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Cuba deve ser removida da lista dos EUA de Estados patrocinadores do terrorismo

Cuba não é um estado patrocinador do terrorismo, mas um estado patrocinador do bem-estar global.
Cuba não é um estado patrocinador do terrorismo, mas um estado patrocinador do bem-estar global. Por Roger Waters, Vijay Prashad e Manolo de Los Santos | Globetrotter – Tradução de Pedro Marin para a Revista Opera
Médica cubana prestando apoio a vítimas do Ciclone Idaí, em Moçambique. (Foto: Rafael Stedile / Brasil de Fato)

Os Estados Unidos mantêm uma lista de países que consideram como “patrocinadores do terrorismo”. Há atualmente quatro países nesta lista: Cuba, Coreia do Norte, Irã e Síria. A ideia fundamental por trás desta lista é que o Departamento de Estado dos EUA determina que esses países “ofereceram apoio a atos de terrorismo internacional”. Nenhuma evidência sobre esses “atos” é oferecida pelo governo dos EUA. No caso de Cuba, não há uma fagulha de evidência de que seu governo ofereceu qualquer apoio a atividades terroristas. Na realidade, Cuba foi – desde 1959 – vítima de atos de terrorismo por parte dos Estados Unidos, incluindo a tentativa de invasão de 1961 (Baía dos Porcos) e as repetidas tentativas de assassinato contra seus líderes (638 delas contra Fidel Castro).

Cuba, ao invés de exportar armas ao redor do globo, tem uma longa trajetória de medicina internacionalista, com médicos e remédios cubanos sendo uma visão familiar do Paquistão ao Peru. Há inclusive uma campanha internacional para que os médicos cubanos recebam o Prêmio Nobel da Paz. Por que um país que inunda o mundo de assistência médica seria apontado como um estado patrocinador do terrorismo?

A vingança de Washington

Cuba deixou de estar na lista de estados apoiadores do terrorismo a partir de 2015, quando o presidente Barack Obama a removeu do documento (Cuba foi colocada na lista pela primeira vez em 1982, pelas mãos do presidente Ronald Reagan). Na sua última semana na presidência, e dias antes de Joe Biden tomar posse, o ex-presidente Donald Trump recolocou Cuba nesta lista, no dia 12 de janeiro de 2021. Os comentários feitos pelo então Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, forneceram uma estranha justificativa para essa ação: apesar de Cuba ter sido removida da lista em 2015, cinco anos antes, Pompeo disse que “por décadas, o governo cubano alimentou, alojou e deu assistência médica a assassinos, fabricantes de bombas e sequestradores”.

A frase “por décadas” sugere que a administração Trump foi além de 2015, não avaliando a situação em Cuba durante os cinco anos desde que foi removida da lista, mas sim voltando a uma era anterior à ação de Obama. Não houve novas evidências de que algo tenha mudado desde 2015, o que mostra que as ações de Trump eram puramente políticas (para bajular a extrema-direita que continua a querer conduzir uma mudança de regime em Cuba e anular o maior número possível de políticas adotadas por Obama).

Os Estados Unidos realizam um bloqueio contra Cuba desde 1959, quando a Revolução Cubana iniciou um processo para transformar o país governado por gângsteres (incluindo a máfia norte-americana) em um país que atendesse às necessidades de seu povo. A revolução desenvolveu programas para alfabetização e saúde e para construir a confiança cultural do povo, há muito suprimida pelo colonialismo espanhol e norte-americano. A elite dos Estados Unidos estava ansiosa para extinguir o exemplo de Cuba, que mostrava que mesmo um país pobre poderia transcender as condições socioeconômicas da pobreza. Todos os anos, desde 1992, quase todos os países do mundo – 184 de 193 na última contagem – votam na Assembleia Geral das Nações Unidas para condenar o bloqueio a Cuba.

Removam Cuba da lista

A designação de Cuba como um estado patrocinador do terrorismo pelos Estados Unidos prejudica profundamente a capacidade do governo cubano e de seu povo de continuar com as funções básicas da vida. O imenso poder do governo dos Estados Unidos sobre o sistema financeiro mundial faz com que bancos e comerciantes se recusem a fazer negócios com Cuba, pois temem uma retaliação do governo dos Estados Unidos por romper o bloqueio. É impressionante saber que por causa desse bloqueio, e apesar dos murmúrios do governo dos EUA sobre exceções médicas, empresas se recusam a vender a Cuba matérias-primas, agentes reativos, kits de diagnóstico, medicamentos e dispositivos farmacêuticos e uma série de outros materiais necessários para operar o excelente, mas estressado, sistema público de ciência e saúde de Cuba.

O presidente dos EUA, Joe Biden, pode remover Cuba desta lista com uma canetada. É simples assim. Quando estava concorrendo à presidência, Biden disse que reverteria as sanções mais duras de Trump e voltaria às políticas do governo Obama. Mas ele não o fez, o que pode ser por razões de conveniência política. Há uma veia de vingança que permeia as políticas dos EUA contra Cuba, uma ilha que provou durante a pandemia que seu processo revolucionário se preocupa com seu povo. O exemplo da saúde pública em Cuba, apesar de ser uma pequena nação insular, deve ser exportado para todo o mundo. O país não é um estado patrocinador do terrorismo, mas um estado patrocinador do bem-estar global.

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