Na última quarta-feira (11) foi aprovada na OEA (Organização dos Estados Americanos) uma resolução convocando uma reunião entre os países signatários do TIAR (Tratado Interamericano de Assistência Recíproca) no sentido de ativar o pacto contra a Venezuela.
O tratado, que tem como princípio que um ataque contra um dos países-membros será considerado um ataque contra todos, foi oficializado em 1947, entrando em vigor no ano seguinte. Inspirado na chamada Doutrina Monroe, segundo a qual os países da América Latina e Caribe constituíam um grande protetorado norte-americano, o acordo foi formalizado e assegurado durante a Guerra Fria, alongando no tempo a aliança dos EUA com os países do continente, assegurada para impedir a influência do Eixo no hemisfério durante a Segunda Guerra.
Na reunião desta quarta-feira, 12 dos 18 países-membros do TIAR votaram favoravelmente à resolução, que argumenta que a crise na Venezuela “tem um impacto desestabilizador, representando uma clara ameaça à paz e à segurança do hemisfério.”
Proposta pela Costa Rica, foi rechaçada pelo Brasil uma emenda que, apesar de favorável à instalação do TIAR, proibia expressamente medidas “que impliquem no emprego de força armada” e falava em uma “restauração democrática” na Venezuela.
O chanceler Ernesto Araújo, no entanto, disse que a convocação “não significa ação militar, de forma nenhuma, não é isso que nós queremos, o TIAR não é simplesmente um acordo de ação militar; é um acordo para ação coletiva diante de ameaças à segurança, como claramente é. O chanceler da Colômbia, se não me engano, fez uma apresentação muito clara nesse sentido, com o fato de o regime Maduro estar abrigando terroristas”, se referindo às FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
[button color=”” size=”” type=”” target=”_blank” link=”https://revistaopera.operamundi.uol.com.br/2019/03/01/notas-sobre-a-venezuela-as-coisas-da-guerra-estao-sujeitas-a-continua-mudanca/”]Leia também – Notas sobre a Venezuela: as coisas da guerra estão sujeitas à contínua mudança[/button]
Só faltou combinar direito com o auto-proclamado Juan Guaidó, que representa a Venezuela na OEA – apesar de não ser presidente de nada, a não ser da alcateia internacional que tenta mudar o governo do país por via golpista. De acordo com o que reporta a Folha de São Paulo, membros da comitiva de Guaidó confirmaram que a resolução pode sim levar a um cenário de intervenção militar contra a Venezuela.
Naturalmente, a argumentação dos chanceleres da Colômbia e Brasil representa nada senão propaganda odienta, que suplica por ouvidos mal-informados. Se a presença de membros ou ex-guerrilheiros das FARC na Venezuela representa uma ameaça continental, o que dizer de organizações criminosas brasileiras que vão ganhando força em território paraguaio? Seria viável aplicar o TIAR contra o Brasil, ou ainda contra o Paraguai, abrigo do Exército do Povo Paraguaio (EPP), que também já agiu para além da fronteira, no Brasil? Que dizer então da paramilitaresca Colômbia, que exporta seus paracos para o território venezuelano? A propósito, o auto-proclamado presidente Juan Guaidó, que como foi revelado recentemente se encontrou com narcotraficantes colombianos, representa também uma ameaça a todo o continente?
E se a alcateia não considerasse como risco à segurança continental o conto sobre perigosos guerrilheiros em território venezuelano, e sim a crise – como diz a resolução -, o caminho da paz e da segurança por excelência não poderia estar na aplicação de mais sanções e bloqueios contra a Venezuela, mas na sua anulação e na coleta de ajuda para o país.
Pesassem todos estes fatos na balança torta que querem fazer alguns países do TIAR, o que haveria no continente não seria a “defesa mútua” das Nações, senão a guerra mútua, total e continental. E, se a busca destes fosse a segurança do continente, sem dúvidas seria contra Bolsonaros, Guaidós, Abdos, Duques e, acima de tudo, Trumps, que o TIAR seria solicitado. Afinal, são estes os sobrenomes – não “Maduro” – de quem tenta colocar o continente numa espiral caótica, em busca de mesquinhos ganhos políticos e econômicos, que não beneficiariam povo nenhum, mas sem dúvidas agradariam a muitos empresários e banqueiros.
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