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John Pilger: Se não pararmos agora, outra Hiroshima se aproxima

O século 21 indica que a terrível história do uso da bomba atômica em Hiroshima pode se repetir. Dessa vez, no bojo das provocações dos EUA contra a China.
O século 21 indica que a terrível história do uso da bomba atômica em Hiroshima pode se repetir. | por John Pilger* – Tradução de Vinícius Moraes para a Revista Opera
A sombra de Hiroshima na escadaria do banco Sumitomo. (Autor desconhecido / U.S Army)

Quando fui pela primeira vez para Hiroshima em 1967, a sombra nos degraus ainda estava lá. Era uma reprodução quase perfeita de uma pessoa descansando: pernas esticadas, costas curvadas e uma das mãos de lado enquanto esperava o banco abrir.

Às 8h15 de 6 de agosto de 1945, ela e sua silhueta foram queimadas no granito.

Fiquei olhando para a sombra por uma hora ou mais, depois desci até o rio onde os sobreviventes ainda viviam em barracos.

Conheci um homem chamado Yukio, cujo peito estava marcado com o padrão da camisa que ele usava quando a bomba atômica foi lançada.

Ele descreveu um enorme clarão sobre a cidade, “uma luz azulada, parecida com um curto elétrico”, depois o vento soprou como um tornado e uma chuva escura caiu. “Fui lançado no chão e percebi que só restaram os caules das minhas flores. Tudo estava calmo e quieto. Quando me levantei, havia pessoas nuas, em estado de choque. Algumas delas não tinham pele nem cabelo. Eu tinha certeza de que estava morto”.

Nove anos depois, voltei para procurá-lo e ele havia morrido de leucemia.

“Nenhuma radioatividade nas ruínas de Hiroshima”, estampava a primeira página do The New York Times em 13 de setembro de 1945, um clássico da desinformação plantada. “O general Farrell”, declarou William H. Lawrence, “negou categoricamente que [a bomba atômica] tivesse produzido uma radioatividade prolongada e perigosa.”

Apenas um repórter, Wilfred Burchett, um australiano, enfrentou a perigosa viagem para Hiroshima logo após o bombardeio atômico, desafiando as autoridades de ocupação aliadas, que controlavam o “dossiê da imprensa”. 

“Escrevo isto como um aviso para o mundo”, relatou Burchett no London Daily Express de 5 de setembro de 1945. Sentado nos escombros com sua máquina de escrever Baby Hermes, ele descreveu salas de hospitais lotadas de pessoas sem ferimentos visíveis que estavam morrendo do que ele chamou de “praga atômica”. 

Por ter feito isso, suas credenciais de imprensa foram tomadas. Burchett foi ridicularizado e difamado. O seu testemunho da verdade nunca foi perdoado. 

O bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasaki foi um ato de assassinato em massa premeditado, que perpetrou uma arma intrinsecamente criminosa, justificado através de mentiras que constituem a base da propaganda de guerra dos Estados Unidos no século 21, lançadas contra um novo inimigo e alvo: a China. 

Durante os 75 anos desde Hiroshima, a mentira mais duradoura é que a bomba atômica foi lançada para acabar com a guerra no Pacífico e salvar vidas.

“Mesmo sem os ataques de bombardeio atômico”, concluiu o relatório United States Strategic Bombing Survey (Estudo dos Bombardeios Estratégicos dos Estados Unidos), “o predomínio aéreo sobre o Japão poderia ter exercido pressão suficiente para provocar a rendição incondicional e evitar a necessidade de invasão”. “Com base em uma investigação detalhada de todos os fatos e apoiada pelo testemunho dos líderes japoneses sobreviventes envolvidos, é a opinião do Relatório que (…) o Japão teria se rendido mesmo se as bombas atômicas não tivessem sido lançadas, mesmo se a Rússia não tivesse entrado na guerra [contra o Japão] e mesmo se nenhuma invasão tivesse sido planejada ou contemplada.”

