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Cuba e os neodissidentes desmemoriados

Esses “vigilantes dissidentes” parecem não se lembrar das constantes mudanças feitas em Cuba desde 1992.
Por Arthur González e Martianos-Hermes | Cubainformación – Tradução de Gabriel Deslandes
(Foto: Jorge Royan)

Nos últimos tempos, especialmente após a saída de Fidel Castro, ouvem-se vozes de alguns dissidentes esquecidos, contrários a muitas medidas que Cuba hoje assume como uma fórmula para mudar tudo o que deve ser mudado, atualizar o processo socialista e manter a unidade e resistência contra o aumento das medidas adotadas pelos Estados Unidos em sua guerra econômica de quase 60 anos contra o povo cubano.

É verdade que há situações subjetivas e até objetivas que estão diretamente relacionadas a decisões que podem ser executadas e não são o resultado dessa guerra econômica, porém o que chama a atenção é que aqueles que agora afirmam discordar dessas medidas eram fiéis apoiadores do socialismo cubano quando as restrições e as medidas afetaram os cidadãos comuns, e nunca levantaram suas vozes para discuti-las.

Então, agora que a abertura da sociedade é muito diferente, aparecem como “vigilantes insatisfeitos”, escrevendo suas opiniões em blogs e outros sites da Internet, e passam a desrespeitar o atual presidente dos Conselhos de Estado e de ministros, Miguel Díaz-Canel, comparando-o com George W. Bush?

Será que eles sonham com uma regime change (mudança de regime) e querem se insinuá-la aos vizinhos do Norte, ou é para não perder seus múltiplos vistos para viajar pelos EUA? Tudo é possível.

Esses “vigilantes dissidentes” parecem não se lembrar das constantes mudanças feitas em Cuba desde 1992. Não é inútil lembrá-los porque, antes dessa data, eles assumiram uma atitude militante em defesa do país, sem nunca demonstrar descontentamento quando desfrutaram de altos cargos dentro do sistema.

Para refrescar a memória, basta assinalar que, em 1993, descriminalizou-se a posse de moeda estrangeira pelos cubanos, algo que constituía crime. Nesse mesmo ano, o quadro jurídico para o exercício do trabalho privado foi fixado e as Unidades Básicas de Produção Cooperativa (UBPCs) foram criadas na agricultura, transferindo a elas pleno uso da terra em fazendas do Estado e todos os meios para sua exploração.

Em 1994, a Administração Central do Estado foi reestruturada e 15 ministérios e instituições foram abolidos, reduzindo o aparato administrativo do Estado. Nesse mesmo ano, foi estabelecido o abrangente novo sistema tributário e permitida a abertura de mercados agrícolas, com preços de oferta e demanda, no qual os fornecedores são os proprietários individuais de terras, associações cooperativas privadas, Unidades Básicas de Produção Cooperativa e fazendas estaduais. Outra das mudanças do ano foi a autorização dos mercados de artigos industriais e artesanais, com preços de oferta e demanda.

1995 marcou o início da abertura de centros privados para a elaboração e venda de alimentos e bebidas. Em setembro de 1995, foi aprovada a nova Lei de Investimentos Estrangeiros, que, pela primeira vez desde 1959, permitia até 100% do capital estrangeiro, modificando o Decreto-Lei 50, que permitia apenas até 49%.

O próprio Fidel Castro, em seu discurso de 3 de março de 1995 no Congresso da Federação das Mulheres Cubanas, afirmou:

“São novas circunstâncias. Criam-se, inevitavelmente, desigualdades e privilégios, alguns com maior renda e outros com menor renda, é inevitável. É preciso aumentar o número de trabalhadores por conta própria, as possibilidades de trabalho autônomo e o desenvolvimento da produção artesanal, a produção em menor escala…”

“Temos que analisar bem as perspectivas de desenvolvimento das pequenas e médias empresas, o papel do Estado e sua participação em tudo isso…”

Depois de 2006, outras mudanças foram adotadas, como permitir que cidadãos cubanos residentes no país permanecessem em todos os hotéis, alugando carros e motos em agências especializadas, tendo suas próprias linhas para o uso de telefones celulares, e eliminando a permissão histórica de saída do país estabelecida pelo governo de Fulgêncio Batista de 10 de junho de 1954, em conformidade com as disposições do Decreto-Lei nº 1563.

Da mesma forma, a carta de convite para visitar outros países não era mais necessária e a autorização de saída temporária foi estendida para 24 meses, incluindo menores, sem ser necessário pagar as extensões mensais do cubano consultado.

O trabalho não-estatal se expandiu consideravelmente, como o aluguel de residências e quartos particulares para estrangeiros e nacionais, juntamente com outras medidas.

Em Cuba, ninguém precisa cometer suicídio ou ficar calado quando alguém tem opiniões diferentes. Para verificar isso, basta você andar e não apenas andar de carro. Entrar num ônibus ou visitar um mercado é suficiente para escutar uma variedade de opiniões, algumas com objetividade e outras sem conhecimento ou esquecimento histórico.

Aqueles que ficaram calados antes e agora se lançam a dar opiniões nas redes sociais demonstram comportamentos dúbios, pois nunca tiveram a coragem de expor isso em reuniões administrativas ou no Partido Comunista.

Cuba tem uma longa história de coragem e moral, razão pela qual suporta as mais cruéis agressões da história moderna. Para aqueles que se escondem por atrás das redes sociais, devem rever um pouco da história, já que, para chegar até hoje, os cubanos lutaram em múltiplos fronts.

A guerra econômica imposta não é um pretexto para esconder verdadeiros erros, mas é verdadeira e crescente. Não por prazer permanece inabalável e Barack Obama, supostamente o presidente mais ousado dos Estados Unidos em estabelecer relações diplomáticas com Cuba, não afrouxou qualquer um dos nós apertados contra Cuba, como a Lei Torricelli, a Lei Helms-Burton de Embargo e Comércio com o Inimigo.

Pelo contrário, estabeleceu novas e piores medidas de perseguição financeira contra bancos estrangeiros que ousaram executar transações com Cuba, impondo recorde nesse sentido ao multar o banco francês PNB Paribas, com 10 bilhões de dólares.

Antes do assédio dos ianques, Fidel Castro disse a intelectuais em 1961:

“Isso significa que, dentro da Revolução, tudo; contra a Revolução, nada. Contra a Revolução nada, porque a Revolução também tem seus direitos; e o primeiro direito da Revolução é o direito de existir. E contra o direito da Revolução de ser e existir, ninguém, pois a Revolução compreende os interesses do povo, pois revolução significa os interesses de toda a nação. Ninguém pode com razão reivindicar o direito contra ela”.

O homem pensa como vive, daí as mudanças de ideias, porque quem goza de certos privilégios hoje não se projeta da mesma forma que quando vivia em outro ambiente.

José Martí não estava errado quando disse:

“Quando não se pensa claramente, não se fala claramente.”

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