As primeiras páginas dos jornais mostram fotos de um bebê real britânico e a preparação para um casamento real em uma das democracias mais antigas do mundo, enquanto na Polônia, Hungria, Áustria e outros países, estão sendo levantadas questões sérias a respeito do declínio da democracia. Por que as pessoas são tão fascinadas pelo nascimento do príncipe Louis Arthur e pelo casamento de Meghan Markle e do príncipe Harry na Grã-Bretanha, enquanto, ao mesmo tempo, lamentamos a ascensão de governos autocráticos em outros países? Existe uma relação entre o fascínio pela realeza e o declínio da democracia?
De muitas maneiras, a resposta é sim. A realeza e a autocracia reduzem a imagem de um país a uma figura central. Em vez da bagunça do governo regido pelo povo – nunca realmente se sabe quem está no comando –, a realeza e autocratas simbolizam um regime muito mais claro e definitivo. Embora seja politicamente correto dizer que um país é governado pelo povo, que ele é o soberano, há um anseio inato por algo mais parcimonioso. As pessoas estão seguras sabendo especificamente quem está no comando.
Por exemplo, quando o governo da Grã-Bretanha está em agitação quanto ao Brexit e às fraquezas da primeira-ministra Theresa May e seu governo conservador, a realeza representa um retorno fascinante a uma tradição nobre. Embora a rainha tenha pouco poder político nos dias de hoje, há segurança em saber exatamente quem é o próximo na linha do trono. É muito mais interessante falar sobre o que Meghan vai vestir no casamento ou por que Sarah Ferguson foi esnobada na recepção do que descobrir o que a sucessora de Amber Rudd como ministra do Interior fará a respeito do escândalo Windrush ou da imigração.
O fascínio britânico pela realeza está em contradição direta com uma cultura democrática que data de, pelo menos, 1215 e da Magna Carta. Contudo, o fascínio por indivíduos que representam o poder é mais do que apenas um problema britânico. Faz parte do atual declínio da democracia trazido pela globalização
Em tempos de insegurança, os governantes dominantes e os símbolos de autoridade proporcionam segurança. A ascensão do fascismo após a Primeira Guerra Mundial esteve diretamente ligada à insegurança da Grande Depressão. Hoje, que hora melhor para exaltar um bebê real e um casamento real do que quando o futuro da Grã-Bretanha e o futuro da União Europeia estão sendo questionados? Que melhor maneira de ignorar as provações e tribulações da instabilidade do que mergulhar nas vidas da nova geração glamorosa de futuros monarcas?
As situações na Hungria, Polônia e Áustria também refletem uma busca por segurança. As pessoas elegeram líderes de direita ante aos enormes desafios da migração. E a União Europeia não se mostrou a resposta no nível supranacional. A UE continua a ser uma burocracia sem rosto, sem líder simbólico no comando. A dissolução do poder entre seus membros não só causa confusão sobre quem está no comando, mas é necessariamente lenta e ineficiente, características que as pessoas rejeitam em tempos de deslocamento radical. Com mudanças rápidas, soluções simples atendem à necessidade de segurança do público.
“Queremos nossa liberdade e queremos isso agora”, exigiu John Lewis para os afro-americanos na Marcha de 1963 em Washington. Ironicamente, a ascensão dos autocratas e o interesse avassalador por bebês e casamentos reais parecem exigir exatamente o oposto. “Queremos estar seguros com líderes fortes”, votaram o povo da Polônia, Hungria e Áustria nas últimas eleições. Quanto aos britânicos, seu fascínio pela família real tirou o Brexit e a imigração das primeiras páginas.
Não são os governantes autocráticos ou as famílias reais que estão o coração do problema atual das democracias. O problema para as democracias é quando as pessoas se sentem inseguras e se voltam para os outros em busca de respostas. Para o povo ser verdadeiramente soberano, ele deve entender e promover sua própria soberania, não a dominação alheia.