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O que lemos em Novembro

Confira algumas recomendações de leitura da redação da Revista Opera neste mês.
Pedro Marin e André Ortega
(Foto: Pedro Marin

Neste mês iniciamos uma série de posts, com uma lista do que a redação da Revista Opera leu no último mês. A proposta é oferecer recomendações aos leitores da Opera, algumas das quais estão disponíveis em nossa livraria por meio de links nesse post. Os leitores que desejarem, podem usar o cupom lemosemnovembro para obter 10% de desconto em suas compras:

André Ortega, colunista na Revista Opera e apresentador do programa Posto Sul.

operaDualidade básica da economia brasileira, obra de Ignácio Rangel no ano de 1957, lida no volume 1 de suas obras reunidas da Editora Contraponto junto do Centro Internacional Celso Furtado. Não se trata de uma simples obra de economia do desenvolvimento, mas uma grande peça de história da economia política.

É uma das chaves para compreender como se formou o nosso país e fui atrás dessa chave neste mês para refletir sobre a queda do Império, a abolição da escravatura e a proclamação da República. Rangel explica a formação do Brasil a partir da sua condição de dependência e faz uma exposição de um modelo teórico que desnuda as contradições dessa formação através de dualidades. As dualidades são a interação complementar e dialética entre dois polos distintos. Em um latifúndio produtos podem ser “”apropriados segundo normas que não se coadunam com os modos de apropriação capitalistas” para depois irem para o mercado mundial como qualquer mercadoria das fábricas capitalistas.

Os engenhos e as fazendas podiam desempenhar uma função da economia capitalista desde suas origens, mas suas formas de produção não eram propriamente capitalistas, sua relações de produção internas “diferiam qualitativamente das que reinavam no exterior”. Isso é muito relevante para as discussões acerca de sobrevivências feudais (“semi-feudalidade”) e o caráter do capitalismo brasileiro.

A economia é caracterizada por uma hierarquia de várias dualidades, desde as mais básicas (a da fazenda, por exemplo) até a relação da nossa economia nacional com o exterior, a primeira tendo crescido como complemento da última (fonte de tantas distorções para nós, benefícios para outros). Em Rangel as relações de produção possuem uma dualidade caracterizada pela interação de uma ordem INTERNA e outra EXTERNA, como no caso da fazenda, interações que são por sua vez condicionadas por uma outra dualidade externa.

Particularmente, observo que Rangel nos lembra que o latifúndio não surge a priori como um herdeiro da fazenda de escravos, mas sim um concorrente que começou se valendo da mão de obra livre de brancos, indígenas e mestiços, uma vasta população fora do circuito escravista (a condição abjeta conferida pela ordem colonial a essas populações excluídas da produção escravista é bem notável na formação de São Paulo, província de origens muito pobres, o que pode ser conferido em “Formação Histórica do Brasil” de Werneck Sodré ou esbarrado nos “Parceiros do Rio Bonito” de Candido.

A ascensão do latifúndio foi uma das forças históricas na liquidação do escravismo – era economicamente mais viável, mas não foram os donos de escravos que assim perceberam e decidiram mudar as relações de produção. Os últimos suspiros da escravidão vieram graças a um esfriamento do mercado externo que, tão logo superado, deu lugar a explosão econômica do latifúndio – eis o “poder” das dualidades!

APAGAAAAAAAROs livros do Moniz Bandeira, “Formação do Império Americano” e “A Segunda Guerra Fria” são livros que sempre revisito e que me foram muito necessários nesses primeiros episódios do Programa Posto Sul. O primeiro fala da ascensão política do imperialismo dos Estados Unidos e os acontecimentos históricos que o marcaram desde o século XIX até a presidência de George W. Bush e o “Manifesto do Novo Século Americano”. Mostra a extensão dos tentáculos da hegemonia americana no campo militar, político e econômico.

A relação do poder dos Estados Unidos com o capital financeiro e a condição de super-potência/polícia do mundo assumida após a queda da URSS em 1991. A Segunda Guerra Fria dá continuidade a esse trabalho e fala do momento em que vivemos de crise dessa ordem unipolar dominada pela super-potência norte-americana. Moniz Bandeira trata do papel da Rússia na ordem internacional e o surgimento dessa “guerra civil global” com o caos espalhado por diversos país, descrevendo as novas estratégias do imperialismo distintas do intervencionismo militar direto de George W. Bush e focada na promoção do “regime change”, “revoluções coloridas”, desestabilizações de Estados.

Bandeira vai explicar situações que vão desde a da Primavera Árabe, o terrorismo islamista, as guerras na Líbia e na Síria, até os confins da Eurásia e do extremo oriente. As duas obras são extensas e repletas de conteúdo, contextualização histórica, características de Moniz Bandeira.

Pedro Marin, editor-chefe na Revista Opera e apresentador no programa Posto Sul.

operaO Socialismo na Terra de Marx – RDA Hoje“, do jornalista Ivan Godoy, relata, em tom jornalístico, como viviam os alemães-orientais na década de 80. Não se trata de um estudo aprofundado sobre a Alemanha oriental, mas é um excelente material introdutório para entender aquele país, com muitos dados. Um dos aspectos mais valorosos da obra são os dados sobre o mercado interno, sobre o preço dos produtos em relação aos salários na RDA: aluguéis correspondiam a 2,7% da renda mensal líquida das famílias operárias, 1,5% em calefação, gás e luz. Os maiores gastos eram com alimentação: 26,4% do rendimento, e aquisição de artigos industriais diversos (principalmente eletrodomésticos); 23,1%. Saúde e educação eram gratuitos e os preços dos bens de primeira necessidade ficaram 20 anos sem aumento. Os aluguéis, tarifas de luz e gás e transporte público ficaram congelados por 30 anos.

operaGuerra Irregular – Terrorismo, guerrilha, e movimentos de resistência ao longo da história, de Alessandro Visacro, é um livro obrigatório para quem quer entender o funcionamento das guerras não-convencionais. Por meio de experiências históricas – que vão da guerra na Sierra Maestra à resistência palestina, passando pelo IRA na Irlanda e pelos mujahidins afegãos – Visacro ensina princípios básicos das diferentes modalidades de guerra irregular. É verdade que, em alguns aspectos, o autor (que é coronel do exército brasileiro) erra muito. Trata-se dos aspectos históricos e políticos. Mas é um livro essencial para entender como a guerra é feita no Século XXI.

operaNorth Korea: Another Country” de Bruce Cummings. Neste livro único em sua obra, o historiador norte-americano faz um balanço crítico das ações dos EUA na Coreia. O leitor não pode esperar desta obra um apoio incondicional à Coreia Popular por parte do autor,  e Cummings de fato, por muitas vezes, erra. Mas esse livro se trata, sem dúvidas, da obra mais crítica já escrita no ocidente sobre as políticas norte-americanas contra o povo coreano. A obra só está disponível em inglês, mas em breve deve ser editada no Brasil pela Editora Baioneta.

operaFidel Castro – Uma Biografia Consentida, de Claudia Furiati, e Fidel e a Religião, de Frei Betto: com a morte de Fidel, comecei a reler estas duas obras, que havia lido há muito tempo atrás. A primeira é a melhor biografia de Fidel em português, sem dúvidas. A segunda é o apanhado de uma entrevista com Fidel, feita ao longo de 23 horas, na qual o teólogo inquiriu o comandante sobre diversos temas: do assalto ao Quartel Moncada à questão religiosa em Cuba, passando pela construção do socialismo no país.

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