Os arquivos nacionais de Washington contêm propostas de paz japonesas documentadas já em 1943. Nenhuma foi considerada. Um telegrama, enviado em 5 de maio de 1945 pelo embaixador alemão em Tóquio e interceptado pelos Estados Unidos, deixou claro que os japoneses estavam desesperados para alcançar a paz, incluindo “capitulação mesmo que os termos fossem difíceis”. Nada foi feito.

O secretário de guerra dos Estados Unidos, Henry Stimson, disse ao Presidente Truman que estava “com receio” de que a força aérea dos Estados Unidos “bombardeasse tão amplamente” o Japão a ponto de a nova arma não ser capaz de “demonstrar sua força”. Stimson mais tarde admitiu que “nenhum esforço foi feito, ou considerado seriamente, para conseguir apenas a rendição e não ter que utilizar a bomba [atômica]”. 

Os colegas de política externa do Stimson – vislumbrando a era pós-guerra que moldaria “a nossa imagem”, como disse o famoso planejador da Guerra Fria George Kennan – deixaram claro que estavam ansiosos “para intimidar os russos com a bomba [atômica]  a ser carregada ostensivamente no nosso quadril”. O general Leslie Groves, diretor do Projeto Manhattan que fabricou a bomba atômica, testemunhou: “Nunca houve qualquer ilusão da minha parte de que a Rússia era nosso inimiga e de que o projeto foi conduzido com base nisso”.

No dia seguinte à destruição de Hiroshima, o presidente Harry Truman expressou sua satisfação com o “sucesso esmagador” do “experimento”.

O “experimento” continuou muito tempo depois do fim da guerra. Entre 1946 e 1958, os Estados Unidos explodiram 67 bombas nucleares nas Ilhas Marshall, no Pacífico: o equivalente a mais de uma Hiroshima por dia durante 12 anos.

As consequências humanitárias e ambientais foram catastróficas. Durante a filmagem do meu documentário, The Coming War on China, aluguei uma pequena aeronave e voei para o atol de Bikini nas ilhas Marshall. Foi aqui que os Estados Unidos explodiram a primeira bomba de hidrogênio do mundo. O solo continua contaminado. Meus sapatos foram identificados como “inseguros” no meu contador Geiger. As palmeiras pareciam formações de outro mundo. Não havia pássaros.

Andei através da selva até o bunker de concreto onde, às 6h45 de 1º de março de 1954, o botão foi apertado. O sol, que já havia nascido, nasceu novamente e vaporizou toda uma ilha da laguna, deixando um vasto buraco negro, que visto do ar é um espetáculo ameaçador: um vazio mortal num lugar de beleza.

A precipitação radioativa espalhou-se rápida e “inesperadamente”. A história oficial afirma que “o vento mudou repentinamente”. Foi a primeira de muitas mentiras, como revelam os documentos posteriormente divulgados e os depoimentos das vítimas.

Gene Curbow, um meteorologista designado para monitorar o local de teste, disse: “Eles sabiam para onde iria a precipitação radioativa. Mesmo no dia do lançamento, eles ainda tinham a oportunidade de evacuar as pessoas, mas [as pessoas] não foram evacuadas; Eu não fui evacuado … Os Estados Unidos precisavam de algumas cobaias para estudar as consequências dos efeitos da radiação”.

Como Hiroshima, o segredo das Ilhas Marshall era um experimento premeditado com base na vida de um grande número de pessoas. Era o Projeto 4.1, que começou como um estudo científico com ratos e se tornou um experimento com “seres humanos expostos à radiação de uma arma nuclear”. 

Os habitantes das ilhas Marshall que conheci em 2015 – como os sobreviventes de Hiroshima que entrevistei nas décadas de 1960 e 1970 – sofriam de vários tipos de câncer, geralmente câncer de tireoide. Milhares já morreram. Abortos espontâneos e natimortos eram muito comuns; bebês que sobreviviam frequentemente apresentavam algum tipo de malformação.

Ao contrário de Bikini, o atol Rongelap não foi evacuado durante o teste da Bomba H. Estando diretamente a favor do vento de Bikini, o céu de Rongelap escureceu e choveu o que a princípio pareciam ser flocos de neve. Alimentos e água foram contaminados e a população foi vítima de câncer. Isso, ainda hoje, é uma realidade.

