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EUA-China: o problema com os carros elétricos

Ao invés de barrar carros elétricos, EUA e China deveriam cooperar para diminuir emissão de gases de efeito estufa e renovar frotas de países em desenvolvimento
Dean Baker
O presidente dos EUA, Joe Biden, durante visita à fábrica da GM em Detroit. (Foto: The White House / Flickr)

No último quarto de século, aqueles que esperavam que pudéssemos desacelerar o aquecimento global ansiavam por uma rápida conversão para veículos elétricos (VEs). Se conseguíssemos fazer com que a maioria das pessoas usasse veículos elétricos e que a energia viesse de fontes limpas, poderíamos reduzir radicalmente as emissões de gases de efeito estufa.

O problema é que os VEs eram consideravelmente mais caros do que seus equivalentes convencionais. Economizava-se na operação devido à menor manutenção e a eletricidade geralmente custava menos que a gasolina, mas isso geralmente não era suficiente para compensar o preço de compra mais alto.

Essa foi a motivação para o crédito fiscal que o governo Biden incluiu na Lei de Redução da Inflação de 2022. A ideia era aproximar o preço dos VEs do preço dos carros convencionais.

Depois de nos preocuparmos por décadas com o fato de que o preço dos VEs era muito alto, agora temos um problema diferente: o preço é muito baixo. A China agora está produzindo mais de dez milhões de carros elétricos por ano, alguns com preços abaixo de 10 mil dólares. Isso causou terror nos EUA, com os políticos se atropelando para encontrar maneiras de impedir que as pessoas comprem esses veículos.

A preocupação é que isso acabe com o setor automotivo doméstico dos EUA. Depois de nos dizer, durante décadas, que os norte-americanos não querem comprar carros elétricos, pessoas como Donald Trump estão gritando sobre como precisamos tomar medidas fortes, como tarifas de 100%, para impedi-los de comprar carros elétricos.

Isso seria uma grande comédia, exceto pelo fato de que se trata de um grande problema e, aparentemente, ninguém se importa com o fato de os políticos serem inconsistentes. Mas nós que não estamos concorrendo a cargos públicos temos a capacidade de falar seriamente sobre o assunto.

Primeiro, se a China quiser exportar veículos elétricos baratos para o mundo, devemos ver isso como uma coisa boa, não como um ato de guerra. A sociedade terraplanista pode não acreditar no aquecimento global, mas o restante de nós não pode se dar a esse luxo. Dezenas de milhões de veículos elétricos de baixo custo sendo vendidos em todo o mundo nos próximos anos ajudariam enormemente a avançar o esforço para reduzir as emissões. Se a China quiser subsidiar esse processo, deveríamos ser gratos a ela.

Ao mesmo tempo, faz sentido protegermos nosso setor doméstico. Temos um interesse genuíno de segurança nacional em não depender da China para fabricar nossos carros.

Poderíamos fazer isso seguindo o exemplo de Ronald Reagan. Na década de 1980, a sobrevivência do setor automotivo dos EUA foi seriamente ameaçada por uma enxurrada de importações do Japão. Reagan reagiu fazendo com que o Japão concordasse em restringir voluntariamente a exportação do número de carros que vendia nos Estados Unidos.

Com esse sistema, os principais fabricantes japoneses foram autorizados a exportar um determinado número de carros por ano para os Estados Unidos. Essas restrições deram ao setor norte-americano espaço para se ajustar às mudanças nas condições do mercado automotivo e adotar técnicas de fabricação mais eficientes. Isso também incentivou os fabricantes japoneses a estabelecerem operações nos Estados Unidos, onde agora mantêm direta e indiretamente centenas de milhares de empregos.

Poderíamos adotar uma abordagem semelhante com a China. Obviamente, haveria uma séria disputa sobre quantos veículos elétricos os fabricantes chineses poderiam vender aqui, mas, no final das contas, seria possível chegar a um acordo sobre um número.

Como a China terá capacidade para exportar mais VEs do que os Estados Unidos e outros países ricos estão dispostos a importar, poderíamos trabalhar em conjunto com a China para promover sua exportação para países em desenvolvimento que atualmente não têm um setor automotivo doméstico.

Em muitos países mais pobres, os VEs estariam substituindo carros mais antigos que geram grandes quantidades de emissões de gases poluentes. Isso seria ótimo do ponto de vista da desaceleração do aquecimento global e também do ponto de vista da melhoria da saúde das pessoas nos países em desenvolvimento.

Essa seria uma ótima maneira de trabalhar com a China para promover nosso objetivo comum de desacelerar o aquecimento global. Os políticos gostam de competir para ver quem é mais duro com a China. Isso pode ser um teatro divertido, mas o entretenimento não vale nosso tempo.

Em vez disso, deveríamos querer que nossos políticos competissem quanto a quem pode ser mais inteligente com a China. Cooperar com a China para substituir rapidamente os carros convencionais por veículos elétricos é inteligente. Deveríamos querer que nossos políticos disputassem isso.

(*) Dean Baker é economista-sênior e fundador do CEPR. Ele é PhD em Economia pela Universidade do Michigan, e escreve para publicações como The Washington Post, Atlantic Montly e London Financial Times. É autor de “Rigged: How Globalization and the Rules of the Modern Economy Were Structured to Make the Rich Richer”.

CEPR O Center for Economic and Policy Research (CEPR) é um think-tank fundado em 1999 pelos economistas Dean Baker e Mark Weisbrot para promover debates sobre questões econômicas e sociais nos EUA.

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