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WikiLeaks expõe relatório da OPAQ sobre suposto ataque com armas químicas na Síria

O WikiLeaks acusou a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCQ) de “adulterar seu relatório sobre armas químicas (em Douma, Síria)”.
por Stephen Lendman* | Global Research – Tradução de Gabriel Deslandes
(Foto: Qasioun News Agency)

Em 23 de novembro, o WikiLeaks acusou a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) de “adulterar seu relatório sobre armas químicas (em Douma, Síria)”. O site publicou informações do e-mail de um denunciante da própria OPAQ, integrante de sua missão de investigação em Douma, que expressa “sua preocupação maior com o viés intencional introduzido a uma versão editada do relatório do qual ele era coautor”.

A Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) opera como uma ferramenta imperial pró-Ocidente. Atende aos interesses dos EUA e da OTAN – em um polo oposto às suas delegadas obrigações de “buscar um mundo livre de armas químicas”.

A organização perdeu sua legitimidade e deve ser dissolvida e substituída por grupos independentes de fiscalização de armas química, reconhecidos unicamente pela manutenção das disposições da Convenção sobre as Armas Químicas e livres de influência e controle externos.

A chamada Missão de Busca de Fatos (FFM) da OPAQ manipulou seu relatório de março de 2019 sobre o suposto incidente de 7 de abril de 2018 em Douma, na Síria – o qual nunca aconteceu – dizendo falsamente o seguinte:

“Com relação ao suposto uso de armas químicas tóxicas como arma em Douma (Síria), a avaliação e análise das informações coletadas pela FFM (adiando sua visita ao local por 11 dias) fornecem motivos razoáveis para afirmar que o uso de uma substância química tóxica como arma aconteceu em 7 de abril de 2018.

Esse produto químico tóxico continha cloro reativo. O produto químico tóxico era provavelmente cloro molecular.”

O chamado incidente era uma bandeira falsa organizada pelos EUA e a OTAN, e a Síria foi injustamente culpabilizada por um evento sem vítimas. Ninguém em Douma morreu, foi hospitalizado ou ficou doente devido à exposição a substâncias químicas ou outras toxinas. Testemunhas oculares e o corpo médico local desmentiram a narrativa forjada. Os especialistas técnicos russos não encontraram provas de toxinas ou outras substâncias químicas em amostras de solo e outras análises do local.

Contudo, a Missão de Busca de Fatos da OPAQ alegou mentirosamente aquilo que não aconteceu. Ao mesmo tempo, a Rússia condenou a história “fabricada” do suposto incidente. Damasco disse que o relatório da OPAQ “não difere dos relatórios anteriores da missão, repletos de fatos distorcidos”, que culpavam a Síria pelos incidentes com armas químicas encenados por terroristas apoiados pelos EUA.

No decorrer dos anos de agressão perpetrada pelos EUA contra Síria – usando o ISIS e jihadistas semelhantes como soldados de infantaria imperial, apoiados por bombardeios terroristas comandados pelo Pentágono desde 2014 –, nenhum fragmento de prova credível sugeriu o uso de substâncias químicas ou outras toxinas proibidas pelas forças da República Árabe da Síria contra qualquer um.

No sábado, com base em informações apresentadas por e-mail por um denunciante da OPAQ, o WikiLeaks criticou “uma versão editada do relatório (sobre Douma) deturpando os fatos”, e acrescentou:

O denunciante afirma que “essa deturpação foi possível por omissão seletiva, introduzindo um viés que mina a credibilidade do relatório”. O material foi editado “a pedido do Escritório do Diretor-Geral”. O suposto incidente tinha como base “relatos dos Capacetes Brancos (ligados à Al-Qaeda) que estavam presentes em Douma na época”. Eles mentiram que aviões sírios haviam jogado cilindros contendo toxinas em Douma.

A OPAQ afirmou erroneamente ter encontrado a presença de “cloro ou outro produto químico contendo cloro reativo” no local do suposto incidente. O cloro é o principal ingrediente de alvejantes domésticos, amplamente utilizados.

