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O buraco nas investigações sobre o ataque golpista é o papel do GSI e do Exército

Indagado sobre papel do Batalhão da Guarda Presidencial na defesa do Palácio do Planalto, Exército joga responsabilidade no GSI, dizendo que todas as demandas do órgão foram atendidas.
Indagado sobre papel do Batalhão da Guarda Presidencial na defesa do Palácio do Planalto, Exército joga responsabilidade no GSI, dizendo que todas as demandas do órgão foram atendidas. Por Rubens Valente | Agência Pública
Batalhão da Guarda Presidencial, responsável pela defesa do Palácio do Planalto, após os atos terroristas de domingo (8). (Foto: Rubens Valente / Agência Pública)

Na noite desta terça-feira (10), no que pode ter sido a primeira manifestação oficial do Exército sobre os ataques golpistas do domingo (8), o órgão respondeu a um pedido de informações feito pela Agência Pública sobre o papel do BGP (Batalhão da Guarda Presidencial), responsável pela defesa do Palácio do Planalto. A resposta, curta, não elimina dúvidas pontuais do que se passou naquela tarde, mas credita ao GSI (Gabinete de Segurança Institucional) do Palácio do Planalto um papel fundamental na organização da defesa do prédio: “O Centro de Comunicação Social do Exército esclarece que a segurança do Palácio do Planalto é coordenada pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Todas as demandas do GSI nesse sentido, apresentadas ao Exército Brasileiro, foram atendidas oportunamente na ocasião”.

A nota abre dúvidas que poderiam ser esclarecidas a partir de investigações presididas por autoridades civis — e não por militares. Basta ver o caso, coberto por sigilo e que resultou em nada, sobre a participação do general da reserva Eduardo Pazuello em manifestação política. Articula-se no Congresso a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que poderia requisitar todos os documentos e registros de chamadas telefônicas das autoridades e órgãos militares a fim de reconstituir as solicitações e as respostas, minuto a minuto.

Ajudaria a esclarecer, principalmente, se houve falhas dos militares por incompetência, erros de avaliação ou por má-fé, hipótese que seria muito mais grave dada a estreita proximidade dos militares do BGP e do GSI no dia a dia do presidente da República. O papel da Polícia Militar e da Secretaria de Segurança Pública na crise de domingo está sendo todo avaliado pela PF, pelo STF e pelo interventor federal na segurança pública do DF, já com prisões decretadas, mas o papel dos militares do Exército segue em aberto.

A nota do Exército enviada à Pública contradiz informações esparsas que têm aparecido na imprensa e nas redes sociais desde o domingo sobre o comportamento do GSI naquele domingo. São versões que, se confirmadas, amenizam a responsabilidade do Gabinete, todo ele formado por militares, muitos ainda remanescentes da gestão de Jair Bolsonaro, embora hoje comandado por outro general da reserva, homem da confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gonçalves Dias. Nesta terça-feira (10), por exemplo, “O Globo” publicou que o Lula “foi informado de que o GSI convocou três vezes o batalhão do Exército para proteger o Palácio do Planalto, mas que, mesmo assim, o contingente foi insuficiente”.

Mas o Exército agora afirma à Pública que respondeu positivamente a todas as demandas do GSI. Uma CPI poderá receber do GSI os registros de todos os pedidos e conferir com as respostas dadas pelo Exército.

Imagens que circularam em redes sociais na manhã desta quarta-feira (11) mostram militares do Exército tentando, na tarde do ataque, fazer uma barreira de contenção em frente ao Palácio do Planalto, mas não se vê golpistas próximos. Ou seja, a barreira teria sido formada antes da invasão. Não está claro quem gravou o vídeo – teria sido um oficial da Polícia Militar do DF – e como as imagens chegaram às redes sociais. Também não fica claro em que momento e como a barreira foi rompida. Por outro lado, as imagens mostram que o Planalto não ficou totalmente desguarnecido e abandonado e que, sim, pelo menos houve uma tentativa de contenção, ainda que atabalhoada e inepta. O BGP, que existe desde o século 19, inclui uma tropa de choque equipada com escudos e armas de menor letalidade para enfrentar multidões à semelhança das tropas das polícias militares nos Estados e no DF.

 Leia também – Mourão, o Partido Fardado e o novo totem [parte I] 

A Pública requisitou à Secom (Secretaria de Comunicação Social) do governo federal na manhã de ontem (10) as imagens captadas pelo circuito interno e externo do Palácio do Planalto na tarde do domingo, mas não houve qualquer resposta até o fechamento deste texto. Também indagou se as imagens foram de fato captadas – não houve resposta. Toda a área do palácio é intensamente monitorada por câmeras de segurança. Com acesso a elas, uma investigação poderá mais facilmente reconstituir o papel do BGP e do GSI. A Secom também não deu qualquer resposta a diversas perguntas sobre o funcionamento do GSI.

Em uma entrevista coletiva concedida na frente do Planalto no dia seguinte à tentativa de golpe, a Pública indagou ao ministro da Secom, Paulo Pimenta (PT-RS), sobre o comportamento do Batalhão da Guarda Presidencial no dia do ataque. “Essa pergunta é uma pergunta que não é exatamente da maneira como está sendo colocada. Será feita uma apuração de todas as condutas. Nós temos uma apuração que envolve troca de informações sobre a inteligência do GSI, da Polícia Federal, de todos os órgãos que atuam na área de inteligência. Evidentemente que nós ainda estamos com o processo em curso, ninguém apura as coisas que aconteceram enquanto nós ainda estamos enfrentando uma tentativa de golpe […]. No momento em que todas essas apurações forem feitas, com certeza o resultado delas será disponibilizado.”

Indagado sobre quem faria a apuração, o ministro não respondeu.

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