O seguinte artigo, escrito por nosso editor-chefe Pedro Marin, foi originalmente publicado no jornal GGN, do jornalista Luís Nassif.
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Tenho feito, já há algum tempo, uma advertência que considero fundamental nestes tempos em que o país regride anos em semanas: a de não são somente “diferenças ideológicas” que separam os caminhos que queremos e precisamos para o Brasil dos que são traçados por nossa elite. Quando tratamos de brasileiros se queimando gravementeporque não conseguem mais comprar gás e usam álcool para cozinhar, de quase 14 milhões de desempregados ou da venda de nosso petróleo a preço de banana aos estrangeiros, não tratamos de opiniões divergentes – tratamos, sim, das diferenças entre o programa que pretender garantir ao nosso povo um mínimo de bem-estar e para o País alguma perspectiva de desenvolvimento contra um programa que se traduz em política de extermínio contra nosso povo e de subdesenvolvimento para o País.
Essa realidade infelizmente conheci bem, na pele, e talvez por isso ela oriente meu trabalho como jornalista, bem como tenha regido a formulação do livro que lancei em maio passado, “Golpe é Guerra – Teses para enterrar 2016.” Nesta estreia como autor, pretendo abrir polêmicas principalmente com dois setores da esquerda brasileira: por um lado os que se negavam a reconhecer o processo de impeachment contra a ex-presidenta Dilma Roussef como um golpe, porque seu governo teria concedido demasiadamente às elites para ser alvo de tanto, e por outro os setores ligados ao Partido dos Trabalhadores, que em detrimento da estratégia se afundaram em um pantanal de ingenuidade e otimismo caolho. Aos primeiros reagi, durante as movimentações golpistas, com bastante deslumbramento. Estes revestiam suas carapaças de marxismo para, na essência, serem absolutamente positivistas: entendiam que as concessões de Dilma às elites fariam os golpistas recuarem, quando na realidade os fariam – e fizeram – avançar.
Com os segundos, no entanto, não houve espanto. As teses abraçadas pelo Partido dos Trabalhadores com o processo de abertura, no final dos anos 70 – a dizer, a tese da conciliação e do republicanismo – já eram suficientes para não esperar muito mais do partido que não a inação. O que não era previsível é que, com um avanço tão profundo dos golpistas, o PT tenha seguido por tanto tempo (e parece seguir, de fato) apostando suas fichas na negociação, no republicanismo e na institucionalidade. Talvez por ironia, as duras críticas que faço à reação (ou falta dela) do PT ecoam de maneira mais voraz entre os simpatizantes do partido, isto é; parece haver também, em suas bases, uma decepção com a inação frente ao golpe.
“Golpe é Guerra”, portanto, não é um livro para demonstrar a perversidade dos golpistas ou a superioridade dos programas populares, porque isso já nos deveria ser claro: é um livro para aprender com os erros estratégicos do passado, para que não sigamos reféns dos farsantes. Nele trago as lições do realismo político e da guerra, de Maquiavel, Luttwak, Clausewitz, Visacro, bem como entrevistas com figuras como Bresser-Pereira, Guilherme Boulos, Angélica Lovatto e Aldo Fornazieri. Proponho que deixemos os chamados pela moral de lado – virtuosos ou não, na política são inúteis – bem como a fraseologia oca dos slogans, e voltemos a pensar em termos estratégicos. Não há dúvidas que os inimigos de nosso povo o tem feito.