Pesquisar
,

O plano C da direita já está em marcha na Colômbia

Inesperada ascensão de Rodolfo Hernández, na Colômbia, pode reassegurar establishment oligárquico contra a candidatura progressista de Petro. Para vencê-lo, o Pacto Histórico teria de encontrar 1 milhão de votos entre abstencionistas.

Inesperada ascensão de Rodolfo Hernández, na Colômbia, pode reassegurar establishment oligárquico contra a candidatura progressista de Petro. Para vencê-lo, o Pacto Histórico teria de encontrar 1 milhão de votos entre abstencionistas. Por Marcos Salgado | CLAE – Tradução de Pedro Marin para a Revista Opera
(Foto: Gustavo Petro Urrego)

Haverá um segundo turno na Colômbia para definir quem será o próximo presidente, cenário previsto em pesquisas anteriores, que também antecipavam uma grande vitória para o candidato progressista Gustavo Petro, que ultrapassou 40% dos votos e liderou por doze pontos em relação ao segundo colocado.

Na Argentina, ou na Bolívia, por exemplo, essa retumbante vitória teria sido suficiente para ele se consagrar presidente sem mais delongas, mas na Colômbia é preciso chegar a metade dos votos mais um no primeiro turno para evitar o segundo turno, um objetivo sempre muito complexo num país onde, mais uma vez, pouco mais da metade dos eleitores votou.

A surpresa do dia foi Rodolfo Hernández, que alcançou 28% dos votos válidos e desbancou o candidato do uribismo, Federico Gutierrez, que arranhou 24%. Muito atrás ficou o centro, com Sergio Fajardo e seus 4%.

Uma primeira leitura mostra o uribismo como o grande perdedor. Está claro que o presidente Iván Duque está saindo pela porta dos fundos: o repúdio de sua gestão esteve presente nos votos para Petro, e também nos para Hernández. Este ex-prefeito de Bucaramanga, que cresceu nas últimas semanas com um discurso anticorrupção e vagas promessas de ajuda direta a setores negligenciados. Seu cavalo de batalha era o slogan de tirar o talão de cheques dos políticos corruptos. E que se dê para ele, que, aliás, deixou a prefeitura de Bucaramanga por causa de uma investigação de peculato.

Alguns o chamam de Trump colombiano, devido a algumas semelhanças em seu perfil com o americano. É empresário, milionário, de direita, misógino declarado, mas com discurso populista. Estilo Trump, e estilo Bolsonaro, no Brasil.

O candidato de Uribe, Fico Gutierrez, sem que ninguém lhe perguntasse, anunciou na noite de domingo que votará em Hernández; seus 5 milhões de eleitores também certamente o farão, instigados pelo fantasma do presidente Petro. Os votos do centro e de outros candidatos também parecem mais próximos de Hernández do que de Petro, mas não são vitais.

Se essa transferência de votos funcionar sem surpresas, Hernández seria o próximo presidente da Colômbia, e o establishment oligárquico colombiano terá resolvido a ameaça de uma vitória histórica para o progressismo, recorrendo ao plano C. O plano A era Fico Gutierrez, que não conseguiu carregar a pesada carga que Duque e Uribe lhe deixaram, o B, a suspensão definitiva das eleições, com a qual flertam setores do partido no governo, e o C, Hernández, candidato “outsider”, mas nem tanto. Um suposto candidato anti-sistema (estilo Trump ou Bolsonaro) que na verdade vem para garantir os interesses dos donos desse sistema.

Gustavo Petro, por sua vez, cresceu em votos em relação à campanha de 2018, mas ainda não o suficiente. Precisa, como disse na noite de domingo, de mais um milhão de votos. Votos que, ao que parece, devem vir de novos eleitores, ou seja, de eleitores que não participaram do primeiro turno. Uma missão difícil, mas não impossível.

Talvez a chave para o triunfo do progressismo esteja em Francia Márquez, sua candidata a vice-presidente, e o que ela representa. Será o voto das mulheres pobres colombianas a chave para deter o plano C da oligarquia na Colômbia?

Continue lendo

Entre 1954 e 1975, as forças armadas dos Estados Unidos lançaram 7,5 milhões de toneladas de bombas sobre o Vietnã, o Laos e o Camboja, mais do que as 2 milhões de toneladas de bombas lançadas durante a Segunda Guerra Mundial em todos os campos de batalha. No Vietnã, os EUA lançaram 4,6 milhões de toneladas de bombas, inclusive durante campanhas de bombardeios indiscriminados e violentos, como a Operação Rolling Thunder (1965-1968) e a Operação Linebacker (1972). (Foto: Thuan Pham / Pexels)
O Vietnã comemora 50 anos do fim do período colonial
"Pepe" Mujica, ex-guerrilheiro Tupamaro e ex-presidente do Uruguai, falecido em 13 de maio de 2025. (Foto: Protoplasma K / Flickr)
Morre José Mujica: o descanso do guerreiro
A cantora e agricultora americana Kelis é a mais recente celebridade a se aventurar na África Oriental, supostamente sob o pretexto da sustentabilidade. (Foto: Kelis / Instagram / Reprodução)
O pan-africanismo sob o domínio das elites

Leia também

São Paulo (SP), 11/09/2024 - 27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo no Anhembi. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Ser pobre e leitor no Brasil: um manual prático para o livro barato
Brasília (DF), 12/02/2025 - O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, durante cerimônia que celebra um ano do programa Nova Indústria Brasil e do lançamento da Missão 6: Tecnologias de Interesse para a Soberania e Defesa Nacionais, no Palácio do Planalto. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O bestiário de José Múcio
O CEO da SpaceX, Elon Musk, durante reunião sobre exploração especial com oficiais da Força Aérea do Canadá, em 2019. (Foto: Defense Visual Information Distribution Service)
Fascista, futurista ou vigarista? As origens de Elon Musk
Três crianças empregadas como coolies em regime de escravidão moderna em Hong Kong, no final dos anos 1880. (Foto: Lai Afong / Wikimedia Commons)
Ratzel e o embrião da geopolítica: a “verdadeira China” e o futuro do mundo
Robert F. Williams recebe uma cópia do Livro Vermelho autografada por Mao Zedong, em 1 de outubro de 1966. (Foto: Meng Zhaorui / People's Literature Publishing House)
Ao centenário de Robert F. Williams, o negro armado
trump
O Brasil no labirinto de Trump
O presidente dos EUA, Donald Trump, com o ex-Conselheiro de Segurança Nacional e Secretário de Estado Henry Kissinger, em maio de 2017. (Foto: White House / Shealah Craighead)
Donald Trump e a inversão da estratégia de Kissinger
pera-5
O fantástico mundo de Jessé Souza: notas sobre uma caricatura do marxismo
Uma mulher rema no lago Erhai, na cidade de Dali, província de Yunnan, China, em novembro de 2004. (Foto: Greg / Flickr)
O lago Erhai: uma história da transformação ecológica da China
palestina_al_aqsa
Guerra e religião: a influência das profecias judaicas e islâmicas no conflito Israel-Palestina