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Israel-Palestina: EUA podem ser arrastados para nova guerra no Oriente Médio, diz analista

Assassinatos seletivos de Israel contra alvos na Síria e no Líbano indicam tendência de expansão da guerra contra Gaza, que envolveria EUA, dizem analistas
Pedro Marin
O então vice-presidente Joe Biden com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu em março de 2016. (Foto: U.S. Embassy Tel Aviv / Flickr)

O general de brigada Sayyed Razi Mousavi tinha mais de 40 anos de serviço na Guarda Revolucionária Iraniana quando foi morto por um bombardeio israelense na Síria, no último dia 25. Considerado o principal comandante iraniano na Síria, Mousavi foi apontado como uma das figuras-chave na logística de envio de armas iranianas para o país e para o Hezbollah, no Líbano, e foi considerado pelo falecido comandante iraniano Qassem Soleimani como “um dos mais experientes e efetivos comandantes da Guarda Revolucionária no Eixo de Resistência”.

Milhares de iranianos foram assistir a seu funeral na praça Imã Hossein, em Teerã, no passado 28 de dezembro, gritando os já conhecidos motes da Revolução Iraniana “Morte a Israel” e “Morte à América”. O líder supremo iraniano, aioatolá Ali Khamenei, se encontrou com a família do general e fez uma prece sobre seu corpo antes do funeral, e o porta-voz da Guarda Revolucionária do Irã, Ramezan Sharif, declarou que “nossa resposta ao assassinato de Mousavi será uma combinação de ação direta, bem como de [ações de] outros liderados pelo Eixo de Resistência”

Apesar da pouca atenção que o assasinato de Mousavi recebeu na imprensa ocidental, diversos analistas apontam que ela pode representar um ponto de virada na estratégia israelense em sua atual guerra contra Gaza. O co-fundador e vice-presidente executivo do Quincy Institute for Responsible Statecraft, um think-tank sediado nos EUA, Trita Parsi, trabalha dois possíveis cenários no artigo “Israel matou um comandante iraniano para provocar uma guerra mais ampla?”, no site do instituto. Para Parsi, o assassinato de Mousavi poderia ou ser um aviso de Israel ao Irã para que deixasse de apoiar os Houthis iemenitas, que têm realizado uma campanha bem-sucedida de ataques a navios ligados a Israel no Mar Vermelho, ou uma provocação direta com o objetivo de forçar uma resposta iraniana e expandir a guerra.

Segundo Parsi, “pode ser uma provocação deliberada para gerar uma resposta iraniana que daria a Israel o pretexto de expandir a guerra. Embora a administração Biden tenha dado autorização para que Israel bombardeie Gaza até os cacos, Biden se opõe a uma expansão da guerra, já que isso muito provavelmente poderia arrastar os EUA para ela. O debate dentro do governo israelense cada vez mais se volta para a expansão da guerra”, diz o analista. Parsi argumenta ainda que, pela importância de Mousavi na logística de envio de armas iranianas para a Síria e para o Hezbollah, “se Israel planeja atacar o Líbano, matar Mousavi seria um primeiro passo lógico para comprometer o armamento do Hezbollah, bem como suas linhas de suprimento. Dessa forma, o assassinato pode ser um movimento preparatório para expandir a guerra independentemente da resposta iraniana à morte de Mousavi”.

Ele finaliza: “todos os cenários apontam para uma realidade indiscutível: enquanto Biden se recusar a pressionar Israel para aceitar um cessar-fogo em Gaza, as tensões na região provavelmente continuarão a crescer e o Oriente Médio gravitará rumo a uma guerra regional que muito provavelmente envolverá os EUA. Biden pode até pensar que é possível controlar esses eventos e permitir que Israel mate o povo em Gaza mantendo um limite para o risco de escalada. Ele está errado – e o povo norte-americano pode em breve se ver em outra guerra desnecessária no Oriente Médio por conta da incompetência estratégica de Biden”.

A tese de expansão da atual guerra contra Gaza para uma guerra regional é reforçada por outros movimentos recentes de Israel. O assassinato de Saleh al-Arouri, vice-líder do Gabinete Político do Hamas e um dos fundadores do braço armado da organização palestina, em Beirute, na última terça-feira (2), seria outro sinal de que o país busca expandir o conflito: “o assassinato do oficial do Hamas Saleh Arouri em Beirute marca uma escalada de Israel no uso de força letal, não obstante o fato de Israel já vir conduzindo ataques militares para além de sua fronteira norte, incluindo no Líbano”, escreve Paul R. Pillar, membro associado do Geneva Center for Security Policy, em seu artigo “Israelenses intensificam táticas de assassinato fora de Gaza”.

Para Paul, “o Hezbollah não está buscando uma nova guerra total com Israel. Na última guerra desse tipo, em 2006, o Hezbollah e o Líbano sofreram perdas humanas e materiais significativas. No entanto, desde sua origem, a principal conquista do apoio popular do Hezbollah tem sido como protetor de todos os libaneses na luta contra Israel. Agora, o grupo pode estar mais próximo de concretizar as ameaças de retaliação que vem fazendo desde que Israel iniciou seu ataque a Gaza.” O analista diz ainda que “a comparação entre [o assassinato de Mousavi] e o assassinato de Arouri é muito óbvia para ser ignorada”, e “lembram da pouca prioridade que Israel está colocando nas negociações – nas quais Arouri estaria tendo um papel chave – para a futura libertação mútua de prisioneiros. A escalada de Israel também põe em perspectiva seu anúncio recente de que retiraria algumas de suas brigadas da Faixa de Gaza. Essa medida parece ter mais a ver com mitigar os efeitos que a mobilização de tropas de reservistas tiveram na economia israelense do que com qualquer intenção de desescalar o ataque contra Gaza”.

Já o Soufan Center, também um think-tank norte-americano, aponta em seu último relatório de inteligência para outros eventos ocorridos na Síria: “[além da morte de Mousavi, no dia 25] Israel continuou a desafiar Teerã ao realizar outro ataque significativo, em 28 de dezembro, que supostamente matou 11 oficiais de alto escalão da Guarda Revolucionária Iraniana no aeroporto de Damasco. Outros ataques israelenses naquele dia tiveram como alvo locais no sul da Síria e perto de Damasco. Em 29 de dezembro, de acordo com a mídia síria, um ataque aéreo aparentemente conduzido por Israel atingiu nove locais administrados pela Guarda Revolucionária Iraniana na cidade de Al Bukamal, no leste da Síria, incluindo um quartel-general, um depósito de armas e um comboio que cruzava a fronteira iraquiana com a Síria. O ataque teria causado a morte ou ferimentos graves em pelo menos 20 combatentes da milícia apoiada pelo Irã.”

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