Após dias de especulações e temores, Israel finalmente lançou um ataque em grande escala contra o Irã. Na noite de quinta-feira, 12 de junho, as Forças de Defesa de Israel (IDF) realizaram uma onda de bombardeios contra instalações nucleares iranianas, o programa de mísseis balísticos de longo alcance, bases militares e outros alvos.
A operação militar, sob o nome de “Leão Ascendente”, foi descrita por fontes oficiais israelenses como um “ataque preventivo” que visa neutralizar a capacidade da República Islâmica de produzir uma arma nuclear, o que eles afirmam ser uma “ameaça iminente”.
A ofensiva iniciada pelo Estado sionista faz parte de uma campanha que deve durar vários dias. Não se trata de um ataque limitado, mas sim concebido a médio prazo como uma forma de reduzir consideravelmente as capacidades de enriquecimento de urânio e de mísseis de longo alcance de Teerã. O próprio Benjamin Netanyahu declarou que a campanha durará o tempo que for necessário.
Segundo descreveram oficiais israelenses: “Estamos em uma janela de oportunidade estratégica. Chegamos a um ponto sem volta, e não há outra escolha a não ser agir agora”. Por esta razão, o ministro da Defesa de Israel declarou estado de emergência em todo o país, o fechamento do espaço aéreo e a suspensão de todas as atividades que não sejam estritamente necessárias, recomendando a todos os cidadãos que permaneçam perto de abrigos antiaéreos.
Os objetivos do ataque de Israel ao Irã
O alcance e os objetivos ainda não foram totalmente determinados, mas já se sabe que Israel matou o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, o major-general Mohammad Bagheri; o comandante do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, o major-general Hossein Salami; e o comandante do Quartel-General Central de Khatam al-Anbiya, o major-general Gholam Ali Rashid. Também foram mortos ao menos dez cientistas nucleares, entre eles Fereydoun Abbasi-Davani, ex-chefe da Organização de Energia Atômica do Irã, e Mohammad Mehdi Tehranchi.
O Mossad, o serviço de inteligência israelense, teria sido uma peça-chave na coleta de informações e na realização de operações de sabotagem dentro do território iraniano contra os sistemas de defesa antiaérea e a infraestrutura de mísseis do Irã. Isso teria facilitado os ataques contra várias cidades e instalações militares, como os quartéis da Guarda Revolucionária.
Teerã, a capital, foi uma das mais atingidas, recebendo numerosos impactos aéreos, não apenas contra bases militares ou quartéis, mas também contra edifícios residenciais. Outras cidades que sofreram ataques são Tabriz, Hamedan, Kermanshah e Bandar Abbas. Até o momento, Israel executou cinco ondas de bombardeios com a participação de 200 aeronaves e o lançamento de 330 mísseis. Um dos principais alvos foi o programa nuclear iraniano.
O Estado hebreu atacou instalações nucleares em Khondab e Khorramabad, mas concentrou-se especialmente em Natanz, na província de Isfahan, onde se encontra uma das instalações nucleares mais importantes do país. Natanz abriga duas usinas de enriquecimento: a grande Usina de Enriquecimento de Combustível (FEP), subterrânea, e a Usina Piloto de Enriquecimento de Combustível (PFEP), na superfície.
A operação israelense também atingiu duramente a cúpula militar do Estado persa, com possíveis repercussões em sua cadeia de comando. Além disso, evidenciou o alto grau de infiltração de agentes da Mossad em território iraniano.
É evidente que se trata de uma operação planejada há muito tempo, com o objetivo de executar uma decapitação semelhante à realizada contra o Hezbollah em setembro de 2024. Israel explorará essa vantagem para continuar atacando o Irã e impor novas regras do jogo nas quais o monopólio nuclear e a supremacia aérea israelense dominem o Oriente Médio.
O programa nuclear iraniano e as negociações
O ataque de Israel ocorre em meio às negociações entre o Irã e os Estados Unidos sobre o acordo nuclear iraniano (JCPOA). A sexta rodada de conversações em Omã deveria ter ocorrido no dia 15 de junho, em meio a uma crescente pressão diplomática e militar. A República Islâmica não possui armas nucleares e busca desenvolver uma indústria nuclear civil. No entanto, desde que o governo Donald Trump abandonou unilateralmente o JCPOA em 2018 e reaplicou as sanções econômicas, Teerã respondeu aumentando o enriquecimento de urânio para 60%.
Durante as negociações, os Estados Unidos têm tentado forçar o Irã a aceitar que o enriquecimento de urânio seja feito no exterior e que a indústria nuclear iraniana o importe. Esta é uma posição inaceitável para Teerã, que investiu enormes recursos humanos e econômicos na aquisição do conhecimento e da infraestrutura para ser completamente autônomo.
A República Islâmica aceita, tal como em 2015, um limite de 3,75% para o enriquecimento de urânio, um limiar que, segundo a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), cumpriu rigorosamente juntamente com as restantes cláusulas do acordo, até que os Estados Unidos rompessem unilateralmente o acordo.
O ano de 2025 é fundamental para o acordo nuclear: embora Washington não faça parte do mesmo, pode fazer com que seus aliados europeus ativem o mecanismo snapback para que as sanções internacionais do Conselho de Segurança das Nações Unidas voltem antes de expirar em outubro, quando se completam dez anos da assinatura do JCPOA.
Nesse contexto, poucos dias antes das negociações, o conselho de governadores da AIEA aprovou uma resolução acusando o Irã de violar suas obrigações nucleares pela primeira vez em 20 anos. Teerã respondeu com a inauguração de um novo centro de enriquecimento e a instalação de centrífugas avançadas.
