O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apontou neste sábado (21) um novo comandante para o Exército. O general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva deixa o Comando Militar do Sudeste para substituir o agora ex-comandante general Júlio César de Arruda, demitido por Lula em meio à crise que se instalou entre o governo e as Forças Armadas desde os atos golpistas de 8 de janeiro. Próximo de políticos tucanos, Tomás era citado por petistas desde o final de 2022 como uma possível ponte de Lula com o Exército.
General desde julho de 2019, o general Ribeiro Paiva nasceu em 1960, na cidade de São Paulo, filho de Clibas Ribeiro Paiva, professor e diretor escolar, e da também educadora Maria Conceição Miné Ribeiro Paiva. Entrou no Exército pela Escola Preparatória de Cadetes, em Campinas, em 1975. Passou pelo 7º Batalhão de Infantaria Blindado, em Santa Maria (RS), o 26º Batalhão de Infantaria Paraquedista, no Rio de Janeiro (RJ) e o 33º Batalhão de Infantaria Motorizado, em Cascavel (PR). Foi instrutor da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), subcomandante da Companhia de Precursores Paraquedista, Ajudante de Ordens do Presidente Fernando Henrique Cardoso e Assessor Militar do Brasil junto ao exército equatoriano.
Foi também Subcomandante do Batalhão de Infantaria de Força de Paz do 7º CONTBRAS, durante a missão brasileira no Haiti, e Comandante da Força de Pacificação da Operação Arcanjo VI, operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nos complexos da Penha e Alemão, no Rio de Janeiro, em 2012. No final de julho de 2015, foi transferido ao cargo de Chefe do Gabinete do Comandante do Exército, durante o comando de Eduardo Villas Bôas.
No cargo, subordinado a Villas Bôas, o general Tomás Miguel acompanhou as polêmicas nas quais seu superior esteve envolvido. Em 2016, foi ele quem respondeu um requerimento do deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) sobre a infiltração do então capitão do Exército Willian Pina Botelho em um grupo de manifestantes que acabou detido enquanto se reunia para uma manifestação contra Michel Temer, em 4 de setembro de 2016. Na resposta, Tomás Miguel afirmou que a ação de Botelho ocorreu porque, no mesmo dia, a tocha paraolímpica passaria pela avenida Paulista, e disse que “não há que se falar em infiltração”, e sim em “monitoramento”.
Em 2018, após o atual senador (e então general da ativa), Hamilton Mourão, falar em golpe durante uma palestra em uma loja maçônica de Brasília, também coube ao general Paiva, em nome de Villas Bôas, responder a um questionamento da Procuradoria da República do Distrito Federal. No documento assinado por Paiva, afirmava-se que Mourão “em nenhum momento destoou do posicionamento institucional do Exército de respeito integral ao mandamento do artigo 142 da Constituição”, e que “a manifestação do general Mourão não foi de encontro a nenhuma norma constitucional. Pelo contrário, o oficial manifestou-se no sentido de que o Exército não se furtará a cumprir sua missão, caso se verifique a existência das condicionantes constitucionais para a atuação castrense”. O Gabinete do Comandante afirmava ainda que “o fato se encontra esclarecido e solucionado, não tendo havido quebra dos pilares estruturais da hierarquia e da disciplina, não havendo, portanto, necessidade de instauração de procedimento apuratório formal”.
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A relação entre o hoje Comandante do Exército, general Tomás Miguel, e o ex-comandante Villas Bôas remonta ao menos à década de 1980, quando Villas Bôas comandava sua turma de infantaria da AMAN. No livro “General Villas Bôas: Conversa com o comandante” (FGV, 2021), de Celso Castro, ao tratar do episódio do tuíte na véspera do julgamento de habeas corpus de Lula, em 2018, o então comandante do Exército diz que “o texto [do tuíte] teve um ‘rascunho’ elaborado pelo meu staff e pelos integrantes do Alto-Comando residentes em Brasília.” Mais à frente, em outro contexto, o comandante diz: “Meu staff imediato era integrado pelos generais Tomás, chefe de gabinete […], o general Rêgo Barros na Comunicação e o general Poty […]”. No livro, Tomás não é citado nominalmente no trecho do tuíte, não sendo claro se o atual Comandante do Exército, apontado por Lula, participou do infame episódio – mas seria estranho que não tivesse participado. E, segundo o general, os membros de seu staff “jamais deixaram de me contrariar quando julgaram necessário”.
Em função de ser apontado na imprensa, no final do ano passado, como uma possível ponte entre o novo governo Lula e o Exército, o atual Comandante do Exército, general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, entrou na mira de bolsonaristas, dentre eles o comentarista da Jovem Pan, Paulo Figueiredo Filho, que disse que ele e outros dois generais (Richard Nunes e Valério Stumpf) teriam “posições ideológicas muito à esquerda”. Nas redes sociais, perfis bolsonaristas atribuíam a Tomás a velha pecha de “general melancia”. O general Villas Bôas pagou com lealdade as quatro décadas de amizade com o atual Comandante do Exército numa nota que encerrou de forma bastante misteriosa: “Fui surpreendido por fake news tentando difamar a imagem de três generais […], Tomás, Stumpf e Richard. […] Posso atestar, portanto, a higidez de caráter, a coragem e a lealdade, tanto pessoal como a que devotam às normas que regem a instituição Exército. Nesse momento extremo que a nação atravessa é imprescindível que a solidez das estruturas do Exército sejam preservadas. A história ensina que sempre que essas condições foram negligenciadas, produziu-se catástrofe para ela própria e para a Nação. Nossa força, em algum momento, pode ser instada a agir.”