Filho de um ourives, Albrecht Dürer nasceu há 550 anos, no dia 21 de maio de 1471, durante a Renascença, período turbulento que ressoa no início da era moderna. Eram tempos de convulsões religiosas, quando os camponeses na Europa se sublevaram e exigiram ser tratados como iguais.
As forças da oposição popular tornaram-se parte da Reforma Protestante, que impôs uma contestação política e religiosa à Igreja Católica e, principalmente, de sua autoridade papal. O movimento começou com John Wycliffe na Inglaterra e culminou na Alemanha, onde Martinho Lutero desempenhou um papel fundamental no nascimento da Reforma.
Todavia, como Friedrich Engels demonstra em As Guerras Camponesas na Alemanha, Lutero temia o efeito socialmente explosivo que a sua contestação à hierarquia romana produzia nos camponeses, que a viam como compatível com suas legítimas aspirações de mudança do seu próprio destino.
A reforma teológica de Lutero, entretanto, não questionava antagonismos de classe e ele, junto com a burguesia, voltou-se contra os camponeses revolucionários. Estes últimos, com seus aliados da plebe urbana, foram derrotados e tiveram seus líderes presos e executados.
Neste contexto, a importância dos retratos do campesinato feitos por Dürer não pode ser subestimada, e esta influência pode ser vista na obra de diversos artistas, infundindo um apelo popular assombroso na arte alemã do período da Reforma.
Dürer se instalou na Holanda durante o período de 1520-21, e foi lá que ele produziu “A Negra [sic] Katherina”, um notável retrato feito a olho nu. A obra mostra o grande interesse do artista por pessoas que vieram para a Europa por conta do crescente comércio internacional, o que inclui o tráfico de escravos. Além disso, o nome sugere que a retratada havia sido convertida ao cristianismo.
A mulher retratada era uma criada de 20 anos de um agente comercial português, que administrou o monopólio das especiarias portuguesas em Antuérpia, e que provavelmente comprou a mulher africana a partir de contatos comerciais. Dürer infunde seu retrato com muita dignidade.
Dürer foi o primeiro artista alemão a representar os camponeses como motivos estéticos, e eles apareciam de modo significativo nos folhetos revolucionários da época.
A calcogravura de cobre “Três Camponeses Conversando” mostra um trio de camponeses armados, astutos e dignos numa conversa séria. Um deles carrega um florete, outro tem uma faca no bolso e esporas nos seus sapatos. O terceiro alcança algo em seu colete, a partir do qual poderia produzir um panfleto.
Dürer foi um exemplo em relação à Guerra dos Camponeses, quando Lutero aconselhou que os príncipes massacrassem os rebeldes que se sublevaram durante a revolta difundida em 1524-25 na Europa Central, que fracassou devido à intensa oposição da aristocracia, responsável pelo assassinato de cerca de 100 mil dos 300 mil camponeses e agricultores precariamente armados.
No terceiro livro de seu “manual de instrução em medições”, de 1525, o modelo de Dürer para o dimensionamento de um monumento é uma xilogravura que homenageia os camponeses derrotados. Ela mostra o gado e os equipamentos domésticos e agrícolas de uma propriedade camponesa, agora espólio dos conquistadores. Coroando o pilar, vemos um camponês trespassado por uma espada, como um Cristo em repouso: o camponês assassinado aparece como seu verdadeiro seguidor.
Tais demonstrações de apoio aos camponeses revolucionários não eram nada seguras no término dessa guerra brutal. Muitos artistas sofreram perseguição, tortura e morte, e Dürer encerrou toda sua atividade artística, voltando-se às preocupações científicas. Ele morreu aos 57 anos de idade.
Como muitos dos grandes artistas desse período na Alemanha, Dürer permaneceu ao lado do povo e de suas aspirações revolucionárias. Ele lutou com as armas de sua arte.