Conheci Nerje Joseph, que me mostrou uma fotografia sua de quando era criança em Rongelap. Ela tinha graves queimaduras faciais e boa parte de seu cabelo estava faltando. “Estávamos tomando banho no poço no dia em que a bomba explodiu”, disse. “Uma poeira branca começou a cair do céu. Estendi a mão para pegá-la. A usamos como sabão para lavar o cabelo. Alguns dias depois, meu cabelo começou a cair”.

Lemoyo Abon disse: “Alguns de nós estavam agonizando. Outros tiveram diarreia. Ficamos apavorados. Achamos que era o fim do mundo”. 

A filmagem do arquivo oficial dos Estados Unidos, que incluí no meu filme, refere-se aos ilhéus como “selvagens dóceis”. Na sequência da explosão, um funcionário da Agência de Energia Atômica dos Estados Unidos é visto gabando-se de que Rongelap “é de longe o lugar mais contaminado da terra”, acrescentando que “será interessante obter uma medição da absorção humana quando as pessoas vivem em um local contaminado.” 

Cientistas estadunidenses, incluindo médicos, construíram carreiras de renome estudando a “absorção humana”. Ei-los cintilantes na filmagem, em seus jalecos brancos, atentos com suas pranchetas. Quando um ilhéu morreu durante a adolescência, sua família recebeu um cartão de condolências do cientista que o estudou. 

Tenho feito reportagens de cinco centros de impacto nucleares em todo o mundo – do Japão, das Ilhas Marshall, de Nevada, da Polinésia e de Maralinga na Austrália. Muito mais do que minha experiência como correspondente de guerra, isso me ensinou sobre a crueldade e a imoralidade de uma grande potência: isto é, uma potência imperialista, cujo cinismo é o verdadeiro inimigo da humanidade.

Fiquei profundamente impressionado quando filmei no centro de impacto de Taranaki, em Maralinga, no deserto australiano. Em uma cratera em formato de prato, havia um obelisco com a seguinte inscrição: “Uma arma atômica britânica foi testada aqui em 9 de outubro de 1957”. Na borda da cratera, uma placa:

AVISO: RISCO DE RADIAÇÃO
Níveis de radiação por algumas centenas de metros em torno deste ponto podem estar acima daqueles considerados seguros para ocupação permanente.

Até onde os olhos conseguiam alcançar, e mais um pouco, o solo estava contaminado. Plutônio bruto espalhado como talco em pó. O plutônio é tão perigoso para os humanos que um terço de miligrama equivale a 50% de chance de causar câncer.

As únicas pessoas que podiam ter visto a placa eram os indígenas australianos, para os quais não havia nenhum aviso. Segundo um documento oficial, se tivessem sorte “seriam espantados como coelhos”.

Hoje, uma campanha de propaganda sem precedentes está espantando todos nós como coelhos. Não somos propensos a questionar a enxurrada diária de retórica anti-China, que está rapidamente superando a enxurrada de retórica anti-Rússia. Qualquer coisa chinesa é ruim, anátema, uma ameaça: Wuhan… Huawei… Tudo fica ainda mais desconcertante quando o “nosso” líder mais ridicularizado diz isso.

O estágio atual dessa campanha não começou com Trump, mas com Barack Obama, que em 2011 viajou para a Austrália para declarar a maior concentração de forças navais dos Estados Unidos, desde a Segunda Guerra Mundial, na região da Ásia-Pacífico. De repente, a China era uma “ameaça”. Isso era um absurdo, claro. O que estava ameaçado era a própria percepção, incontestável e psicopática, dos Estados Unidos como a nação mais rica, mais bem-sucedida e mais “indispensável”.

Uma coisa que nunca foi colocada em dúvida foi sua propensão à agressão – com mais de 30 membros das Nações Unidas sofrendo algum tipo de sanção dos Estados Unidos e um rastro de sangue espalhado por países indefesos bombardeados, com seus governos derrubados, suas eleições interferidas, seus recursos saqueados. 

