A apenas três semanas das eleições presidenciais no Bicentenário da independência do Peru, a última pesquisa do Centro Estratégico Latino-americano de Geopolítica (CELAG) revela que a disputa, a essa altura, parece estar entre três candidatos.
Numa pesquisa baseada em 2.006 entrevistas presenciais a nível nacional, realizadas entre 23 de fevereiro e 13 de março, em 29 regiões de 17 departamentos, além das províncias de Lima e Callao, o CELAG revela que no Peru de 2021 nenhum candidato chega a 20% de apoio. Talvez essa seja a principal característica desta eleição presidencial no país: a indefinição. No que se refere à orientação do voto, hoje no Peru existem mais cidadãos indecisos (52%), que decididos (48%). A crise institucional permanente do país andino, com três presidentes no último ano e meio (sem contar a efêmera passagem de Mercedes Aráoz pelo cargo) parece ter afetado também a credibilidade do seu sistema político. Não é estranho que, neste cenário de ausência de regras, 43% dos peruanos considerem que o país precisa de uma nova Constituição, e outros tantos considerem que ao menos algumas reformas deveriam ser realizadas na atual lei maior.
Aparentemente, neste cenário apenas três candidaturas estariam atualmente em posição de disputar no dia 11 de abril os dois lugares do quase certo segundo turno, já que hoje em dia seria inimaginável que algum candidato alcance mais de 50% dos votos no primeiro turno. Tudo indica que os peruanos e peruanas irão eleger definitivamente o próximo presidente no um(a) contra um(a), no próximo dia 6 de junho.
Dos três candidatos em disputa, o melhor posicionado é o populista Yonhy Lescano, com 15,6% dos votos. Natural de Puno, um departamento situado na fronteira com a Bolívia, Lescano tem conseguido dialogar bem com o sul, de tradicional esquerda combativa e reivindicativa no Peru. Para isso, em uma campanha onipresente nos meios de comunicação, o candidato emprega de maneira contundente um discurso que, no que se refere à economia, parece atualizar um tipo de neo-estadismo nacionalista já tradicional no Peru. Sua proposta eleitoral vaga e de tom populista em matéria econômica se completa na conexão com os setores mais conservadores do país com uma agenda fortemente reacionária em questões de gênero e direitos humanos, opondo-se abertamente ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e ao aborto.
Lescano conta ainda com o apoio e presença territorial – governa Cusco, Cajamarca e Huánuco -, além de ter ganho a prefeitura de Lima nas últimas eleições municipais do histórico partido Ação Popular, fundado por Fernando Belaúnde Terry, duas vezes eleito presidente e próximo ao PDC (Partido Demócrata Cristiano).
Em segundo lugar encontra-se George Forsyth, com 13,1% dos votos. Forsyth aparece como representante dos candidatos latino-americanos de orientação neoliberal saídos do mundo empresarial, como Mauricio Macri, na Argentina, ou Sebastián Piñera, no Chile. No caso peruano, Forsyth, de origem venezuelana, compensa sua trajetória mais curta no mundo da economia com o fato de já ser publicamente conhecido, devido à sua trajetória no futebol e como prefeito do distrito de La Victoria, em Lima. Bem acima nas pesquisas durante o último ano, perdeu apoio de maneira sistemática à medida que as eleições se aproximaram.
Verónika Mendoza fecha o trio de candidatos que superam 10% de adesão com 11,2% das intenções de voto. A candidata da esquerda, procedente de Cusco, é a única concorrente entre os três que já disputou as eleições presidenciais em 2016, em que obteve um meritório 18,7% dos votos. É a única concorrente com uma proposta eleitoral que contrapõe o atual modelo político e econômico peruano. Embora sua proposta eleitoral destaque a iniciativa de uma Assembleia Constituinte, Mendoza teria conseguido dialogar com a população também através de propostas concretas, como a reforma agrária (que seria apoiada por 78% dos peruanos) e o aumento de impostos às multinacionais instaladas no país (medida apoiada por 68% dos peruanos e peruanas).
A pesquisa do CELAG explora outros aspectos do cotidiano peruano neste contexto pré-eleitoral de pandemia, em que poder se vacinar contra a Covid-19 é a principal meta da população para este 2021, enquanto revela-se uma avaliação negativa das políticas de um governo – o de Francisco Sagasti – aprovado por apenas um em cada três peruanos.
Ainda neste contexto, e apesar das sensações sobre a situação nacional revelarem um país angustiado (21%), irritado (16%) e cercado de incerteza (34%), 56% dos peruanos acreditam que esta eleição pode representar uma mudança positiva para o país.
Por fim, no próximo dia 11 de abril, o Peru elegerá entre dois modelos opostos para seu futuro imediato. O país com mais letalidade da pandemia na América Latina, e com uma estratégia de vacinação que permite aos mais abastados pagarem pela vacina que o governo não garante à maioria da população, elegerá entre a continuidade e a mudança.