas jihadistas-salafistas e defendeu a soberania libanesa, em colaboração com milícias cristãs, sunitas e drusos, e o próprio exército nacional libanês.
Diante de seu próprio fracasso no componente militar da guerra na Síria, Washington se voltou então para a guerra econômica em larga escala.
A guerra econômica dos EUA no Líbano, Síria e Irã
Em junho, o governo americano impôs um regime esmagador de medidas coercitivas unilaterais à Síria, conhecido como as sanções “César”. Max Blumenthal, editor do The Grayzone, detalhou como as sanções dos EUA e da Europa contra a Síria equivalem efetivamente a um cerco de estilo medieval por todo o país, e de todos os milhões de civis que vivem dentro dele.
Especialistas humanitários até mesmo advertiram que a guerra econômica ocidental poderia desencadear uma fome. Mike Robson, representante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura na Síria, advertiu que em breve poderá haver escassez de pão na Síria. “Já existem algumas evidências de pessoas cortando refeições”, declarou ele.
O bloqueio econômico também prejudicou a economia do Líbano, que tem sido praticamente incapaz de fazer negócios com um de seus parceiros comerciais mais importantes. Em 2017, o Líbano foi de longe o maior destinatário de bens sírios, recebendo quase 32% de suas exportações. Agora, as sanções tornaram essa troca quase impossível.
Com efeito, o embaixador dos EUA declarou explicitamente que o Líbano não teria permissão para comprar energia da Síria devido às sanções César. O corte de energia imposto pelos EUA aos dois vizinhos exacerbou a crise de eletricidade no Líbano, onde muitas vezes há falta de energia por até 22 horas por dia.
O bloqueio econômico dos EUA ao Irã também causou uma escassez de combustível na Síria, forçando as pessoas a esperar nas filas por horas para obter gasolina.
Além disso, Damasco dependia do porto de Beirute para as importações antes da explosão. Agora que o seu sustento econômico fundamental foi destruído, o Líbano e a Síria enfrentam crises extremamente graves e uma séria possibilidade de fome.
Um economista sírio-estadunidense, analista financeiro e comentarista online proeminente, conhecido pelo pseudônimo de Ehsani, disse ao The Grayzone que “há poucas dúvidas” de que a guerra da Síria teve um impacto terrível na economia do Líbano.
Embora as políticas desastrosas e fiscalmente infundadas supervisionadas pelo banco central libanês – que também é fortemente influenciado pela embaixada dos EUA – tenham desempenhado um papel importante para levar a nação à beira do colapso econômico, a guerra contra a Síria também prejudicou a economia libanesa “em grande proporção”, disse Ehsani.
“O crescimento econômico claramente desacelerou desde 2011”, ano do início da guerra na Síria, explicou ele. “E ele estagnou nos últimos anos, levando à crise financeira. Entre 2016 e 2019, o crescimento econômico do Líbano foi praticamente zero. E continuou caindo de seus níveis anteriores a 2011 de forma constante”.
Embora a corrupção seja um problema endêmico no Líbano, ela tem assolado o país por décadas. Contudo, a mudança econômica fundamental ocorreu com a introdução da política dos EUA para exacerbar as crises na região a fim de desestabilizar governos independentes e enfraquecer o Eixo de Resistência, explicou o jornalista Elijah J. Magnier, um correspondente de guerra que cobriu a região durante décadas.
“As sanções dos EUA paralisaram a economia síria devido à restrição do fluxo de dinheiro, petróleo e maquinaria necessária para estimular novamente a economia local”, disse Magnier ao The Grayzone. “Além disso, a presença dos EUA no nordeste da Síria e seu controle do petróleo e do gás impediram o país não apenas de obter energia vital, mas também ricos recursos agrícolas pelos quais a área é conhecida”.
“As sanções dos EUA contra a Síria impediram todos os países árabes e do Golfo de reconstruírem o país e afastaram todos os investimentos financeiros possíveis”, disse ele. “Isto causou a desvalorização da moeda local e impediu o mercado libanês de oferecer uma alternativa à Síria por medo das sanções diretas ao governo libanês”.
