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Depois de anos atacando manifestantes, o Exército do Sudão e os paramilitares se voltam uns contra os outros

Os combates entre o Exército e paramilitares no Sudão são os mais recentes de uma série de convulsões políticas desde a queda do ditador Omar al-Bashir em 2019.

Os combates entre o Exército e paramilitares no Sudão são os mais recentes de uma série de convulsões políticas desde a queda do ditador Omar al-Bashir em 2019. Por Pavan Kulkarni e Prasanth Radhakrishnan | Globetrotter – Tradução de Pedro Marin para a Revista Opera
Manifestantes durante protesto na Universidade do Oeste de Darfur, no Sudão, em 2010. (Foto: UN Photo/Albert Gonzalez Farran)

Mais de 500 pessoas foram mortas e 4 mil estão feridas desde que os conflitos entre as Forças Armadas Sudanesas (FAS) e a organização paramilitar Forças de Suporte Rápido (FSR) começaram, no dia 15 de abril.

Grupos como o Sindicato de Médicos do Sudão se preocupam com a possibilidade dos combates aumentarem após a saída de estrangeiros do país. Milhares já se retiraram. Mais de 69% dos hospitais dentro das zonas de conflito e nas suas proximidades estão inoperantes. Há uma grave escassez de remédios, alimentos, água e eletricidade.

Os combates entre as FAS e as FSR são os mais recentes de uma série de convulsões políticas desde que grandes protestos pró-democracia derrubaram o ditador de longa data Omar al-Bashir em abril de 2019. O chefe do Exército, general Abdel-Fattah Burhan, que preside a Junta Militar atualmente no poder, e seu vice-presidente e chefe das FSR, o general Mohamed Hamdan Dagalo (codinome Hemeti), foram membros-chave do regime Bashir. As Forças de Suporte Rápido (FSR) são formadas por milícias janjawid que foram responsáveis ​​por assassinatos em massa em Darfur durante o reinado de Bashir.

Burhan e Hemeti tomaram o controle de facto após a queda de Bashir, e foram responsáveis pelo massacre de mais de 100 manifestantes que demandavam um governo civil durante um protesto em Cartum, em junho de 2019. Na sequência, eles negociaram com partidos de direita da coalizão Forças para a Liberdade e Mudança (FLM) e inauguraram um governo de transição civil-militar em agosto.

Apesar deste governo ter um primeiro-ministro civil, Abdalla Hamdok, a defesa, a polícia e as relações exteriores ficaram sob controle do Exército, com Burhan liderando o “Conselho Soberano”. O Exército controla uma parte substancial da economia, enquanto as FSR se empanturram com a riqueza mineral de Darfur, no oeste do Sudão.

O arranjo transitório deveria abrir caminho para um governo civil. Em vez disso, em outubro de 2021, Burhan e Hemeti assumiram o controle total do país por meio de um golpe.

Ao longo dos anos, desde o golpe, manifestantes tomaram as ruas, muitas vezes às centenas de milhares, recusando qualquer compromisso com a Junta e reivindicando uma democracia genuína e o controle civil sobre os militares. Os protestos foram liderados pelos Comitês de Resistência (CRs), uma rede de mais de 5 mil organizações de bairro. Forças de esquerda, incluindo o Partido Comunista do Sudão, foram também uma força chave. Mais de 120 pessoas foram mortas nos ataques às manifestações nos meses que seguiram ao golpe de outubro de 2021.

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Ignorando o sentimento popular contra qualquer negociação com a Junta, a comunidade internacional – a ONU, os EUA, o Reino Unido, a União Europeia, a União Africana e a Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento – apoiaram novas negociações entre a Junta e a coalizão de direita das Forças para a Liberdade e Mudança (FLM).

Essas negociações levaram ao Acordo Introdutório de dezembro de 2022, que deveria ser finalizado por meio de um acordo político final que levaria à formação de um novo governo conjunto, com civis, em 11 de abril de 2023.

Esse plano não se materializou, já que as  Forças Armadas Sudanesas (FAS) e as Forças de Suporte Rápido (FSR) se viraram umas contras as outras, depois de discordarem sobre o prazo para a integração destas últimas nas primeiras.

O Partido Comunista do Sudão tem reiterado sua rejeição a qualquer acordo com a Junta. Os comunistas sustentam que o apoio internacional para outro compromisso de divisão do poder após o golpe de outubro serviu só para legitimar a Junta, o que eventualmente levou a esta guerra interna.

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