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Burkina Faso expulsa as tropas francesas

Após novo golpe, Burkina Faso determina expulsão de tropas francesas, mas presença dos EUA e Grã-Bretanha no Sahel se mantém.
Após novo golpe, Burkina Faso determina expulsão de tropas francesas, mas presença dos EUA e Grã-Bretanha no Sahel se mantém. Por Vijay Prashad | Globetrotter – Tradução de Pedro Marin para a Revista Opera
Militares da França e do Chade durante a Operação Barkhane, no Sahel, em julho de 2014. (Foto: U.S Army Africa / Martin S. Bonner)

No dia 18 de janeiro de 2023, o governo de Burkina Faso decidiu dar um mês para que as forças militares francesas abandonassem o país. Essa decisão foi tomada pelo governo do capitão Ibrahim Traoré, que – em setembro de 2022 – deu um golpe de Estado, destituindo o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, que havia tomado o poder em janeiro por meio de outro golpe. Traoré, agora presidente interino, afirmou que Damiba (exilado no Togo) não cumpriu os objetivos do Movimento Patriótico de Salvaguarda e Restauração, seu grupo militar. O governo de Traoré acusou Damiba de ser incapaz de frear a insurgência no norte do país, e de conivência com os franceses (alegando que Damiba tinha se refugiado na base militar francesa de Kamboinsin para lançar um contragolpe contra o segundo golpe).

A França entrou na região do Sahel em 2013 para impedir o avanço ao sul de elementos jihadistas fortalecidos após a guerra da Líbia, levada adiante pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Nos últimos anos, o sentimento antifrancês aumentou no norte da África e no Sahel. Foi esse sentimento que provocou os golpes no Mali (agosto de 2020 e maio de 2021), Guiné (setembro de 2021) e Burkina Faso (janeiro de 2022 e setembro de 2022). Em fevereiro de 2022, o governo do Mali expulsou os militares franceses, acusando-os de cometer atrocidades contra a população civil e de conivência com os insurgentes jihadistas. Agora, Burkina Faso se juntou ao Mali.

A expulsão da França não significa que não haja outros países da OTAN na região. Tanto os EUA quanto a Grã-Bretanha mantêm sua presença, do Marrocos até o Níger, e os EUA tentam atrair os países africanos à sua contenda com a China e a Rússia. As viagens regulares de líderes militares estadunidenses – como a do general do Corpo de Fuzileiros Navais, Michael Langley, comandante do Comando dos Estados Unidos para a África, ao Gabão em meados de janeiro – e de líderes civis estadunidenses – como a secretária do Tesouro Janet Yellen ao Senegal, África do Sul e Zâmbia – formam parte da pressão para garantir que os Estados africanos estreitem laços com os EUA e seus aliados contra a China. A designação do Grupo Wagner, da Rússia – que supostamente opera no Sahel – como uma “organização criminosa transnacional” por parte dos EUA e a Cúpula de Líderes EUA-África, celebrada em dezembro, são tentativas de atrair os Estados africanos a uma nova guerra fria.

Quase a metade da população burquinesa vive abaixo da linha da pobreza, e “mais de 630 mil pessoas estão à beira da inanição” no país, segundo a ONU. No entanto, as exportações de ouro alcançaram 7,19 bilhões de dólares em 2020. Estes lucros não vão para o povo burquinês, e sim às grandes empresas mineradoras. A expulsão dos militares franceses não será a resposta para estes profundos problemas que Burkina Faso enfrenta.

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