Magnier acrescentou: “No que diz respeito ao Líbano, os EUA pediram a um banco local para recolher mais de 20 bilhões de dólares em dinheiro e enviá-lo ao exterior, criando uma forte ânsia por moeda estrangeira no país. Além disso, os EUA impuseram sanções aos libaneses ricos que vivem no exterior e a mais de um banco, injetando na população um grande medo de ser acusada de apoiar o terrorismo ou de ver suas economias confiscadas pelas autoridades norte-americanas no exterior. Isso levou o Líbano a uma escassez de vários bilhões de dólares em dinheiro que os membros da família costumavam mandar do exterior para seus parentes”.
Os EUA vangloriam-se do impacto das sanções no Líbano e o comandante do CENTCOM realiza uma visita
Embora imponham bloqueios econômicos de facto à Síria e ao Irã, os Estados Unidos atingiram o Líbano com várias rodadas do que chamam de “sanções direcionadas”. Essas sanções do Tesouro dos EUA ao Líbano procuraram punir o Hezbollah e seus aliados no setor governamental e empresarial.
Enquanto Washington retrata as sanções dirigidas como supostas medidas humanitárias que não prejudicam os civis, os especialistas econômicos afirmam que isso é claramente falso.
Ehsani, o economista sírio-estadunidense, disse ao The Grayzone: “O efeito das sanções dos EUA na região é pressionar a maioria das transações comerciais para a clandestinidade. Os elementos desonestos e ilegais normalmente preenchem o vazio à medida que mais negócios legítimos saem de cena. Tais negócios legítimos se comportam assim porque a maioria das organizações globais opta por seguir uma postura de ‘conformidade excessiva’ para evitar qualquer chance de se envolverem em tais transações”.
As sanções dos EUA também prejudicaram o Líbano pela “perda de potenciais influxos de dinheiro que haviam sido submetidos a um escrutínio significativamente maior por parte do Tesouro dos EUA”, acrescentou Ehsani. ” É difícil de determinar o quanto da média de 7 a 8 bilhões de dólares de influxo anual foi afetado por estas sanções “.
“Embora os capitais ocidentais falem de ‘sanções inteligentes’, o fato é que mesmo as indústrias isentas de sanções tendem a cair rapidamente sob o regime de sanções. Isto pode ser visto com os importadores de matérias-primas para medicamentos, por exemplo”, explicou ele.
“O que ficou claro é que sanções benignas são um mito”, disse Ehsani. “As sanções são semelhantes a bombardear os padrões de vida do cidadão comum”.
Antes da explosão de 4 de agosto, Washington mesmo reconheceu que suas sanções estavam afetando o Líbano.
Apenas duas semanas antes da explosão em Beirute, o órgão de comunicação estatal Voice of America (VOA) comemorou o efeito de suas medidas coercitivas. “As sanções dos EUA contra a Síria deixam o Hezbollah mais isolado no Líbano”, regozijou.
O relatório da VOA observou que o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, havia descrito as sanções dos EUA como parte de uma “guerra econômica” destinada a “matar de fome tanto a Síria quanto o Líbano”.
O grupo neoconservador United Against Nuclear Iran (UANI) tuitou sua aprovação ao artigo do VOA, insistindo que a rede de resistência “é vasta, mas pode ser contida.”
Este relatório do VOA veio na esteira de uma visita silenciosa, mas importante, que o comandante do Comando Central dos EUA (CENTCOM), o general Frank McKenzie, fez a Beirute em 8 de julho, para pressionar o Exército Libanês a se distanciar do Hezbollah e fortalecer seus laços com os militares dos EUA.
A embaixada dos Estados Unidos no Líbano informou que o comandante do CENTCOM se reuniu com altos funcionários políticos e militares libaneses. O presidente libanês Michel Aoun tuitou uma foto de uma reunião com McKenzie e com a embaixadora dos EUA, Dorothy Shea.
O veículo de mídia Al Arabiya, apoiado pela monarquia saudita, relatou alegremente a visita do CENTCOM, dizendo: “O general dos EUA declara apoio ao Líbano; Defensores do Hezbollah queimam fotos de Trump ”.