A coincidência de todos esses fatos não é casual e responde a uma campanha coordenada. Em um momento em que Israel se fortalece regionalmente desde o 7 de outubro e em que o Eixo da Resistência está em ruínas, abriu-se uma janela de oportunidade estratégica na qual a fraqueza iraniana é evidente. Os Estados Unidos estão tentando criar as condições para obrigar o Estado persa a se submeter às suas exigências.
No entanto, os ataques israelenses vão além de uma simples manobra de pressão para forçar concessões diplomáticas por parte de Teerã. Em vez disso, a operação busca explorar a mencionada janela de oportunidade estratégica. Tel Aviv espera empurrar a situação o suficiente para conseguir gerar uma guerra, um cenário em que Washington se veja obrigada a participar como parceira militar para provocar, em última instância, uma mudança de regime na República Islâmica. Enquanto isso, a pressão militar e diplomática atuam como estratégias complementares.
Os Estados Unidos já se distanciaram dos ataques com a declaração de seu secretário de Estado, Marco Rubio, de que se trata de “uma ação unilateral” de Israel. No entanto, ao mesmo tempo, a operação foi realizada com a mais estreita comunicação e conhecimento da potência norte-americana, que consegue assim exercer uma enorme pressão sobre Teerã sem se envolver no fogo cruzado.
Israel pode, por sua vez, limitar seus ataques. Sabe que contará com o apoio dos Estados Unidos diante de uma resposta iraniana e pode assim evitar entrar sozinho em uma guerra total. Ou seja, dispõe de um freio que lhe garante um cinturão de proteção. As críticas de Donald Trump sobre um possível ataque israelense, sua insistência no diálogo ou os vazamentos de informação que apontam que já foram evitadas ofensivas anteriores mostram que certamente existe uma diferença de objetivos entre os dois aliados.
No entanto, essas aparentes divergências entre os Estados Unidos e Israel são funcionais para uma estratégia regional compartilhada, que tem como objetivo final fazer o Irã capitular. A dúvida está em quais termos: se por meio de uma mudança de regime ou da rendição total da República Islâmica.
O dilema nuclear do Irã
O Irã respondeu decretando o bloqueio total da mídia e das redes sociais, o estado de emergência nacional e o fechamento de seu espaço aéreo. Enquanto isso, o líder supremo, Ali Khamenei, emitiu um comunicado após os ataques, no qual os classificou como “crimes” e advertiu que o “regime sionista estava preparando um destino amargo e doloroso” para si.
O Irã havia anunciado anteriormente que consideraria os Estados Unidos responsáveis por qualquer ataque israelense em seu território, abrindo possibilidades de represálias contra alvos estratégicos norte-americanos na região. Por isso, Washington vem retirando diplomatas e militares do Iraque, Bahrein e Kuwait.
A verdade é que o Irã se encontra entre a espada e a parede. A estratégia seguida pela liderança iraniana desde 7 de outubro de 2023 levou o país a um ponto em que sua margem de manobra é cada vez mais estreita e limitada. Se optar por continuar no mesmo caminho, o laço continuará se apertando em torno de seu pescoço. Teerã deve decidir entre sua soberania ou evitar a guerra. Uma decisão que está cada vez menos em suas mãos.
A República Islâmica acreditou que era possível negociar razoavelmente com os Estados Unidos; que, se demonstrasse disposição para chegar a um acordo e adotasse uma atitude moderada, Israel ficaria isolado e sob controle. Ou seja, que Washington frearia as ambições israelenses. No entanto, a única condição para esse cenário é que Teerã aceite capitular diante da potência norte-americana. E, pela experiência da Líbia ou do Iraque, os iranianos sabem que essa não é uma política muito segura a longo prazo. A única garantia de soberania é conseguir a arma atômica.
As tentativas de apaziguar os Estados Unidos e evitar uma guerra regional apenas levaram o Irã a perder toda a sua defesa avançada. A decisão, após 7 de outubro, de manter uma postura de observar e esperar, agindo apenas quando sua soberania estava em jogo – em abril e outubro de 2024 –, foi um erro estratégico de primeira ordem.
A indecisão da liderança iraniana em meio ao genocídio na Faixa de Gaza deu ao Estado sionista toda a iniciativa para se recuperar e poder atacar cada um de seus inimigos regionais nas condições que considerou mais propícias. Em definitivo, conseguiu impor a guerra em seus próprios termos.
Teerã acreditou que poderia sacrificar sua defesa avançada – o Eixo da Resistência – para preservar seus estreitos interesses nacionais. No final, nunca considerou o Eixo da Resistência como uma associação de iguais, mas como o braço executor de seus objetivos regionais que poderia muito bem ser sacrificado para garantir sua própria defesa. Ou seja, o Eixo da Resistência servia para proteger o Irã, e não o contrário.
Portanto, a República Islâmica assumiu que poderia se desvincular de seu compromisso com a unidade das arenas de combate sem pagar um preço alto. Acreditava sinceramente que poderia cancelar sua apólice de seguro sem enfrentar consequências.
O Irã nunca se atreveu a se comprometer com o esforço de 7 de outubro, pois sempre teve medo de provocar a entrada dos Estados Unidos no conflito. É essa paralisia de não poder enfrentar a potência norte-americana e tentar limitar a escalada ao responder a Israel que vai selar o futuro do Estado dos aiatolás. Se continuarem a conceder toda a iniciativa a Tel Aviv, seu destino poderá ser o mesmo que o do Hezbollah ou, pior ainda, o da Síria de Bashar al-Assad. Os dias da República Islâmica podem estar contados.
(*) Tradução de Raul Chiliani