Muito se conhece sobre a resistência negra ao racismo americano nos anos 60 e 70. Muitos são os que conhecem Malcolm X, Martin Luther King e os Panteras Negras. Uma figura importantíssima, no entanto, foi deixada de lado: Robert F. Williams.
Robert nasceu em Monroe, no estado da Carolina do Norte, em 1925. Em 1944, entra pros Marines, a divisão de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, por prometerem dar educação gratuita para os alistados – promessa não cumprida para Robert. Alguns anos depois, tornaria-se um herói da resistência, inspirando figuras como Huey P. Newton, co-fundador dos Panteras Negras.
“Eu voltei pro Sul quando saí do serviço [militar], e as pessoas começaram a fazer manifestações. E uma irmã negra estava sentada num banquinho, tentando comprar um sanduíche e eles [os brancos] apagavam cigarros nos pescoços dos negros, nas costas e batiam neles com correntes na cidade onde eu morava [Monroe]. E em determinado momento os brancos apareceram e bateram em 18 mulheres, no meio da rua. Mas nós nos levantamos e fizemos algo”, conta Robert.
“Quando ele voltou pra Monroe, ele virou o Presidente da NAACP (National Association for the Advancement of Colored People), e a Corte Suprema tinha proibido a segregação em escolas públicas, então começamos a nos organizar na comunidade, unindo as pessoas” conta Mabel Williams, esposa e companheira de luta de Robert.
A NAACP mantinha na época uma luta não-violenta em Monroe contra a segregação, que era respondida à bala pela Ku Klux Klan. A perseguição aos negros por parte da polícia e a Ku Klux Klan forçou Robert Williams a revisar suas táticas, e no fim dos anos 50 ele cria a Guarda Negra Armada (Black Armed Guard), com cerca de 60 homens determinados a defender a comunidade negra de Monroe de ataques racistas.
A imprensa da época estimava que a seção de Monroe da Ku Klux Klan tivesse cerca de 7.500 membros, enquanto a cidade tinha apenas 12 mil habitantes. No verão de 1957 rondavam rumores de que a KKK planejava um ataque à residência de Albert Perry, físico negro e vice-presidente da NAACP. Robert Williams e seus homens fizeram uma barricada e protegeram a casa, e a ameaça se confirmou: a Guarda Negra Armada trocou tiros com membros da KKK, que correram, com seus carros, covardemente.
Em 1958, Robert ficou conhecido por defender David Simpson, de 7 anos, e James Hanover Thompson, de 9, no caso que ficou conhecido como “Kissing Case.” As duas crianças foram presas por darem um beijo na bochecha de outra criança – essa branca – durante um jogo. Eles foram acusados de molestarem a criança, e sentenciados a ficar em um reformatório até completarem 21 anos. A acusação causou revolta internacional, e depois de três meses de detenção, David e James foram perdoados pelo governador da Carolina do Norte.
Em 1959, Robert Williams debateu sobre a não-violência com Marthin Luther King, durante a convenção da NAACP. Depois do debate, sua presidência em Monroe foi suspendida por 6 meses, pela discordância de Williams com a liderança nacional. Em 1961 uma grande campanha dos “Freedom Riders” começa em Monroe, contra a segregação em viagens de ônibus interestaduais. Piquetes foram erguidos pela cidade, e protestos aconteciam em quase todos os bairros.
Durante as manifestações, um casal branco dirigiu-se até um dos guetos negro da cidade, tentando evitar os protestos na região central. Intimidados pela massa furiosa, foram levados à casa de Robert Williams. Robert disse que podiam ir embora, mas acabou percebendo que não era seguro. Eles foram levados a uma outra casa, até que os ânimos se acalmassem. Por isso, Robert Williams foi acusado de ter sequestrado o casal. O FBI distribuiu cartazes à procura do “sequestrador armado”, assinados pelo Diretor do FBI, J. Edgar Hoover – o mesmo que em alguns anos declararia que o Partido dos Panteras Negras era “a maior ameaça à segurança nacional” dos Estados Unidos.
Perseguido pelo FBI, Robert se exila em Cuba, de onde escreve seu livro “Negros com armas” e trabalha em sua estação de rádio, a Radio Free Dixie, e em seu jornal, The Crusader. Em 1965 sai de Cuba e vai pra China, onde encontra-se com o Presidente Mao Tsé-Tung.