A visita silenciosa dos EUA demonstrou que, na véspera da explosão em Beirute, Washington já estava aumentando sua pressão sobre o governo do Líbano.
Governos ocidentais, ONGs e a mídia tentam culpar o Hezbollah pela explosão em Beirute
A explosão de 4 de agosto parece ter sido o resultado da explosão de milhares de toneladas de nitrato de amônia que o governo libanês confiscou de um navio abandonado em 2013 e que foi indevidamente armazenado no porto de Beirute, violando o protocolo de segurança.
O governo libanês, que renunciou uma semana após a explosão, atribuiu oficialmente o incidente à negligência. Mas o presidente Michel Aoun reconheceu que poderia ter sido possivelmente o resultado de um ataque.
Alguns residentes de Beirute disseram ao Asia Times que viram e ouviram aeronaves militares voando no céu momentos antes da explosão.
O Asia Times também relatou, citando autoridades ocidentais não identificadas, “que as embarcações de reconhecimento ocidentais estavam nos céus acima da costa libanesa no momento das explosões”, embora as autoridades tenham negado a realização de um ataque.
Um oficial do Comando Central dos EUA disse ao Asia Times que a “causa do primeiro incêndio / explosão ainda é uma questão sem resposta”, acrescentando que não há “evidências reais para apoiar ou confirmar” que tenha sido causado por nitrato de amônia, e que “outras alternativas ”são possíveis.
Embora o incidente pareça ter sido um acidente, alguns analistas libaneses sugeriram que a explosão poderia ter sido potencialmente um ataque de Israel, que ocupou militarmente o sul do Líbano por mais de 20 anos e travou uma guerra devastadora em 2006, bombardeando brutalmente o Líbano, deixando mais de 1.000 libaneses mortos e parte do país em ruínas.
Israel viola o espaço aéreo soberano do Líbano diariamente. Em 2019, a Força Interina das Nações Unidas no Líbano relatou uma média de 96,5 violações por mês. O secretário-geral da ONU, António Guterres, chegou a se pronunciar contra a agressão israelense, afirmando: “Reitero minha condenação a todas as violações da soberania libanesa e [faço] meu apelo a Israel para que cesse suas violações do espaço aéreo libanês”.
Apesar da presença de aeronaves ocidentais durante a explosão, a história de ataques israelenses e as constantes violações israelenses do espaço aéreo libanês, tem sido feita uma campanha orquestrada para tentar atribuir a explosão ao Hezbollah, conduzida pelos governos dos EUA e de Israel, uma coalizão de grupos de think tanks vorazes e uma parte considerável da mídia corporativa.
Não há sequer um vestígio de evidência ligando o Hezbollah à explosão. Na verdade, o grupo de resistência libanês teria tudo a perder se estivesse envolvido.
Mas isso não silenciou o Atlantic Council, think tank de facto da OTAN, que é generosamente financiado pelos governos dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Emirados Árabes Unidos, juntamente com as principais corporações bélicas e de petróleo. O Centro Rafik Hariri do Atlantic Council, apoiado pela monarquia do Golfo, tentou ligar o Hezbollah à explosão com nada além de insinuações.
Em seguida vem o diretor executivo da Human Rights Watch, Kenneth Roth. Nunca deixando algo como a escassez de evidências atrapalhar suas especulações sem sentido sobre os adversários estrangeiros de Washington, Roth imediatamente deixou implícito, após a explosão, que o Hezbollah era o responsável. Ele não forneceu nenhum fragmento de evidência; apenas seguiu seu instinto.
Os manifestantes pró-Ocidente no Líbano também aproveitaram o caos para pedir a dissolução da resistência armada libanesa.
Após a explosão, grupos anti-Hezbollah ocuparam edifícios do governo libanês e desenrolaram faixas pedindo a desmilitarização de Beirute – uma exigência óbvia para que o Hezbollah abaixasse suas armas e terminasse sua luta contra Israel.
A embaixada dos EUA em Beirute acolheu abertamente estas manifestações, tuitando: “Nós as apoiamos”.
