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Consciência e coragem para apostar tudo no povo

Não é verdade que nos resta apenas escolher o menos pior, entrar no vale-tudo para tirar Bolsonaro: o que nos interessa é um programa que reverta as medidas criminosas desse governo contra o povo.
Não é verdade que nos resta apenas escolher o menos pior, entrar no vale-tudo para tirar Bolsonaro: o que nos interessa é um programa que reverta as medidas criminosas desse governo contra o povo. Por Isis Mustafa | Revista Opera
Manifestações nacionais contra a fome, o desemprego e pelo Fora Bolsonaro no último 2 de abril ocuparam supermercados em mais de 10 capitais. (Foto: Jornal A Verdade)

Na luta pela sobrevivência, chegamos ao quarto ano do governo militar e corrupto de Bolsonaro. Vivendo os suplícios desses quatro anos, a juventude e os trabalhadores anseiam por uma salvação. Como saída, a palavra “democracia” aparece nas bandeiras dos que pretendem superar este governo em outubro. Todas as peças se reorganizam no tabuleiro do chamado jogo político institucional. A defesa da democracia, do Estado de direito e da reconstrução do país está na boca até mesmo daqueles que ajudaram a eleger e sustentaram Bolsonaro no poder. Deste jogo, o povo parece ser apenas espectador. 

No meio desse baile de máscaras, nos perguntamos: só temos uma saída?

Os democratas

É esperado que nesta sexta-feira (08) Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo pelo PSDB, se consagre como candidato a vice-presidente da República na chapa de Lula (PT). “Vamos reconstruir o Brasil porque somos dois democratas, gostamos da democracia e temos como prova o exercício dos nossos mandatos”, afirmou Lula em sua conta do Twitter. Mas a qual democracia o ex-presidente se refere? 

O direito dos estudantes à educação pública e dos trabalhadores à greve, por exemplo, são expressões democráticas asseguradas pela Constituição brasileira de 1988. No entanto, Geraldo Alckmin, quando governador de São Paulo em 2015, rasgou essas páginas da carta-magna: se recusou a atender os professores que exigiam reajuste salarial, mandando cortar o ponto dos grevistas, além de coordenar a covarde violência policial contra os estudantes que lutavam para que suas escolas permanecessem abertas. 

Esses episódios não passaram de reprises dos massacres de 2013, quando o governador e os prefeitos ordenavam à Polícia Militar que jogasse bombas nas manifestações contra o aumento das passagens. No dia 13 de junho daquele mesmo ano, 240 pessoas foram detidas e até jornalistas foram feridos pela truculência da PM. 

Geraldo Alckmin foi denunciado pelo Ministério Público Eleitoral em 2020 por caixa dois, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica durante as campanhas de 2010 e 2014, quando teria recebido R$11,9 milhões da empreiteira Odebrecht. O ex-governador é conhecido também pelos estudantes de São Paulo como “ladrão de merenda”, desde as denúncias envolvendo-o no esquema que desviava verbas através da compra de alimentos para as escolas públicas, além de ter tido seu nome associado às fraudes em contratos do Metrô de São Paulo.

“Como prova o exercício dos seus mandatos”, a democracia que Alckmin representa está mais para ditadura!

Em tempo: se para receber o título de democrata basta apenas respeitar a eleição e as instituições, há muitos senhores que nem assim merecem essa honra, pois seus partidos articularam um golpe de estado contra a presidenta eleita, Dilma Rousseff em 2016. 

Inferno na terra

A verdade é que pra quem vive de trabalho no Brasil, a vida se tornou um verdadeiro inferno. E isso justifica a ânsia popular para tirar Bolsonaro e os militares do poder imediatamente.

Nos últimos dois anos, o número de pessoas que passam fome saiu de 10,3 milhões para 19,1 milhões. Os dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania Alimentar indicam que 116,8 milhões vivem com insegurança alimentar, ou seja, mais da metade da população.

Apenas 34,6 milhões de trabalhadores têm direito às férias e 13º salário, equivalente a um terço das pessoas que estão no mercado de trabalho. Mesmo para essa minoria que ainda tem a sorte de ter um emprego, o alto custo de vida é insustentável: com o litro do óleo de soja a R$8 e o botijão de gás a R$130, as famílias precisam escolher entre comer e pagar o aluguel. Sem contar as mais de 12 milhões de pessoas que precisam e querem trabalhar, mas não encontram vagas. 

Não é à toa, portanto, que as revoltas contra este governo crescem. No último dia 2 de abril, movimentos populares da articulação Povo Na Rua convocaram uma manifestação nacional contra a fome, o desemprego e pelo Fora Bolsonaro. Este ato culminou na ocupação de supermercados do Grupo Pão de Açúcar em pelo menos 10 capitais, denunciando que enquanto os monopólios obtiveram lucros astronômicos neste governo, as famílias trabalhadoras vivem a realidade da fome e do desespero. 

Enquanto isso, no Rio de Janeiro, os garis fazem uma greve que já dura duas semanas, reivindicando reajuste justo dos seus salários. Em Minas Gerais, os professores da rede estadual estão em greve há mais de 20 dias, realizando grandes manifestações, para que o piso da categoria seja pago. 

O povo sabe que é preciso lutar para sair do inferno. 

Poder popular é a verdadeira democracia

De fato, qualquer governo que represente os interesses dos monopólios, do agronegócio e do capital financeiro, será inevitavelmente uma ditadura em cima de quem só tem o suor e o sangue para dar em troca da sobrevivência. 

Isso por que são inconciliáveis os interesses da Mubadala Investment Company, que no governo Bolsonaro comprou a preço de banana a refinaria de petróleo Landulpho Alves, na Bahia, e do povo baiano que agora sofre com desabastecimento e pagao R$7,40 no litro da gasolina.

Não é verdade que nos resta apenas escolher o menos pior, entrar no vale-tudo para tirar Bolsonaro, porque no final das contas, o que nos interessa é um programa que reverta as medidas criminosas desse governo contra o povo. 

Para resolver o problema do desemprego e da carestia, é preciso exercer o poder para interromper a festa dos ricos em nosso país. O Brasil, que é um dos maiores produtores de grãos, frango, carne e frutas do mundo, não pode mais ficar na mão dos patrões, refém das multinacionais, enquanto os trabalhadores que plantam e produzem passam fome. 

Será verdadeiramente democrático e popular um governo que enfrente os capitalistas, reestatizando as refinarias e gasodutos privatizados, para controlar o preço do gás de cozinha e da gasolina; aumentando os impostos sobre a exportação do agronegócio; realizando uma reforma agrária profunda para arrancar da mão dos latifundiários as terras produtivas e devolver aos trabalhadores do campo o direito de plantar e colher. 

A história da humanidade prova que só há um caminho: os trabalhadores, os jovens, as mulheres, todos os explorados precisam se unir e lutar. Somos a maioria da população contra uma ínfima minoria de ricos. Essa sim é nossa única opção.

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