Este é o milésimo artigo publicado neste veículo. Ao menos, o milésimo desde que deixamos de ser um simples blog e, dando um passo maior do que as pernas – como tem sido desde o primeiro passo da Revista Opera – nos convertemos neste site.
Quando a Opera foi fundada, em abril de 2012, éramos bastante imaginativos. Imaginávamos ter coisas importantes a dizer. Imaginávamos que tínhamos condições de oferecer um conteúdo bastante superior ao oferecido pela imprensa tradicional – seja o de corte puramente jornalístico, seja o de opinião. Imaginávamos que, apesar de sermos poucos, encontraríamos no caminho um sem-número de braços fortes para nos apoiar. Tudo isso se confirmou ao longo dos últimos sete anos. Mas, além de tudo isso, imaginávamos que a tarefa seria menos árdua.
Não podíamos imaginar que a carga de trabalho imposta para sustentar a Opera seria inversamente proporcional ao peso das moedas em nossos bolsos. Não podíamos imaginar que seríamos levados a travessias de horas, sentados no assoalho frio de um ônibus numa fronteira qualquer da Ucrânia, para cobrir uma guerra. Também não imaginávamos que o melhor que teríamos para fazer, em meio a uma tediosa viagem de três dias até a Venezuela, seria lutar boxe na fronteira com um Guarda Nacional Bolivariano. Não imaginávamos os quilos perdidos, as brigas pessoais, os problemas físicos.
Mas de nada disso nos queixamos. Todas essas surpresas inimagináveis, ainda que desgastantes, apesar de quase anônimas, todavia assustadoras, constituem para nós um mar de privilégios. Não são privilégios frente ao mais maltrapilho mendigo, nem frente ao trabalhador comum, dos quais tantos hoje gostam de falar de forma tão emocionada. São privilégios frente à história, frente a quase todos os homens; o privilégio de sermos, como costumamos dizer, soldados intermediários num combate de posições. Temos pelo que lutar e, enquanto tivermos, seguiremos nesta trincheira, que hoje dispara sua milésima bala, que grita: a verdade não só se conta; a verdade se milita.
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