EUA prometem “ajuda” enquanto intencionalmente agravam a crise econômica do Líbano
Ao mesmo tempo que a administração de Trump ameaça impor sanções mais agressivas ao Líbano, procurando punir as forças que apoiam o “Eixo de Resistência”, o governo dos EUA promete ajuda humanitária ao país.
Momentos após a explosão, Washington iniciou rapidamente suas operações de relações públicas, procurando se mostrar como um nobre protetor do Líbano.
O Secretário de Estado Mike Pompeo – o ex-diretor da CIA, que uma vez declarou: “Nós mentimos, trapaceamos, roubamos; tivemos cursos de treinamento completo ”- prometeu ajuda após a explosão.
A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), um braço de poder brando que Washington usa para desestabilizar governos estrangeiros que escolhe como alvo para mudanças de regime, anunciou que forneceria ajuda humanitária ao Líbano.
John Barsa, um neoconservador linha-dura e fiel a Trump, recentemente indicado como chefe da USAID, que usou explicitamente a pretensa agência de ajuda humanitária como uma arma para derrubar governos progressistas na América Latina, anunciou apoio ao Líbano no dia seguinte.
O Comando Central dos EUA revelou que eles estavam trabalhando com a USAID para distribuir suprimentos médicos para o Líbano.
Ironicamente, nas semanas anteriores à explosão, enquanto o governo do Líbano implorava por uma tábua de salvação econômica, Washington estava relutante em atendê-los.
Enquanto milhões de cidadãos libaneses batalhavam para colocar comida na mesa, o Fundo Monetário Internacional (FMI) também se recusava a entrar no jogo, o que confundiu muitos observadores internacionais. O que não foi mencionado na cobertura do comportamento do FMI foi o veto de facto que os EUA mantêm à organização, que é usada como um instrumento neoliberal do poder econômico de Washington.
“As condições do FMI incluem privatização e impostos que a sociedade libanesa não pode pagar”, explicou o jornalista Elijah Magnier ao The Grayzone. “Além disso, o FMI é controlado pelo governo dos Estados Unidos, que pede um novo regime sem o Hezbollah. Isso não é viável, pois o Hezbollah possui 13 deputados e conta com o apoio da maioria no parlamento.”
Magnier também enfatizou que quando o Líbano implantou um novo governo em meio a crise, com o primeiro-ministro Hassan Diab, Washington conduziu uma campanha de desestabilização.
“Com a formação de um novo governo, os EUA o boicotaram e pressionaram a Europa e os países do Golfo a cessar qualquer tipo de apoio, definindo-o como ‘o governo do Hezbollah’”, disse Magnier. “Essas medidas contribuíram para a caótica situação financeira do país, que também foi desencadeada por décadas de corrupção e má gestão por parte dos parceiros dos EUA que governaram o Líbano por todos esses anos.”
O lobby pró-Israel do Comitê Judaico Americano (AJC) mostrou suas verdadeiras intenções tuitando em 9 de agosto que a assistência internacional ao Líbano após a explosão “deve ser condicionada ao desarmamento do Hezbollah há muito prometido e evitado por muito tempo.”
O AJC deixou claro que a ajuda ocidental estará pairando sobre o Líbano como uma espada de Dâmocles, acrescentando: “A menos que o papel maligno do representante terrorista do Irã seja abordado, nunca haverá mudança significativa para o povo do Líbano.”
Magnier também destacou que o montante da ajuda internacional oferecida ao Líbano é relativamente pequeno. “35 países se reuniram para oferecer à ONU e ONGs no Líbano 300 milhões de dólares, o equivalente ao que o Hezbollah gastou em menos de cinco meses no país, apenas com salários”, disse.
Entretanto, enquanto milhões de civis libaneses padecem, analistas financeiros prevêem que a campanha de guerra econômica dos EUA e a “pressão máxima” continuará avançando.
“A política de sanções provavelmente permanecerá”, disse Ehsani ao The Grayzone. “Esta política é mais aceitável para o eleitorado ocidental médio do que o envolvimento militar direto. Os legisladores, portanto, após o fracasso no Iraque, provavelmente farão mais uso delas. Os governos regionais e os cidadãos comuns sofrerão o impacto dessa evisceração silenciosa de seu bem-estar econômico.”