“Nunca mais buscaremos o crescimento econômico à custa do meio ambiente” – Xi Jinping
O custo do desenvolvimento
De pé na Praça da Paz Celestial no dia 1 de outubro de 1949, pronunciando o nascimento da República Popular da China, Mao Tsé-Tung disse: “o povo chinês se levantou”. Ao levantar-se, ao construir uma sociedade socialista moderna e ao romper com os grilhões do atraso, do feudalismo, do colonialismo, do analfabetismo e da pobreza, a China abriu o caminho para todo o Sul Global.
A expectativa de vida ultrapassa, agora, os 76 anos, mais que o dobro do que era em 1949. A alfabetização de adultos é de 97% (para jovens de 15 a 24 anos é de 100%). A China está à beira de erradicar completamente a extrema pobreza. Cem por cento da população tem acesso à eletricidade.
Mas, em termos ambientais, esse progresso teve um custo. Assim como o desenvolvimento econômico na Europa e nas Américas foi sustentado pela queima voraz de combustíveis fósseis, o desenvolvimento da China se baseou significativamente no “Velho Rei Carvão”, o maior poluente e o mais intenso emissor dos combustíveis fósseis.
Mudança de prioridades
A China enfrenta hoje sérios problemas ambientais. Superou os EUA como o maior emissor global de dióxido de carbono em 2007; sofre com poluição do ar, poluição da água, inundações e desertificação. As questões ambientais se tornaram, portanto, uma das principais prioridades para a China. Na última década, em particular, a liderança política chinesa concentrou suas atenções na transição para um modelo de desenvolvimento verde, a fim tanto de contribuir para a luta global contra o colapso climático, como também de melhorar imediatamente o bem-estar do povo chinês.
Em seu popular livro de 2013, “O Estado Empreendedor”, a economista Mariana Mazzucato nota que a China, mais que qualquer outro país, está priorizando tecnologias limpas “como parte de uma visão estratégica e de um comprometimento a longo prazo com o crescimento econômico”.
Descarbonização
De forma a evitar o colapso climático, os seres humanos precisam encontrar maneiras de suprir suas necessidades sem liberar gases do efeito estufa na atmosfera. A chave para isso é a descarbonização de nossos sistemas de energia. Como parte dos compromissos assumidos no Acordo de Paris de 2015 sobre as mudanças climáticas, a China prometeu fixar o pico de suas emissões de carbono no ano de 2030. Com base em sua trajetória atual, o pico das emissões chinesas deve acontecer alguns anos antes.
A prioridade mais urgente para China é restringir o uso de carvão. As emissões de dióxido de carbono por unidade de energia gerada são duas vezes mais altas para o carvão do que para o gás natural, e o impacto da poluição do ar é de uma ordem de magnitude maior. Na última década, a China conseguiu reduzir a participação do carvão em sua base energética de 80% para 60%. Em 2017, a Administração Nacional de Energia da China cancelou os planos de construir mais de 100 usinas a carvão, a fim de desviar os esforços de geração de energia para o setor de energias renováveis; e Pequim fechou sua última usina a carvão em 2017.
Enquanto reduz o seu uso de carvão, a China está rapidamente se tornando a primeira “superpotência de energia renovável”, responsável por 32% dos investimentos globais em energia renovável no último ano, criando milhões de empregos baseados na energia verde ao longo do caminho. Dos 11 milhões de empregos nas indústrias de energias renováveis em todo o mundo, mais de quatro milhões estão na China (em comparação com 118.000 na Grã-Bretanha). As fontes de energias não-fósseis devem fornecer 50% da geração de energia elétrica da China até 2030.
A China é o maior produtor mundial de painéis solares desde 2009, e, agora responde por cerca de 70% de toda produção mundial de painéis solares, com uma capacidade de 43 gigawatts. O investimento da China em pesquisa e desenvolvimento de energia solar tem sido tão extenso (aproximadamente dobrando ano-após-ano no período recente) que chega ao ponto de possibilitar a queda dos preços em todo o mundo, para um nível em que a energia solar possa, cada vez mais, competir com os combustíveis fósseis. A República Popular da China também está avançando consideravelmente no que diz respeito à energia eólica, instalando quase metade dos 63 gigawatts de energia eólica de todo o mundo em 2015.
Num passo controverso, a China está liderando pesquisas em tecnologias de energia nuclear de nova geração, que promete ser mais segura e produzir menos resíduos radioativos do que as usinas nucleares atualmente disponíveis. A questão de se a energia nuclear possui um papel significativo a desempenhar, a longo prazo, no atendimento às necessidades de energia humana está além do escopo deste artigo. Entretanto, a energia nuclear atualmente contribui significativamente para a base energética de muitos países, e, para citar Mike Berners-Lee, “qualquer pessoa que tenha uma postura anti-nuclear firme precisa ter um plano coerente para o futuro de baixo carbono sem ela.”
Até agora, a China é o único país a atingir um progresso significativo em termos de descarbonização dos transportes. Shenzhen é a primeira cidade do mundo a mudar todos os seus ônibus e táxis para a matriz elétrica. Xangai e Pequim não estão muito atrás. Cerca de 99% dos 400.000 ônibus elétricos do mundo estão na China. A China também está bem à frente em termos de transporte ferroviário de baixo uso de carbono, com mais milhas ferroviárias de alta velocidade do que o resto do todo o mundo junto.
Para melhorar seu sumidouro de carbono natural, a China está realizando o “maior projeto de reflorestamento do mundo”, plantando florestas “do tamanha da Irlanda” no ano passado, e dobrando a cobertura florestal de 12% em 1980 para 23% em 2018.
O socialismo é a chave
Os cientistas entendem as questões que envolvem as mudanças climáticas há muito tempo, mas pouco progresso foi feito a nível global. As emissões aumentaram cerca de 50% desde 1992. O país que está atingindo um progresso genuíno e o sustentado é a China. Por quê?
Nos países capitalistas, os esforços de preservação ambiental se chocam contra os interesses do capital privado, em particular, contra os interesses dos gigantes dos combustíveis fósseis. Na China, o desenvolvimento econômico segue de acordo com os planos do Estado, e não com a anarquia do mercado. Como resultado, os interesses do lucro privado estão subordinados às necessidades da sociedade. Os planos quinquenais da China direcionam bancos e empresas estatais para objetivos políticos que enfatizam cada vez mais a importância do desenvolvimento verde. Em suma, a China pode direcionar investimentos e recursos para o desenvolvimento verde precisamente por conta da base socialista de sua economia.
Conclusão
A China ainda enfrenta uma série intimidadora de obstáculos em seu caminho para a realização de uma civilização ecológica. No entanto, a China está mais focada nesta questão do que qualquer outro país, e seu progresso já é formidável.
Mao Tsé-Tung disse em 1956 que, no início do século 21, a China se tornaria “um poderoso país industrial socialista” e que “ela deveria ter contribuído mais para a humanidade.” Nos últimos anos, a China emergiu como líder indiscutível na luta contra a crise climática, e os resultados desta liderança estão repercutindo globalmente. É muito difícil exagerar quando discutimos sobre o profundo significado disso para nossa espécie e nosso planeta.
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