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A China já marcou uma data para sua chegada à Lua

Objeto de disputa durante a Guerra Fria, a Lua espera, desde 1972, que a humanidade volte a visitá-la. Dessa vez, corrida envolve China e EUA.
Objeto de disputa durante a Guerra Fria, a Lua espera, desde 1972, que a humanidade volte a visitá-la. Dessa vez, corrida envolve China e EUA. Por Guido de Caso | Primera Línea – Tradução de Pedro Marin para a Revista Opera
O traje espacial chinês “Feitian” no Museu Espacial de Hong Kong. (Foto: Johnson Lau)

Desde 1972, a Lua espera que a humanidade volte a visitá-la. Mas, após as seis missões Apollo que conseguiram pousar na lua, demos as costas ao nosso satélite natural. A exploração espacial nos últimos 50 anos se focou no avanço de sondas não-tripuladas a diversos planetas. A exploração tripulada ficou relegada à construção de estações em órbitas terrestres baixas, a não mais de 400 km de altura. Para que se tenha perspectiva, a Lua se encontra quase mil vezes mais distante que isso.

Mas na década de 2010 esse foco mudou. Nos Estados Unidos, a nova estratégia passou a ser deixar a exploração das órbitas terrestres baixas para as empresas privadas. Desta forma, a NASA liberava seu orçamento, e sobretudo sua capacidade técnica e operativa, para planejar e executar missões mais ambiciosas. É assim que nasce o programa Artemis, que tem por objetivo levar mais uma vez a nação norte-americana à superfície lunar.

Essa iniciativa conta, ainda, com sócios internacionais como Canadá, Japão e Europa, através de suas respectivas agências espaciais. Por trás destes esforços estatais há um número sem fim de fornecedores privados. Desde os componentes dos foguetes até os painéis solares das naves, passando por elementos cruciais como as roupas espaciais ou o veículo que se utilizará no pouso.

Precisamente este último veículo foi foco de diversas controvérsias entre as empresas privadas e a NASA. É que a agência espacial estadunidense realizou um processo de licitação para solicitar propostas de módulos lunares. Após vários meses de espera, em abril de 2021, a empresa SpaceX, do controverso Elon Musk, foi declarada como ganhadora da disputa, levando para casa 2,9 bilhões de dólares. A Blue Origin, empresa do fundador da Amazon, Jeff Bezos, foi desqualificada do processo de seleção por problemas na sua apresentação. Isso produziu uma série de litígios e obstáculos que atrasaram o avanço e a liberação dos fundos.

A NASA tem previsto que sua missão Artemis 3 pouse na superfície lunar com dois astronautas em 2025. Esta estimativa é extremamente otimista, e a comunidade espacial em geral coincide em dizer que, com sorte, a missão se realizará entre 2026 ou 2027.

Da China à Lua

Do outro lado do Oceano Pacífico, o programa espacial chinês tem os olhos sobre a Lua há algum tempo. Sua série de missões robóticas Chang’e (nome da deusa chinesa da Lua), conseguiu atingir marcos importantíssimos, como por exemplo trazer rochas para análise na Terra com sucesso ou ter o primeiro veículo robótico a explorar a face oculta do nosso satélite natural.

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E na China eles também têm um programa de exploração tripulado próprio, sem dependência de fornecedores ou parceiros externos, como é o caso da Artemis. Este programa acaba de encerrar um incrível 2022, no qual colocaram em operação sua estação espacial Tianwen (palácio celestial). A estação conta com uma tripulação permanente, em grupos de até três astronautas, que se revezam a cada 6 meses, aproximadamente.

O nome da agência espacial encarregada destas atividades é China Aerospace Science and Technology Corporation (CASC). A CASC tem experiência com exploração lunar robótica e exploração tripulada de órbitas baixas. Naturalmente, o passo seguinte é combinar ambas, e levar seus cidadãos à Lua.

Para isso, faz tempo que os chineses estão desenvolvendo um novo e poderoso foguete. Um que seja capaz de levar uma nave espacial melhorada, bem como sua tripulação, até nosso satélite cinza. Este foguete passou por distintos nomes extraoficiais durante seu desenvolvimento. Cabe destacar que a CASC é muito restrita na sua estratégia de compartilhamento de informações. Por isso, foi um grande evento quando a agência montou uma apresentação para apresentar seu novo veículo ao mundo.

O foguete se chamará Chang Zheng 10 (Grande Marcha 10), ou CZ-10, e terá um aspecto similar a um Falcon Heavy, por contar com três núcleos unidos entre si. Cada um deles levará sete motores alimentados a querosene e oxigênio líquido. A CASC tem a previsão de realizar os primeiros lançamentos do CZ-10 até o ano 2027 e, se tudo ocorrer bem, deve realizar uma primeira tentativa de pouso tripulado na Lua até 2029.

Este prazo é, a princípio, mais longo que o previsto pela NASA para a Artemis 3, mas há de se ter em conta a complexidade das missões. É que, para uma missão tripulada, a CASC pretende lançar dois CZ-10: um para levar a nave com seus três tripulantes e outro para levar o módulo lunar. Estes veículos se encontrarão na órbita lunar. É uma operação um tanto complexa, mas relativamente simples em comparação à modalidade prevista no programa Artemis.

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Tal como no caso chinês, por parte da NASA as missões contemplam enviar a tripulação e o módulo lunar separados. Mas o módulo lunar da NASA será um enorme veículo Starship da SpaceX, que requererá ser abastecido por vários cargueiros de combustível, por meio de transferências em órbitas terrestres baixas. Em outras palavras, a nave de Elon Musk é tão pesada e requer tanto combustível que o utiliza todo só para chegar à órbita, tendo de ser reabastecida no espaço antes de empreender sua viagem à Lua. Esta operação de transferência de combustível em órbita jamais foi tentada e é um dos fatores que fazem com que os especialistas creiam que a missão Artemis 3 deve ser adiada até a próxima década.

De qualquer forma, cinco anos de atividade frenética nos esperam, com preparações para ver quem chega antes à Lua. Serão os Estados Unidos, com seu complexo sistema de parceiros e fornecedores privados, mas com mais experiência e poder de inovação? Ou será o nascente programa espacial chinês, talvez sem tanta experiência, mas com um alinhamento vertical muito mais propício para atingir metas em prazos apertados?

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