Entre a pré-contagem e a contagem oficial dos votos das eleições parlamentares na Colômbia do último dia 13, houve uma diferença de quase 400 mil votos destinados à coalizão de centro-esquerda Pacto Histórico.
Com o “reaparecimento” destes votos, o Pacto Histórico, liderado pelo candidato presidencial Gustavo Petro, conquista mais três vagas ao Senado, assumidas pelo líder camponês César Pachón, pela dirigente do Sindicato dos Educadores de Santander Sandra Yaneth Jaimes e pelo jornalista Paulino Riascos. O diretor nacional da Registraduria Nacional da Colômbia, entidade governamental responsável pela contagem de votos, Alexander Vega Rocha, declarou que “se houve fraude por parte de alguns jurados, essas ações serão levadas ao conhecimento do Ministério Público”, dando indicação da dura batalha que esta eleição parlamentar já implicou.
Seja como for, com a contagem oficial o Pacto Histórico passou de 16 assentos no Senado (de acordo com a pré-contagem) para 19 (9 mais do que nas últimas eleições), tornando-se a força política com o maior número dentre os 100 reservados na câmara alta do país. Na Câmara dos Deputados, o Pacto conquistou 27 assentos, 19 mais do que nas eleições anteriores.
A força do Pacto Histórico contrasta com a queda do Centro Democrático, partido do uribismo e do atual presidente colombiano Iván Duque, que ficou com 13 cadeiras no Senado (6 menos do que nas eleições anteriores) e 16 na Câmara dos Deputados (16 menos do que nas últimas eleições).
Esse maior equilíbrio no Congresso, decorrente em parte das mobilizações sociais de 2019 e 2020 e da grave crise financeira, econômica, social e de segurança vivida pela Colômbia, não indica, no entanto, uma virada radical na política colombiana. Primeiro, porque calcula-se que a direita terá cerca de 50% do Senado. Segundo, porque já há uma crescente pressão para que o ex-guerrilheiro Gustavo Petro faça acenos aos empresários colombianos e opte por um vice-presidente mais moderado (provavelmente um membro do Partido Liberal). Terceiro, porque apesar da derrota do uribismo (o atual presidente tem um índice de reprovação de 78%), a tendência à unificação da direita em torno de Federico “Fico” Gutiérrez parece clara: nas próprias eleições internas interpartidárias, foi evidente que Fico conquistou, para sua coalizão Equipo por Colombia, uma parte considerável dos votos do uribismo.
Na última sondagem para as eleições presidenciais que ocorrerão no próximo 29 de maio, lidera Gustavo Petro, com 32% das intenções de votos. Ele é seguido por Fico, com 23% – o candidato tinha só 4% das intenções de votos em fevereiro. O centro-direitista Sergio Fajardo tem 10% das intenções, mesma cifra de Rodolfo Hernández, que maneja um discurso populista em torno da questão da corrupção. Há ainda Íngrid Betancourt (3%), do partido Verde Oxígeno; Enrique Gómez (1%), do Movimiento de Salvación Nacional; e Luis Pérez, sem partido, com 0,5%.
Se as eleições para o Congresso, mesmo com a histórica vitória da esquerda, consolidaram uma paradoxal situação em que não há mudança, mas tampouco continuísmo, tudo aponta para um outro paradoxo – ou ao menos uma tentativa de consolidá-lo – nas eleições presidenciais: a permanência de um uribismo sem uribismo. O próprio ex-presidente Álvaro Uribe já fez declarações sobre a necessidade de uma “ampla coalizão” para derrotar Gustavo Petro, ao passo que se esquiva de indicar claramente seu candidato porque, a esta altura, tal apoio poderia mais atrapalhar do que ajudar.
Não fosse pela situação eleitoral interna, a tendência a uma direita em bloco existiria em um momento em que, confrontando-se com a Rússia na questão ucraniana, Washington busca assegurar e reforçar sua ingerência na América Latina. Sinalização clara foi dada por Biden, ao receber Duque em Washington na semana passada e a anunciar que designará a Colômbia como “aliado importante fora da Otan”.