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Adeus, Lenín (no Equador)

Lenín Moreno fez tudo o que estava no papel. Cumpriu sua tarefa. E chegou sua vez. Foi usado, e depois descartado, da mesma forma que ocorreu com tantos.
por Alfredo Serrano Mancilla | Celag – Tradução de Pedro Marin para a Revista Opera
(Imagem: Celag)

Ele vai embora, e já sabe. Nem sequer chegou ao marco de dois anos, e sua imagem positiva segue em queda livre. Segundo as últimas pesquisas realizadas pelo Celag, Lenín Moreno passou de ter um saldo líquido positivo de 2,8 pontos em novembro para um saldo negativo de 19 em março deste ano. A essa altura, poucos creem que seja ele quem está governando. Com dados da mesma pesquisa, a maioria dos equatorianos pensam que são os grupos econômicos, o governo dos Estados Unidos e Jaime Nebot (prefeito de Guayaquil e ferrenho opositor do ex-presidente Rafael Correa) quem realmente dirige o país, bem à frente da orientação do próprio presidente.

Visto por onde for, Lenín tem os dias contados e está consciente disso. Não tem apoio popular, como bem demonstraram os resultados das recentes eleições secionais; tampouco tem estrutura partidária própria, e nem sequer tem gabinete próprio, porque a maioria dos ministros são representantes de interesses corporativos. De sua parte, os aliados políticos começaram um processo de afastamento sem retorno, porque já não necessitam dele para aquela transição sonhada que devia impedir o ex-presidente Rafael Correa.

O setor empresarial também tem se distanciado do presidente; o vêem como alguém muito fraco, sabem que se aproxima de seu final, e é melhor não estar apegado a ele. A partir de agora, a pressão aumentará. Os donos dos dólares deixarão de liquidar exportações e acelerarão o processo de levar o dinheiro para o exterior graças, precisamente, à decisão de Lenín de eliminar o imposto de câmbio. Assim, irão gerar a tempestade perfeita baseada em uma sensação de caos e incerteza, terreno no qual eles se movem como peixes na água, afirmando-se como essenciais. Desta forma, para Lenín toda a bateria de “amigos” desaparece do seu lado, com exceção dos meios de comunicação, que por enquanto não mudaram a linha editorial, embora para isso falte pouco.

Já conhecemos bem essas grandes empresas: elas são fáceis de converter e sempre gostam de jogar com o vento a favor. Certamente eles já apostaram no novo cavalo vencedor. Isto é, segundo eles, Nebot.

Lenín fez tudo o que estava no papel. Cumpriu sua tarefa. E então chega sua vez. Foi usado, e depois descartado, da mesma maneira que ocorreu com tantos outros presidentes latino-americanos (veja o caso de Michel Temer no Brasil). Fez o que deveria em todas as frentes: a) perseguiu Correa judicialmente e a muitos outros políticos da revolução cidadã, até o ponto de colocar na prisão seu próprio vice-presidente; b) em marcha forçada, desmantelou tudo o que pôde do Estado, para debilitá-lo como mandam os cânones neoliberais; c) reformou a seu capricho toda a megaestrutura judicial, mudando fiscais, juízes e membros do Tribunal Constitucional, bem como do Órgão Eleitoral; d) no campo econômico deu seus primeiros passos (especialmente no campo tributário) e deixou tudo pronto para que o FMI entre com tudo, incluíndo a reforma trabalhista; e) no campo internacional rapidamente foi servir aos Estados Unidos em todas as frentes: abrindo escritórios dos EUA no país para que possam atuar como na época das bases militares; se lançou contra a Venezuela, inclusive reconhecendo e recebendo Juan Guaidó como presidente interino; na OEA votou sempre segundo indicava o país hegemônico, pediu a gritos para ser membro da Aliança do Pacífico e se somou ao Prosur ao mesmo tempo em que quis enterrar a Unasur. Sua última decisão desesperada, como um golpe de asfixia, foi remover o asilo de Julian Assange, violando todas as regras do direito internacional, e colocá-lo sobre a mesa para os Estados Unidos para sua extradição. Com isso matou dois coelhos com uma só cajadada: por um lado, fazendo uso e abusando do Estado, vingou-se de alguém que descobriu um importante plano de corrupção em que o próprio protagonista era o próprio presidente; e, por outro lado, ele certamente fez seu último gesto a favor dos Estados Unidos para garantir-lhe uma saída digna e confortável no final de sua turnê presidencial.

Lenin é uma demonstração magnífica de que não se deve confiar naquele que sorri demais no meio da cena política. Aquele que foi o representante máximo da Missão Ternura (programa de alimentação infantil) acabou entregando Assange, dando um passo definitivo para que as probabilidades de condená-lo à pena de morte aumentassem. Outro paradoxo na vida política desse personagem que foi apresentado na época como “centrista fanático”, para trazer a paz em tempos de confronto, e certamente sim, era verdade que não chegou a confrontar, pelo menos não no sentido de defender a soberania do país, permitindo que os Estados Unidos tornem o Equador o mesmo que sua vizinha Colômbia.

O final já está escrito. Nós não sabemos exatamente quando, mas certamente será mais cedo do que tarde. Ele já disse isso ao próprio Nebot: você não pode esperar mais, 2021 é tarde demais. E, de sua parte, Correa está mais vivo do que nunca, o que é inversamente proporcional ao tempo de vida política de Lenín. As rotas de fugra são múltiplas: morte cruzada, revocação ou simples resignação e avanço eleitoral. Independentemente do canal institucional, a política já definiu a data de expiração.

Adeus, Lenín!

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