A declaração de Obama ficou conhecida como o “pivô asiático”. Uma de suas principais defensoras era sua secretária de Estado, Hillary Clinton, que queria renomear o oceano Pacífico como “o mar americano”, como revelou o WikiLeaks.

Enquanto Clinton nunca escondeu sua faceta belicista, Obama foi um mestre do marketing. “Afirmo claramente e com convicção”, disse o novo presidente em 2009, “que o compromisso dos Estados Unidos é buscar a paz e a segurança de um mundo sem armas nucleares”.

Obama aumentou os gastos com ogivas nucleares mais rápido do que qualquer presidente desde o fim da Guerra Fria. Uma arma nuclear “utilizável” foi desenvolvida, conhecida como B61 Modelo 12. Segundo o general James Cartwright, ex-vice-presidente do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, ela significa “diminuir [para tornar seu uso] mais pensável”.

O alvo é a China. Hoje, mais de 400 bases militares estadunidenses praticamente cercam a China com mísseis, bombardeiros, navios de guerra e armas nucleares. Do norte da Austrália, passando pelo Pacífico até o sudeste asiático, o Japão e a Coréia e da Eurásia até o Afeganistão e a Índia, as bases formam, como um estrategista estadunidense me disse, “o laço perfeito”.

Um estudo da RAND Corporation – que, desde o Vietnã, planeja as guerras dos Estados Unidos – intitula-se Guerra com a China: pensando no impensável (War with China: Thinking Through the Unthinkable). Comissionados pelo exército dos Estados Unidos, os autores evocam as infames palavras de ordem do estrategista chefe da Guerra Fria Herman Kahn: “pensando no impensável”. O livro de Kahn, Sobre a Guerra Termonuclear (On Thermonuclear War), elaborou um plano para uma guerra nuclear “vencível”. 

A visão apocalíptica de Kahn é compartilhada pelo secretário de Estado de Trump, Mike Pompeo, um evangélico fanático que acredita no “arrebatamento final”. Talvez ele seja o homem vivo mais perigoso. “Eu era diretor da CIA”, ele se gabou uma vez, “Nós mentimos, trapaceamos, roubamos. Era como se tivéssemos cursos inteiros de treinamento”. A obsessão de Pompeo é a China.

O objetivo final do extremismo de Pompeo raramente é discutido na mídia anglo-americana, na qual os mitos e as invenções sobre a China são comuns, assim como as mentiras sobre o Iraque. O racismo virulento é o subtexto desta propaganda. Classificados como “amarelos”, embora fossem brancos, os chineses são o único grupo étnico que foi proibido por um “ato de exclusão” de entrar nos Estados Unidos. A cultura popular os considerava como sinistros, indignos de confiança, sorrateiros, depravados, doentes, imorais. 

Uma revista australiana, The Bulletin, dedicou-se a promover o medo do “perigo amarelo”, como se toda a Ásia estivesse prestes a cair, por força da gravidade, sobre a colônia dos só-brancos. 

Como escreve o historiador Martin Powers, reconhecendo o modernismo da China, a moralidade secular chinesa e “suas contribuições para o pensamento liberal ameaçavam a face europeia, portanto, tornou-se necessário suprimir o papel da China no debate iluminista… Durante séculos, a ameaça da China ao mito da superioridade ocidental a tornou um alvo fácil dos ataques raciais”.

No Sydney Morning Herald, o assíduo crítico da China Peter Hartcher descreveu aqueles que espalharam a influência chinesa na Austrália como “ratos, moscas, mosquitos e pardais”. Hartcher, que cita favoravelmente o demagogo estadunidense Steve Bannon, gosta de interpretar os “sonhos” da atual elite chinesa, dos quais ele aparentemente é íntimo. Esses sonhos são inspirados por nostalgias pelo “Mandato do Céu” de mais de 2.000 anos atrás. Ad nauseam.

