O primeiro debate televisionado entre o presidente Joe Biden e seu antecessor, Donald Trump, transmitido em 27 de junho, deixou um gosto amargo na boca dos democratas e alimentou o debate sobre a capacidade do atual presidente de concorrer à reeleição.
Uma parte importante do debate foi dedicada à agenda doméstica dos EUA, com Biden apontando que os problemas econômicos do país foram causados pela presidência anterior de Trump. Por sua vez, o ex-presidente defendeu a versão de que houve uma economia melhor durante seu período na Casa Branca e culpou Biden pela inflação que atualmente está “matando” os Estados Unidos. Além disso, Trump associou a maioria dos problemas do país à situação de crise na fronteira com o México e à imigração descontrolada.
Foi na arena internacional, entretanto, que o debate se tornou mais intenso. Trump se gabou de ter conseguido eliminar o general iraniano Qasem Soleimani e criticou a retirada caótica dos EUA do Afeganistão em 2021 como a “mais vergonhosa” da história do país. Ele não hesitou em afirmar que, sob seu governo, a escalada do conflito na Ucrânia teria sido evitada.
Joe Biden defendeu os milhões em financiamento para a guerra contra a Rússia e acusou Trump de querer retirar os Estados Unidos da OTAN.
O debate não foi definido pela força dos argumentos de nenhum dos candidatos. Em vez disso, foi mais uma troca mútua de acusações sobre o colapso econômico, a crise migratória e a política externa fracassada dos EUA, entre outras questões. No entanto, Biden saiu em desvantagem, principalmente por causa da percepção negativa deixada por seu estado físico e psicológico. Ele pareceu hesitante e teve dificuldades para articular claramente vários de seus argumentos.
O jornal Politico não poupa críticas ao descrever o desempenho de Biden. Ele observa que o presidente “abriu o debate com uma voz áspera e respostas desarticuladas e desconexas”, o que “reacendeu as preocupações dos Democratas sobre sua idade e sua capacidade de enfrentar o ex-presidente Donald Trump”.
“Em um determinado momento, aparentemente perdendo a linha de raciocínio, Biden disse ‘finalmente vencemos o Medicare’, falando mal de sua própria política de benefícios adquiridos.”
Trump, por sua vez, embora tenha feito afirmações infundadas, foi mais duro e convincente. O ex-presidente se destacou, basicamente, por não parecer envelhecido e senil diante de seu rival.
Um número expressivo de 67% dos telespectadores deu a vitória a Donald Trump, em comparação com os escassos 33% que optaram por Joe Biden, de acordo com os resultados da pesquisa sobre o debate. Esses números, longe de passarem despercebidos, desencadearam uma onda de críticas ao atual presidente e semearam o pânico nas fileiras Democratas.
Um analista anônimo foi citado na NBC dizendo que os democratas cometeram “suicídio coletivo” com esse debate. O Financial Times disse que “o atual presidente fracassou”, enquanto o The New York Post afirmou que “milhões de pessoas testemunharam o fim da carreira de Biden”. De acordo com o Politico, os democratas começaram a discutir a possibilidade de substituir o líder em exercício por outro candidato.
“O desempenho do presidente foi amplamente criticado na internet e provavelmente reforçará a impressão de que ele perdeu o rumo. A idade de Biden, 81 anos, há muito tempo é um problema, e pesquisas após pesquisas mostram que até mesmo muitos democratas estão preocupados com sua idade.”
Os debates desempenham um papel fundamental no processo eleitoral dos EUA. Um desempenho convincente pode impulsionar um candidato e dar a ele uma porcentagem pequena, mas vital, dos votos. Por outro lado, um fracasso como o de Biden pode resultar em uma perda de apoio determinante para o destino da presidência.
A próxima eleição presidencial dos EUA está programada para 5 de novembro de 2024. As convenções dos partidos devem ser realizadas em agosto e setembro, nos quais um candidato de cada partido será oficialmente endossado.
“‘É hora de uma convenção aberta’, escreveu um importante oficial da lei em uma mensagem de texto”, observa o Politico.
Normalmente, Biden, tendo conquistado a maioria dos delegados nas primárias, teria a garantia da indicação na Convenção Nacional Democrata em agosto. Entretanto, em um caso hipotético de desistência, não há um processo estabelecido para substituí-lo. Isso significa que os quase 4 mil delegados, embora teoricamente “comprometidos” com Biden, estariam livres para votar em quem quisessem.
“Presumivelmente, Biden teria alguma influência sobre seus delegados, mas, em última análise, eles estariam livres para fazer o que quisessem quando se tratasse de apoiar um substituto. Isso poderia provocar uma disputa frenética entre os democratas que querem ter uma chance de nomeação”, diz um artigo da BBC.
Após 90 minutos de divagações incoerentes, a inépcia política de Joe Biden, evidente para muitos, tornou-se impossível de ser ignorada. Mas, como aponta a analista política Caitlin Johnstone, a preocupação com a condição mental de Biden como potencial candidato à reeleição não leva em conta uma realidade ainda mais preocupante: ele vem governando o país há quatro anos, sem que isso pareça gerar muito alarme. A razão é que há um entendimento tácito de que Biden não é o verdadeiro governante dos Estados Unidos.
“Se as pessoas realmente acreditassem que o presidente está governando o país, elas ficariam assustadas com a possibilidade de Biden, em sua confusão demente, ordenar um ataque à União Soviética […] Elas não estão preocupadas com isso porque sabem que seu governo é administrado por gerentes do império não eleitos nos bastidores.”
A agressão da política externa, as guerras secretas e a expansão militarista continuam inabaláveis, confirmando o que Johnstone argumenta: “As eleições presidenciais dos EUA são falsas e os resultados não importam”.
O caso Biden, longe de ser uma anomalia, torna-se uma prova irrefutável de um sistema em que o poder reside nas sombras da burocracia, que manipula a narrativa e perpetua suas agendas, independentemente de quem ocupe a cadeira presidencial.