Integrando a comitiva do presidente Lula em viagem a Portugal, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, disse na última sexta-feira (21) ser contrário à extinção do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
“Acabar [com o GSI], não. O que pode é até mudar de nome, colocar outra sigla. Mas aquilo é necessário, é um instrumento de trabalho e de apoio do Presidente da República”, disse. A declaração veio após o ex-ministro-chefe do GSI, general Gonçalves Dias, ter se demitido, em meio ao vazamento de imagens que o mostravam chegando ao Palácio do Planalto durante os atos golpistas de 8 de janeiro.
Além de barrar um fechamento do GSI (“acabar não!”) e sugerir uma mudança de nome – uma forma bastante conveniente de reposicionar a “marca” do gabinete, mas não de limpá-lo de fato da infestação de militares golpistas ou de acabar com o que é uma estrutura de tutela militar junto ao governo –, o ministro da Defesa defendeu também que o órgão se mantenha sob o comando de um general. “Isso [a decisão sobre o comando] não cabe a mim, mas eu acho que não se devia mexer nisso agora.” Achando o que acha, se reconhece que a decisão não cabe a ele, porque o ministro não guarda suas observações ao presidente, ao invés de dá-las à imprensa?
Isto é, o ministro da Defesa de Lula – elogiado pelo ex-vice-presidente Hamilton Mourão e também por Bolsonaro, que se disse “apaixonado” por ele no passado –, além de insistir que o GSI se mantenha (sob outro nome), insiste que o gabinete seja liderado por um militar. O ministro, que atua como uma espécie de eminência-parda dos generais junto ao governo, parece ter tanto apreço por essa sua posição de cunha militar junto a Lula que se confunde: se esquece que, se aplicada a mesma chantagem sob seu ministério, ele mesmo, um civil, não seria ministro. É o mesmo José Múcio que insistiu que os atos golpistas nos quartéis do Exército eram uma “manifestação da democracia” e não deviam ser reprimidos (sem esquecer de observar que tinha amigos e familiares lá); o mesmo José Múcio que no dia 8 de janeiro propôs a Lula uma operação de Garantia da Lei e Ordem (GLO) que teria posto a segurança pública do Distrito Federal sob o comando do mesmo tipo de gente que, com tanques e tropas, tentou impedir a prisão de golpistas.
Mas Múcio não parece estar feliz somente com as posições de ministro da Defesa de Lula junto aos militares, ministro dos militares junto ao governo Lula, afeto declarado de Bolsonaro, defensor de golpistas e proponente de operações de exceção. Em Portugal, falou também sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e as ocupações realizadas pelo movimento neste mês de abril, que marca mais um aniversário do Massacre de Eldorado de Carajás, em 1996. “Eu acho que eles [MST] não estão ajudando. Se eles são partidários do presidente, eles não estão ajudando. Não é uma coisa boa para o governo, não é uma coisa que a sociedade aceita. Essas coisas têm de ser feitas sem vandalismo, sem depredação”, disse. Como ocupações de terra e a relação de movimentos sociais com o presidente não são da alçada da Defesa – a não ser sob a pervertida concepção das Forças Armadas como combatentes de “inimigos internos” – talvez Múcio esteja querendo ser também líder de movimento social ou ministro da Agricultura. Ou, quem sabe, presidente.
Uma sugestão, então, ao MST: no próximo abril, ocupem a entrada dos quartéis. Talvez assim o ministro José Múcio se solidarize com os sem terra e até considere seus atos democráticos.