Para combater esse “mandato”, o governo australiano de Scott Morrison comprometeu um dos países mais seguros do mundo, cujo principal parceiro comercial é a China, a gastar centenas de bilhões de dólares em mísseis estadunidenses que podem ser disparados contra a China.

O gotejamento econômico já é evidente. Em um país marcado historicamente pelo racismo violento contra os asiáticos, australianos com ascendência chinesa criaram um grupo de vigilância para proteger entregadores. Vídeos de celulares mostram um entregador levando um soco no rosto e um casal de chineses sendo agredidos em um supermercado. Entre abril e junho, houve quase 400 ataques racistas contra australianos com ascendência asiática.

“Não somos seu inimigo”, disse-me um estrategista do alto escalão chinês, “mas se decidirem que somos, devemos nos preparar sem demora”. O arsenal da China é pequeno se comparado ao dos Estados Unidos, mas está aumentando de maneira rápida, especialmente o desenvolvimento de mísseis marítimos projetados para destruir frotas navais. 

“Pela primeira vez”, escreveu Gregory Kulacki da União dos Cientistas Preocupados (UCS), “a China está discutindo colocar seus mísseis nucleares em alerta máximo para que possam ser lançados rapidamente em caso de um ataque … Isso seria uma mudança significativa e perigosa da política externa chinesa… ”

Em Washington, conheci Amitai Etzioni, professor renomado de Relações Internacionais na Universidade George Washington, que escreveu que um “ataque desnorteador à China” foi previsto, “com investidas que poderiam ser erroneamente percebidas [pelos chineses] como tentativas preventivas de eliminar suas armas nucleares, encurralando-os em um terrível dilema do tipo use-ou-perca [que] levaria a uma guerra nuclear”.

Em 2019, os Estados Unidos realizaram seu maior exercício militar isolado desde a Guerra Fria, grande parte dele em sigilo. Uma armada de navios e bombardeiros de longo alcance ensaiou uma doutrina de “Batalha Aérea e Naval” (ASB) para a China, bloqueando rotas marítimas no estreito de Malaca e cortando o acesso da China a petróleo, gás e outras matérias-primas do Oriente Médio e da África . 

É pelo receio de tal bloqueio que a China desenvolveu a iniciativa “Um Cinturão, Uma Rota” ao longo da velha rota da seda para a Europa, além de construir, com urgência, pistas de pouso estratégicas nos disputados recifes e ilhotas de Spratly.

Em Xangai, conheci Lijia Zhang, uma jornalista e romancista de Pequim, típica de uma nova camada de dissidentes declarados. Seu livro mais vendido é ironicamente intitulado O socialismo é ótimo! (Socialism Is Great!). Tendo crescido na caótica e brutal Revolução Cultural, Zhang viajou pelo mundo e morou nos Estados Unidos e na Europa. “Muitos americanos imaginam”, disse ela, “que o povo chinês vive uma vida miserável e reprimida, sem liberdade alguma. A [ideia] do perigo amarelo nunca os deixou… Eles não imaginam de que há cerca de 500 milhões de pessoas sendo tiradas da pobreza, e alguns diriam que são 600 milhões”.

As conquistas épicas da China moderna, sua vitória contra a pobreza em massa e o orgulho e contentamento de seu povo (medido por pesquisas de opinião estadunidenses como a Pew), são deliberadamente desconhecidas ou mal compreendidas no Ocidente. Apenas isso já é um indicativo do estado lamentável do jornalismo ocidental e do abandono do jornalismo honesto. 

O lado vilanesco e repressivo da China e o que gostamos de chamar de “autoritarismo” são a ardilosa fachada que nos permitem observar exclusivamente. É como se fossemos alimentados com contos intermináveis do maléfico supervilão Dr. Fu Manchu. E é hora de perguntarmos por quê, antes que seja tarde demais para parar a próxima Hiroshima.

*John Pilger é um jornalista premiado, seus artigos figuram em jornais como The Guardian, The Independent, The New York Times, The Los Angeles Times, The Mail & Guardian (África do Sul), Aftonbladet (Suécia), Il Manifesto (Itália). Visite seu site em www.johnpilger.com.

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