Pesquisar

A rota do Afeganistão ao Haiti passa pelos Estados Unidos

Atualmente, Afeganistão e Haiti, dois dos países mais pobres do mundo, aparecem como prioridade da política externa dos Estados Unidos.

Atualmente, Afeganistão e Haiti, dois dos países mais pobres do mundo, aparecem como prioridade da política externa dos Estados Unidos. Por Pedro Brieger | Estrategia.la – Tradução de Pedro Marin para a Revista Opera
25 de agosto de 2021. Militares norte-americanos distribuem alimentos em apoio à missão humanitária da USAID no Haiti. (Foto: U.S. Navy / Jack D. Aistrup)

A distância entre o Afeganistão e o Haiti sugere que eles não têm nada em comum. Suas histórias, culturas, línguas, origens étnicas e geografia são incomparáveis, e é difícil encontrar algo que relacione com os dois países. No entanto, ele existe e é muito poderoso: os Estados Unidos.

Enquanto a principal potência mundial retira suas tropas do Afeganistão após quase vinte anos de ocupação, os soldados americanos voltam a desembarcar no Haiti. Agora, eles dizem que trazem ajuda humanitária por conta do recente terremoto de 14 de agosto e é possível que assim seja. É claro que a presença em 2021 se soma a uma longa lista de intervenções norte-americanas no pequeno país que divide a ilha de São Domingos com a República Dominicana.

Mais de um século atrás, em 1915, os marines desembarcaram após o assassinato do presidente Jean Vilbrun Guillaume Sam para proteger seus interesses e permaneceram – como no Afeganistão – por quase vinte anos. Naquela época, não havia Al Qaeda, nem se falava em “terrorismo islâmico”, e a União Soviética sequer havia nascido.

Mas já se falava em intervir para “salvaguardar os interesses norte-americanos”, frase tão vaga quanto ampla que permitiu aos Estados Unidos justificar inúmeras invasões tanto no Haiti – em diferentes momentos de sua história – quanto em outras partes do planeta.

Atualmente, Afeganistão e Haiti, dois dos países mais pobres do mundo, aparecem como prioridade da política externa dos Estados Unidos, conforme revelam os documentos de seu Congresso que criou o SIGAR – Inspeção Geral Especial para a Reconstrução do Afeganistão –, um órgão independente explicitamente dedicado a analisar a “reconstrução do Afeganistão”.

Em seu relatório de agosto intitulado “O que precisamos aprender: Lições de vinte anos de reconstrução no Afeganistão”, se levanta a necessidade de assimilar a experiência afegã para outras missões de reconstrução de “instituições, sociedade civil, economia e forças de segurança” de vários países, incluindo Haiti e Panamá.

Ao contrário do Afeganistão, que foi invadido em 2001, os Estados Unidos já investiram milhões de dólares em numerosos projetos de “ajuda” no Haiti para “estabelecer as instituições” desde aquela ocupação inicial no início do século XX. Entre as “ajudas” estava o apoio à brutal ditadura da família Duvalier que governou entre 1956 e 1986, e os milhões de dólares que foram para “reconstrução” após o terrível terremoto de 2010 sem que os resultados estejam à vista.

O Haiti continua a ser o país mais pobre da América, apesar de toda a “ajuda” dos Estados Unidos. Além de democratas e republicanos reivindicarem o direito de realizar tarefas de “reconstrução” de países sem ter recebido o mandato das Nações Unidas, há algo de falho  nessas “reconstruções” que não favorecem as populações locais. Disso o Afeganistão e o Haiti podem dar testemunho.

Continue lendo

O presidente do Equador, Daniel Noboa, chega ao Palácio de Carondelet, em novembro de 2023. (Foto: Carlos Silva-Presidencia de la República)
Como Daniel Noboa venceu no Equador e o que esperar do seu novo mandato
Garoto palestino em meio a escombros na Cidade de Gaza em 24 de agosto de 2014. (Foto: United Nations Photo / Flickr)
Exterminar Gaza sempre foi o plano de Israel, mas agora é oficial
Tanque da 118a Brigada Blindada das Forças de Defesa de Israel (IDF) durante operação em Rafah, em Gaza, em 13 de abril de 2025. (Foto: IDF)
A solução final de Israel para Gaza

Leia também

São Paulo (SP), 11/09/2024 - 27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo no Anhembi. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Ser pobre e leitor no Brasil: um manual prático para o livro barato
Brasília (DF), 12/02/2025 - O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, durante cerimônia que celebra um ano do programa Nova Indústria Brasil e do lançamento da Missão 6: Tecnologias de Interesse para a Soberania e Defesa Nacionais, no Palácio do Planalto. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O bestiário de José Múcio
O CEO da SpaceX, Elon Musk, durante reunião sobre exploração especial com oficiais da Força Aérea do Canadá, em 2019. (Foto: Defense Visual Information Distribution Service)
Fascista, futurista ou vigarista? As origens de Elon Musk
Três crianças empregadas como coolies em regime de escravidão moderna em Hong Kong, no final dos anos 1880. (Foto: Lai Afong / Wikimedia Commons)
Ratzel e o embrião da geopolítica: a “verdadeira China” e o futuro do mundo
Robert F. Williams recebe uma cópia do Livro Vermelho autografada por Mao Zedong, em 1 de outubro de 1966. (Foto: Meng Zhaorui / People's Literature Publishing House)
Ao centenário de Robert F. Williams, o negro armado
trump
O Brasil no labirinto de Trump
O presidente dos EUA, Donald Trump, com o ex-Conselheiro de Segurança Nacional e Secretário de Estado Henry Kissinger, em maio de 2017. (Foto: White House / Shealah Craighead)
Donald Trump e a inversão da estratégia de Kissinger
pera-5
O fantástico mundo de Jessé Souza: notas sobre uma caricatura do marxismo
Uma mulher rema no lago Erhai, na cidade de Dali, província de Yunnan, China, em novembro de 2004. (Foto: Greg / Flickr)
O lago Erhai: uma história da transformação ecológica da China
palestina_al_aqsa
Guerra e religião: a influência das profecias judaicas e islâmicas no conflito Israel-Palestina