“Uma prova, apresentada pelas redes de notícias de todo o mundo, era um vídeo que mostrava vítimas sendo tratadas em um hospital após o ataque em Douma.

Os sintomas mostrados, todavia, não são consistentes com o que as testemunhas relataram ter visto naquele dia. Aparentemente, uma discussão detalhada sobre isso foi omitida da versão editada do relatório da OPAQ.

As condições dos chamados cilindros em Douma ‘não eram consistentes com uma queda pelo ar…’

A prova física fabricada, incluindo (supostos) corpos de (centenas de) mortos seriamente afetados por uma arma de gás químico, não está mais disponível”.

O editor do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, disse que as informações fornecidas pelo denunciante da OPAQ “lançam dúvidas sobre a integridade dessa organização”, acrescentando:

“Embora o denunciante não estivesse pronto para ir adiante e/ou apresentar documentos ao público, o WikiLeaks acredita que agora é de maior interesse para o público ver tudo o que foi coletado pela Missão de Pesquisa de Fatos sobre Douma e todos os relatórios científicos escritos em relação à investigação.”

Um dos membros do painel formado para analisar as alegações da OPAQ sobre o suposto incidente, o ex-diretor geral da OPAQ, Jose Bustani, afirmou o seguinte:

“A prova convincente do comportamento irregular da investigação da OPAQ sobre o suposto ataque químico de Douma confirma as dúvidas e suspeitas que eu já tinha. Eu não conseguia entender o que estava lendo na imprensa internacional. Até os relatórios oficiais de investigações pareciam, na melhor das hipóteses, incoerentes. A imagem está certamente mais clara agora, embora seja muito perturbadora.”

Fundada em 29 de abril de 1997, Bustani atuou como o primeiro diretor-geral da OPAQ. Como subsecretário de Estado de Bush e Cheney para controle de armas e assuntos de segurança internacional em 2002, John Bolton orquestrou a remoção de Bustani como diretor-geral da organização antes de seu mandato expirar – já que ele não estava atendendo aos interesses dos EUA ao cumprir suas obrigações. Na época, ele teria pedido a Saddam Hussein para se juntar à OPAQ e permitir inspeções irrestritas nas supostas áreas de armazenamento de armas químicas. Caso tivesse conseguido, teria sido um obstáculo adicional às falsas alegações por parte de Bush e Cheney de armas de destruição em massa, usadas como pretexto para agressões explícitas. O regime de marionetes instalado no Iraque se juntou à OPAQ em 2009.

O painel formado para revisar as alegações da OPAQ sobre o suposto incidente de Douma pediu à organização que “todos os inspetores que participaram da investigação de Douma se apresentem (e expliquem) suas diferentes observações em um fórum apropriado dos Estados partes da Convenção sobre as Armas Químicas”, relatou o WikiLeaks.

Nota: O relatório de junho do Mecanismo de Investigação Conjunto (JIM) da OPAQ sobre o uso de gás sarin (um agente nervoso) no incidente de armas químicas em Khan Shaykhun, em 4 de abril de 2017, também foi fabricado.

O JIM conduziu sua missão de apuração à revelia dos fatos – sem nunca ter visitado Khan Shaykhun, sem obter uma descrição em primeira mão dos acontecimentos a partir de fontes confiáveis. Na época, o Ministério das Relações Exteriores da Síria criticou as conclusões da OPAQ , chamadas de “fabricadas e enganosas, (provavelmente) escritas e preparadas com antecedência por certos círculos hostis à Síria”.

As fontes citadas pelo JIM estavam conectadas à inteligência dos EUA e do Reino Unido. A Síria eliminou todo o seu estoque de armas químicas. Nenhuma prova sugere o contrário. Em repetidas ocasiões, os terroristas apoiados pelos EUA utilizaram tais armas, sempre atribuídas falsamente a Damasco.

A OPAQ é cúmplice dos objetivos norte-americanos ao culpar a Síria por incidentes de armas químicas com os quais não teve nada a ver, manipulando informações para que afirmem mentirosamente o oposto.

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*Stephen Lendman vive em Chicago. Ele é pesquisador associado do Center for Research on Globalization (CRG).

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